Eis que surge uma luz

Estudo divulgado pela EPL permitirá melhorar tanto o dimensionamento quanto o mapeamento dos Fluxos Inter-estaduais de carga no Brasil.

No último dia 2 de setembro, a EPL (Empresa de Planejamento Logístico) divulgou em seu site as "Matrizes do transporte Inter-regional de carga no Brasil", estudo realizado em parceria com o IPEA a partir do cruzamento e da modelagem de informações obtidas de fontes primárias (pesquisas de campo) e de fontes secundárias (base de dados oficiais do governo), tendo como principal objetivo embasar e direcionar o PNLI - Plano Nacional de Logística Integrada.

A EPL é uma empresa estatal criada em dezembro de 2012 com a finalidade de estruturar e qualificar, por meio de estudos e pesquisas, o processo de planejamento integrado da logística no país, interligando rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias. Atualmente, a iniciativa tem cerca de 100 funcionários e está intimamente ligada à Presidência da República através do ex-governador do Rio de Janeiro, Moreira Franco, recém empossado Secretário Executivo do Programa de Parcerias de Investimento (PPI).

As cerca de 200 pessoas que participaram do evento "A Hora da Cabotagem", organizado no último dia 15 de setembro pelo Guia Marítimo, tiveram a oportunidade de conhecer, em primeira mão, os resultados desse trabalho pioneiro por meio de uma apresentação de Juan Pablo Pizano, assessor técnico da EPL.

Um estudo desse tipo sempre foi bastante aguardado pelas empresas que operam na Cabotagem no Brasil, pois pode-se dizer que, nos últimos 15 anos, todos os investimentos em aumento da capacidade desse modal foram feitos de maneira empírica, baseados na vivência, nas experiências e na observação de mercado por parte de cada armador.

Para se ter uma ideia da complexidade do assunto, o próprio representante da EPL apresentou este slide, que demonstra que mesmo aquilo que se sabe até hoje sobre a participação da Cabotagem na matriz de transportes do Brasil, por meio de estudos realizados por renomadas entidades, variou bastante nos últimos anos, muito provavelmente em função de metodologias aplicadas e bases de dados utilizadas.

Além de um entusiasta da Cabotagem, muitas pessoas sabem da minha boa relação com os números e as bases de dados e, portanto, fiquei particularmente animado já que, se "no escuro", a Cabotagem já conseguiu reportar taxas de crescimento “chinesas" nos últimos 20 anos: se foram 13,3% de crescimento médio anual de 1995 a 2015, segundo dados da ANTAq, imaginem de quanto poderia ser esse crescimento alicerçado em informações confiáveis e detalhadas? Sem contar o quanto isso se traduziria em termos de redução de acidentes nas estradas, redução dos custos com manutenção das estradas, redução dos custos com avarias, redução dos custos com seguros e escoltas, redução das emissões de CO2...

Saber que o Governo, ainda que com um considerável atraso, está buscando planejar a logística do Brasil de forma integrada e que, para tanto, tem buscado as mesmas respostas que a iniciativa privada busca há anos, é, sem dúvida bastante motivador e digno de aplausos. No entanto, com o passar dos anos, aprendi a não comemorar "luz no fim do túnel" antes de colocar uma boa lupa sobre as metodologias, conceitos e bases de dados utilizadas. A EPL já disponibilizou todas as informações em seu site... bora nos debruçar sobre elas!


Escrito por:

Leandro Barreto / Sócio-Consultor SOLVE Shipping

Administrador de empresas, especializado em economia internacional pela Universidade de Grenoble e em Inteligência Competitiva pela FEA/USP. Há mais de dez anos atuando no segmento, foi gerente de Inteligência de Mercado na Hamburg-Süd, professor pelo IBRAMERC e Diretor de Análises da Datamar Consulting. Atualmente, coordena projetos independentes de consultoria com forte atuação junto a armadores, autoridades portuárias, embarcadores e entidades públicas voltadas para o desenvolvimento do setor portuário.



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