Acompanhar as mudanças para prever os mercados

Especialista em comércio internacional avalia a posição do Brasil e recomenda melhores parcerias

Reduzir as barreiras tarifárias. Promover a integração do Brasil com a cadeia global. Melhorar o ambiente regulatório e, com ele, a rede de infraestrutura para aumentar a competitividade do país por meio da logística eficiente. Reformular e aprimorar as bases e o propósito das parcerias regionais, não apenas com foco em acordos aduaneiros, como o Mercosul. Nada de novo e, ainda assim, metas sempre distantes da realidade do comércio exterior brasileiro foram abordadas no Fórum de Comércio Exterior promovido pela Folha de São Paulo nesta terça-feira (25).

Em sua apresentação, o professor de Comércio e Investimentos Internacionais de Harvard, Robert Lawrence, colocou em perspectiva a economia global dos primeiros anos do século XXI. Com estatísticas, ele demonstrou que, em nove anos, os países emergentes dobraram a sua representatividade no comércio mundial (de 20% em 2004 para 40% em 2013), alterando, portanto, toda a cadeia de suprimentos – e as relações entre os países do globo.

Dessa necessidade de incluir as economias emergentes não apenas em negociações como também em regulamentações mundiais, ganharam importância os tratados internacionais, como as rodadas de Doha, regidas pela OMC (Organização Mundial do Comércio), com o propósito de reduzir barreiras e promover o livre comércio. No entanto, sem condições (ou intenção) de aceitar as concessões exigidas pelos grandes acordos, os países não conseguiram chegar a um consenso suficiente para se concretizar.

Segundo Dr. Lawrence, a “flexibilidade” constantemente reivindicada pelos países emergentes diante das determinações dos tratados mundiais muitas vezes nem traz tantos benefícios ao país, que acaba por diminuir a sua arrecadação tributária, aumentar as barreiras e impedir a competitividade de seu comércio. O professor não defende que todos os países se submetam às normas internacionais da OMC – pelo contrário, afirma que a organização deve reconhecer e incentivar os tratados diretamente estabelecidos entre as nações, como a TPP (Parceria do Transpacífico), a do Atlântico, a Pacific Alliance e a TiSA (Trade In Services Agreement).

Outro fenômeno apresentado pelo Dr. Lawrence foi a mudança de padrão de consumo mundial, com menos ênfase nos produtos e mais nos serviços, o que tem gerado uma sensível redução na circulação de mercadorias, assim como as tendências avessas à globalização.

Citando a clássica frase do idealizador da IBM, Thomas Watson, que, em 1943, disse que o mercado mundial estaria preparado para cerca de 5 computadores no máximo, Robert Lawrence lembrou o quanto é difícil fazer previsões quando se trata de economia global. Porém deixou claro que é sempre necessário considerar uma série de fatores, como a tecnologia e a oscilação de mercados, além de avaliar constantemente as tendências de consumo.

Para o Brasil, o especialista deixou mensagens já conhecidas e, nem por isso, dispensáveis: precisamos investir em infraestrutura, melhorar os padrões administrativos das corporações (compliance) e buscar equilibrar a participação do País no comércio mundial por meio da exportação de produtos de maior valor agregado, embora sem deixar de lado a importância da agricultura como foco principal da pauta. Além disso, é necessário encontrar políticas que permitam ao País aproveitar as oportunidades do comércio internacional, aumentando a produtividade da economia – e, consequentemente, o padrão de vida da população.

Quanto aos acordos internacionais, o Robert Lawrence avaliou: “não acho que o Mercosul tenha obtido êxito. Acredito que há outras iniciativas mais bem-sucedidas, e que elas devam estimular o Brasil a se manifestar nesse sentido”.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.