Canal do Panamá exige uma nova realidade

Necessidade de portos mais preparados e um comércio internacional impactado positivamente. A indústria naval também agradece.

Inaugurado no dia 26 de junho, o Alargamento Total do Canal do Panamá, após nove anos de modernização, trouxe novos parâmetros e necessidades para o setor. (Leia no Guia). A um custo de R$ 18,4 bilhões, o canal vai aumentar mais do que duas vezes a sua capacidade. Navios que contém até 14.000 containers a bordo estarão aptos a passar pelo local a partir da reestruturação. Mas até que ponto o Brasil sairá ganhando com isso?

Para o Diretor Superintendente da Maersk Line na Costa Leste da América do Sul, Antonio Dominguez, a resposta é clara: o impacto global é imediato para a América do Sul, mas costa leste ainda tem inversões de dragagem e infraestrutura. “Acho que o impacto do canal do panamá para o Brasil não é imediato pois o País ainda precisa fazer sua tarefa como já fez Chile, Peru e outros países de investir em infraestrutura para ter acessos a navios maiores e melhor competitividade em seus portos”."Os portos no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai precisam de muitas melhorias em infraestrutura. E o principal gargalo é a dragagem”.

De acordo com Dominguez para os países da América do Sul são duas realidades muito distintas. “Os países da Costa Oeste sentirão um impacto maior e imediato. Equador, Chile e Peru já prepararam seus portos no quesito dragagens e já podem atrair navios maiores para os seus portos e se beneficiar dessa expansão”.

Ao contrário dos países da Costa Leste, aponta, como o Brasil. “Aqui a realidade já é distinta, porque os portos no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai precisam de muitas melhorias em infraestrutura”. E ressalta: “O principal gargalo é a dragagem”.

Ele destaca que o País precisa priorizar investimentos e dar prioridade as dragagens tanto no canal de acesso, como na área de operações dos navios, fator esse que não está sendo feito, com destaque para um dos principais portos do País: Santos. Dominguez lembra ainda que os novos navios que passam pelo Canal, os chamados “new Panamax” precisam de 15 metros de calado, quando a realidade brasileira em alguns portos, como o de Santos é de 12 metros. “Em alguns lugares como o Sul do Brasil chega a ser menos, 10 metros de dragagem e existem lugares com calado ainda menor. É preciso ainda muito investimento da infraestrutura portuária para que o Brasil se beneficie a curto prazo com a expansão do Canal do Panamá”, aponta.

“O Porto de Santos em vez de melhorar está perdendo dragagem, japerdeu meio metro. É preocupante, porque você não consegue trazer esses navios para cá”, pondera, lembrando que fora isso são necessários investimentos em infraestrutura de rodovias e ferrovias. “Infraestrutura logística em primeiro lugar”, completa.

Comércio internacional

“Cerca de 5% do comércio marítimo global passa pelo canal do panamá”, lembra Dominguez. Pensando na capacidade dobrada desde o seu alargamento – passando de navios de até 5 mil Teus para navios de até 14 mil Teus – o executivo destaca a capacidade quase triplicada do canal e o impacto positivo. “O impacto para o comércio marítimo global é bem considerável, é um impacto grande. A maior rota atual pelo canal do panamá é a rota Ásia – Costa Leste dos EUA, sendo que 60% do comércio que passa pelo Canal passa por essa rota”, comenta.

O canal que tem como principal concorrente o Canal de Suez poderá ainda recuperar serviços perdidos no passado. O Diretor Superintendente da Maersk Line na Costa Leste da América do Sul conta que a anos atrás alguns serviços da companhia foram movidos para o Canal de Suez porque nas rotas escolhidas o Canal do Panamá não comportava. “Nós precisávamos de rotas com navios maiores e o Canal do Panamá não conseguia dar serviços para esses navios. Agora com a expansão do canal estamos com a esperança de voltar com esses serviços, mas isso depende muito dos preços dos fretes que o canal fará para o comércio marítimo”.

Coincidindo com um período em que a indústria naval enfrenta uma recessão, Dominguez afirma que qualquer melhoria de infraestrutura é importante para a indústria. E destaca: “Uma obra como o canal do panamá que representa realmente uma obra impressionante e que impacta de uma maneira significativa no comércio internacional é ainda mais importante”.

No que se refere a indústria, ele destaca ainda que uma possível redução de custos poderia ser uma ajuda. “Seria muito importante para a indústria nesse momento uma redução de custos, mas isso vai depender muito da oferta e demanda do mundo inteiro”, diz.

2016: Sobre o ano, Dominguez diz enxergar uma luz no fim do túnel, mesmo que ainda moderada. “Esse ano continuará sendo um ano difícil, mas já dá para ver uma luz no final do túnel. Nós ainda estamos vendo queda nas importações, porém menor, uma melhoria significativa nas exportações. O Brasil se tornou uma economia exportadora. É um olhar cauteloso, estamos moderadamente otimistas, mas vendo sim uma luz no final do túnel”, finaliza.

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