Propósito, transparência. E muito trabalho

Evento da Fiesp para jovens empreendedores reúne líderes para abordar a situação econômica e as perspectivas do País

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) promoveu, nesta terça-feira (01), o Congresso do Comitê de Jovens Empreendedores, cuja proposta central seria incentivar novos profissionais a “reinventar”. Segundo Paulo Skaf, presidente da entidade, “é tempo de mudar tudo. E descobrir novas possibilidades”. Para ele, o cenário político é de retomada da confiança no Brasil, de focar no crescimento do país. “Precisamos ter limites, orçamento, um teto”.

sReferindo-se à chamada Revolução 4.0 e às fortes guinadas que a tecnologia causou em todos os mercados mundiais, Paulo Skaf lembrou também que é necessário que atendamos os problemas do país, porém sem nos distrair do que está acontecendo no mundo. “Aqui no Brasil, não tinha jeito, com a economia despencando, não havia trabalho a se fazer se não fosse atendido o cenário maior. Assim, tivemos de ajudar o país, dentro da legalidade, para chegar à retomada da confiança. Agora é hora de nos concentrar na retomada do crescimento do país – nas questões macro e grandes reformas, mas paralelamente temos de focar nas questões do dia a dia das pessoas e da sociedade".

Alta performance - O presidente do Grupo Suzano, David Feffer, falou de sua trajetória pessoal e profissional, e deixou mensagens para os jovens estreantes no mercado: “vivemos uma revolução silenciosa no universo da economia, da indústria e da ciência, que pode trazer benefício para milhões de pessoas, porém ela vai transformar radicalmente o mundo e, se não nos dermos conta, vamos ficar atrelados ao passado”, alertou, também com referência à tecnologia.

Feffer pontuou sua palestra com dicas de negociação, de postura diante do erro e aprendizado, de perspectivas para o futuro e, sobretudo, da importância de manter um propósito firme. Diante da velocidade exponencial com que se desdobram os negócios, o executivo afirmou que, hoje, a vocação das empresas não é mais atingir o lucro, mas sim “transformar pessoas”.

Com otimismo, o presidente da Suzano avaliou: “o Brasil de hoje está em transição, voltando para o lugar que lhe cabe; um país maravilhoso de grandes empresas por conta das pessoas de alta performance que estão nelas. Temos profissionais com muito preparo, há executivos brasileiros competentes liderando empresas no mundo inteiro”.

Com essa afirmação, ele fez um convite à plateia jovem para que se envolva mais na construção da nação, uma vez que, segundo Feffer, é justamente isso o que está faltando no setor público: “mais gente de alta performance trabalhando, participando”. E, antes de responder às perguntas da plateia, lançou aos jovens a pergunta: “Qual é o amanhã que a gente quer, e o que podemos fazer para que o Brasil seja aquele que queremos?”

Quadro clínico - Com uma trajetória que inclui a presidência do Banco Central do Brasil, o conselho do JP Morgan, e da China Invest Corporation, entre outras instituições financeiras internacionais, o economista e fundador da Gávea Investimentos, Armínio Fraga, reconheceu a dificuldade do momento que estamos vivendo, e traçou paralelos com a medicina: “fomos lidando com alguns genes complexos e dinâmicos, que são fatores impossíveis de se modelar com precisão, e agora o quadro monetário é uma espécie de doença grave que precisa ser tratada com cortisona: um medicamento de emergência que ajuda a conter ou reverter a situação, mas que, se utilizado em excesso, pode prejudicar o paciente, além de não ser a solução para resolver tudo”.

Com uma breve explicação sobre o histórico da economia brasileira nas últimas décadas, Armínio Fraga afirmou que, entre os seus aprendizados na carreira, a principal lição é a clareza nas regras, mesmo que os resultados demorem. “Há no mercado um certo cutro-prazismo”, brincou.

Hoje, há muita coisa fora do lugar, muita coisa para arrumar, e isso pode ser uma boa oportunidade. Com um gráfico que ilustra a posição do PIB brasileiro em relação ao dos Estados Unidos, o economista ilustrou as tentativas frustradas do Brasil em transpor a fronteira dos padrões de produção global, nas últimas quatro décadas, e atribuiu os insucessos às crises econômicas: “é difícil crescer se, a cada dez anos, se tem uma crise”.

Declaradamente de postura liberalista, o economista avalia que o Brasil sempre teve “uma presença imensa do estado na economia”, lembrando que, em sua opinião, o estado precisa estar presente, porém “a presença em alguns setores não faz muito sentido”.

A mão do Estado - Segundo Fraga, a privatização trazida à tona no início da década de 1990 e a abertura do mercado, com a atribuição do papel de regulador ao Estado trouxe certo alento ao país, porém trouxe também outras crises. Com o aumento do crédito, o economista avaliou que a entrada do governo do PT foi satisfatória, no início do milênio, e gerou uma fase “boa” para as commodities. Porém, para ele, na última gestão petista, “já embalada por uma guinada estranha na direção do modelo que deu errado lá atrás [predominância do Estado], o governo abandonou o modelo de regulação transparente, e passou para um sistema de concessões indiscriminadas de subsídios que geram proteção contra a concorrência externa, além de um agigantamento do setor financeiro público – um modelo que deu errado, e insistir nisso é, para mim, apavorante”, acrescentou.

Armínio Fraga atribuiu justamente à perda de controle fiscal a queda nos preços das commodities, depois do “boom” que as fizera crescer quase em linha reta no governo Lula. “Foi radical perda de controle fiscal o que nos colocou em uma situação delicada. Da perda de 6 pontos do PIB, metade pode ser creditada ao aumento dos gastos, e metade à perda de receita. E, dessa perda, metade foi por conta da recessão e metade, por desoneração de gastos”, explicou, também levantando a importância da PEC 241, que não considera definitivas, mas “estanques”. Paulo Skaf mencionou as medidas da PEC 241 como “fundamentais”, afirmando que, se tivessem sido aprovadas dez anos antes, a dívida pública brasileira seria seis vezes menor.

“Do lado micro”, continuou, “a nossa máquina está estragada: temos um país bastante difícil de se investir, um sistema tributário bem complicado, a exemplo do ICMS, que é um desafio imenso do Brasil com ele mesmo, além de problemas seríssimos de infraestrutura”. O mais natural, segundo ele, seria investir na infraestrutura, claramente o setor mais carente, porém “a hora é muito complicada, e o crescimento não virá noite para o dia, dada a execução muito complicada e a situação, muito precária”. Sem se distanciar da opinião geral de especialistas, Armínio Fraga lembrou também a necessidade de se trabalhar o “Custo Brasil”, porém trouxe certa esperança em suas palavras: “O Brasil é um país que funciona. Se comparado aos países do Brics, é o mais ocidental de todos, e aqui as coisas acontecem minimamente. Só precisamos resolver essas coisas, e criar condições para ele”.

Mais uma vez, Fraga ressaltou a importância da transparência e do trabalho: “Luz do dia: reconstruir a partir de uma base melhor. Não temos obstáculos físicos, mas vamos ter que nos organizar melhor – e trabalhar muito.

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