A crise econômica brasileira e o diagnóstico para 2016

PIB em queda, real desvalorizado, instabilidade política e infraestrutura precária, esses foram alguns dos episódios que assistimos em 2015. Mas, o que esperar da economia brasileira em 2016?

PIB em queda, real desvalorizado, inflação descontrolada, juros altos, falta de crédito, instabilidade política, briga de poderes, programas do governo estacionados, política externa fraca, infraestrutura precária e a escalada do desemprego, esses foram alguns dos episódios que assistimos em 2015. E o que esperar da economia brasileira em 2016?


O Brasil já começou o ano com problemas velhos, como o dólar que iniciou 2016 em alta, cotado acima de R$ 4. A desvalorização do real frente a moeda americana reflete as incertezas políticas e a piora das previsões para o PIB e para a inflação neste ano. Para os especialistas, 2016 não será um ano fácil, mas deve ser menos difícil que 2015, e a solução para a crise econômica é o fim da instabilidade política.


Parceira do Grupo Guia, a equipe da Cargo News trouxe o assunto a tona e conversou com professor de Economia & Finanças da Fundação Dom Cabral, Rodrigo Zeidan, e o economista Mauro Rochlin, professor de Economia dos MBA´s da Fundação Getúlio Vargas - FGV.


Qual o diagnóstico atual da economia brasileira?


Zeidan: O diagnóstico da economia brasileira está quase perdido, na verdade a crise que estamos passando é grave, sem confiança não tem investimento. A demanda interna do país vem caindo e para 2016 não vai ser diferente.


Rochlin: O governo buscando manter o crescimento econômico fez uso de recursos que ele não tinha condições de usar, por meio de endividamento, financiou uma política de gastos, cujo objetivo era tentar sustentar o crescimento. Por outros motivos, não houve crescimento, e o governo ficou com uma dívida muito pesada, sendo assim, identificamos dois problemas, o primeiro é o endividamento do governo, o risco que isso representa, e o segundo é o fato dele ter que reduzir gastos para poder enfrentar a dívida, essa redução de gastos também gera efeitos prejudiciais a economia. Enfim, esse é o quadro que a gente pode traçar para o cenário atual.


Como o cenário atual irá afetar o comércio exterior brasileiro nos próximos anos?


Zeidan: O comércio exterior é o único sinal positivo que a gente tem para 2016. A desvalorização capital vai fazer com que as empresas que não estão exportando venham ao mercado.


Rochlin: Com o dólar em alta, na casa dos R$ 4, torna o setor exportador muito mais competitivo do que ele era há alguns anos atrás. Esse dólar que ajuda a exportação, também atrapalha a importação, então, a indústria nacional que briga com o importador tem vantagem na hora que o dólar ficar caro, o setor exportador, em particular a indústria, a partir de um câmbio mais alto, pode encontrar no exterior um ambiente mais favorável, ela vai se tornar mais competitiva lá fora. Então, o setor industrial, mesmo o não exportador, vai ganhar com o dólar mais alto. Principalmente os setores industriais e commodities que depende de cotação internacional.


Há quem defenda que vivemos uma crise mais política do que econômica, como a falta de credibilidade pode afetar o futuro do Brasil?


Zeidan: Com certeza é uma crise econômica.


Rochlin: Eu acho que é uma crise econômica, que tem influências políticas e cujas saídas teriam que ser lideradas por decisões políticas. Eu concordo que a crise tem função de componente político, mas a crise econômica poderia não estar aqui, a crise econômica poderia ser essa, lava jato, questionamento sobre corrupção em altos escalões do governo e a economia podia estar andando muito bem. Na verdade, a economia vai mal porque decisões de políticas macroeconômica erradas foram tomadas nos últimos anos. Mesmo sem crise política haveria crise econômica. A crise econômica tem uma dinâmica própria eu diria, ou pelo menos em suas origens são de cunho econômico.


O governo havia divulgado um plano de incentivo a infraestrutura logística, porém com os ajustes fiscais parte deste plano pode não sair do papel, há como o setor privado contornar o déficit logístico brasileiro sem contar com a ajuda do governo?


Zeidan: Teria como o setor privado contornar o déficit logístico brasileiro sem contar com a ajuda do governo se o governo quisesse fazer privatizações sérias. O cenário dos orçamentos permite grandes obras de infraestrutura somente para o setor privado, a não ser que você mude a orientação do governo para obras privadas e privatizações na qual o setor privado possa ter ganhos sozinhos.


Rochlin: Eu acho que é difícil por dois motivos, primeiro o ambiente de curto prazo é muito pouco convidativo a entrada de empresas no setor. Se bem que o setor de infraestrutura tem demanda reprimida, apesar da crise, existem vários gargalos em termos de infraestrutura que podem ser aproveitados, mas é necessário que o governo transmita confiança, gere segurança jurídica para as empresas. Estamos vivendo um momento de muita incerteza, temos uma ameaça de impeachment, os presidentes da Câmara e do Senado sendo investigados, então, enquanto houver esse ambiente de deterioração geral das instituições , enquanto ficar essa impressão de que atravessamos o ápice de uma crise, é um pouco difícil pensar que as empresas estarão dispostas a se lançar em novos investimentos , mas se houver um ambiente mais estável , eu acredito que as empresas sejam capazes de voltar a investir, mas nesse cenário que o governo precisa fazer ajuste fiscal, não.


Você acredita em uma nova política externa do Mercosul com a eleição do novo presidente argentino, Mauricio Macri? Como o Brasil pode reagir a esta mudança em favor da política nacional?


Zeidan: Acredito que sim, na verdade o Mercosul, a força positiva da argentina é desproporcional do resto dos parceiros, infelizmente não vejo no governo brasileiro nenhuma disposição em tecer novos acordos comerciais que poderia beneficiar.


Rochlin: Infelizmente tanto o Brasil como a Argentina sofrem de um mesmo mal. Os dois governos fizeram política altamente expansionistas, ou seja, ambos gastaram demais nos últimos anos e levaram as contas públicas aos frangueados e os dois lados buscam uma recuperação, sendo assim, acho difícil imaginar que haja condições políticas para um avanço maior do Mercosul. Lembro que a Argentina já foi a principal parceira comercial do Brasil à frente da china e EUA, e este posto nos últimos 5 anos foi perdido para a China e para os Estados Unidos, por questões de políticas, problemas de países membros que não são exatamente problemas relativos ao Mercosul, as regras e aos protocolos de comércio, por exemplo. Hoje, eu vejo o Mercosul com muito ceticismo, até porque o Macri tem um entendimento muito diferente do que o governo brasileiro vem mostrando em termos, por exemplo, da Venezuela no grupo. Então, eu não diria que o governo do PT e o governo do Macri morram de amores uns pelos outros.


Você vê oportunidades ainda não exploradas no atual cenário para o mercado de comércio exterior? Há remédio para que o Brasil volte a crescer, retomando a promessa de ser uma potência mundial?


Zeidan: O Brasil é o país mais fechado do mundo. Potência mundial é uma coisa de ego, é um país de classe média. Há uma possibilidade pequena, mas há de o Brasil voltar a crescer em 2017.


Rochlin: Em termos de comércio internacional, o Brasil nunca teve uma expressão mais relevante, a nossa participação no comércio internacional em termos percentuais é sofrível, o país não participa 1% do comércio mundial. O Brasil tem uma presença muito acanhada, o que percebemos é que essa corrente de comércio andou para trás nos últimos anos. Esse ano então a queda expressiva na exportação e na importação. Claro que o câmbio vai ajudar em uma recuperação eu acho.

O que eu recomendo é rezar, rezar bastante para que 2016 seja um pouco melhor.





Rodrigo-Zeidan-(1)600 Rodrigo Zeidan, é doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e Professor da Fundação Dom Cabral - FDC, nas áreas de Economia & Finanças e Visiting Associate Professor na NYU Shanghai.



 Mauro Rochlin, é doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro –UFRJ, Mestre em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RJ e professor de Economia dos MBA´s da Fundação Getúlio Vargas - FGV.

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