Tecnologia permite à logística acesso a uma grande quantidade de dados na tomada de decisões

COO da Rapido afirma que podemos aprender mais sobre treinamento e processos com os chineses

O que eu acredito que a maioria já ouviu sobre a China é que o país é conhecido pelo seu baixo custo de fabricação de produtos, o famoso selo “Madein China”. Mas, recentemente, participei do World O2O Expo, em Pequim, e me surpreendi ao encontrar um ecossistema de startups vibrante, num país que deu origem a alguns colossos tecnológicos como Tecent, Alibaba, Xaomi e Baidu.

Ao ouvir do CEO de uma startup que a série A dele foi de 300 milhões de dólares, notei que não somente as construções são grandiosas e imponentes por lá, mas os aportes e o dinheiro que circula também, mesmo em modelos onde não está claro como gerar receita de forma consistente e, menos ainda, a questão do lucro.

A China lidera o ranking mundial em número de smartphones, com 436,1 milhões de aparelhos. Para se ter uma ideia dessa dimensão, ela deixa bem para trás até o segundo colocado, os Estados Unidos, com 143,9 milhões de aparelhos, segundo dados do eMarketer. O que podemos concluir é que ter usuários não parece ser um problema chinês, mas, transformar esses usuários em lucro, isso sim, é o grande desafio para eles, mesmo quando o consumo e a escala são os seus principais diferenciais em relação a outros países.

Das visitas que fiz às principais startups chinesas durante a viagem, duas coisas me marcaram bastante: o treinamento e o user experience (UX).

Você contrataria uma babá para o seu filho por um aplicativo? Eu, com certeza, não. Ao ser questionado a respeito, o diretor de operações de um marketplace neste segmento, disse que os usuários se sentem mais seguros em buscar no aplicativo uma indicação que tenha sido feita por um amigo ou parente, por exemplo. Treinamento é o segredo. Quando um usuário contrata pelo app, já sabe em que padrão o serviço será executado e isso gera muita segurança. Essa percepção é fruto de intenso treinamento com os prestadores de serviço antes do seu ingresso no marketplace, garantindo um excelente nível de serviço. Porém, não estamos falando de um treinamento de duas horas, mas de uma semana, com prova ao final e acompanhamento da primeira semana de trabalho.

Outra startup que visitei e, particularmente, uma das que eu mais ansiava conhecer, era uma empresa de delivery de comida, que faz 2 milhões de entregas por dia. Tentei me preparar, baixei o aplicativo, mas não entendi quase nada, dado a barreira do idioma, e imaginei que user experience não era uma preocupação corrente das startups chinesas. Doce engano. Durante a reunião, uma executiva da empresa disse que iria pedir o café no Starbucks usando o aplicativo. Quando ela começou a explicar o passo a passo, tive aquele efeito “uau”, uma experiência fantástica, tudo pensado e no seu devido lugar no app, além do nível de serviço, chegando antes do prazo prometido, ou seja, uma experiência incrível como usuário.

Um ponto que chamou minha atenção, em especial no segmento de logística, mercado em que atuo, foi o uso de tecnologias como Inteligência Artificial e Machine Learning para o tratamento de grande quantidade de dados na tomada de decisões, utilizadas para proporcionar um melhor dimensionamento do número de prestadores de serviços e sua distribuição ao longo da região de interesse, entre outros.

Lições como estas podem ajudar nossas startups a melhorar ainda mais a eficiência no setor de serviços, principalmente no que tange treinamento e processos. Embora o mercado de O2O (online to offline) na China pareça mais maduro quando comparado ao mercado brasileiro, muito em função das particularidades já citadas, nem tudo que parece é, graças aos grandes empreendedores que temos, executando com maestria suas ideias e criando eficiência na sua cadeia de valor.

*Jhonata Emerick é COO do Rapiddo, serviço online sob demanda para entregas expressas por meio de motoboys, motoristas e bikers.

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Opinião

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