Recuperar a credibilidade passa por ajustes e sobretudo comprometimento

Fórum para discussão da situação econômica do Brasil aborda a necessidade de manter políticas sociais e traçar estratégias de longo prazo

Já é possível visualizar o rumo adotado pela equipe do novo governo? Com essa questão, o colunista da Veja abriu o painel do evento organizado pela publicação para discutir o futuro da economia do Brasil. Segundo Paulo Leme, presidente do Goldman Sachs, “os primeiros sinais são bons: já se vê menor participação do Estado com mais presença do setor privado e um cenário encorajador”.

O painel “Como recuperar a credibilidade do Brasil” teve também a presença do economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e diretor do Insper, Ricardo Paes de Barros. Em seguida, foi a vez da palestra do Ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que discorreu sobre a questão fiscal e as perspectivas do Brasil (Leia no Guia) e o bate-papo entre os juízes Luis Roberto Barroso, Ministro do STF, e Sérgio Moro, cujo trecho você pode assistir na página do Facebook do GrupoGuia.

O grande desafio do Brasil, para Ricardo Paes de Barros, está em manter os grandes progressos sociais conseguidos nos últimos 15 anos, porém com foco na superação da crise fiscal. “O novo governo já entendeu que deve superar a crise fiscal sem abandonar a ideia de um pais solidário no combate à pobreza, de modo a manter e aprofundar ganhos sociais com responsabilidade social”. Paes de Barros realçou que a aprovação de medidas para dar início ao combate à crise vai depender da liderança e, para ele, a nova equipe já mostrou que não vai ter dificuldade de negociação ou diplomacia. Otimista, Paulo Leme concorda com a habilidade do novo governo em traçar estratégias para a saída da recessão, porém diz que “não subestimaria o desafio”, uma vez que, na grande e profunda crise em que se encontra o país, “se não houver decisão política, as variáveis que permeiam o modelo levarão à inflação”. Ele coloca a necessidade de se compreender que a prioridade está no conhecimento de que a solução econômica deve ser um programa plurianual, sequenciado, com clara definição de “para onde queremos ir, e como chegaremos”.

Ao preparo do novo governo, Leme acrescenta ainda que enxerga menor resistência política nos dias de hoje, com uma sociedade que busca consolidação da credibilidade, não só no mercado financeiro como junto ao empresariado. “Estamos dando muita ênfase à parte fiscal, o que é correto, porém precisamos compreender que temos uma situação extremamente complicada de balanço patrimonial, e o país precisa de crescimento, de investimento privado, o que passa pela resolução do problema das empresas, afetadas pela situação econômica. Esse é o motor que está faltando”.

Ricardo Paes de Barros apontou também que o país está muito preocupado com ações imediatas, assim como a imprensa, porém é importante olhar para o planejamento de longo prazo: “a crise fiscal é mais profunda do que a gente acha; gastamos mais do que 75% do resto dos países no mundo e devemos neste momento definir que tipo de sociedade quereremos ter – e qual a carga tributária que queremos. Em seguida, devemos nos comprometer: desequilíbrio fiscal, nunca mais”. Assim como Paulo Leme, Ricardo afirmou que o Brasil não vai crescer com investimento público, mas sim privado e que, para isso, é necessário incentivar novos marcos legais para atrair investimentos sólidos.


"O novo governo já entendeu que deve superar a crise fiscal sem abandonar a ideia de um pais solidário no combate à pobreza"Ricardo Paes de Barros

Tanto o diretor do Insper quanto o presidente do Goldman Sachs estão certos de que há investidores no mundo esperando pela estabilização do Brasil para começar a dirigir recursos para o nosso País, porém ainda precisamos trabalhar fortemente pontos como a produtividade, investimento em tecnologia, regras mais claras e estáveis e ambientes de negócios menos complexos. “Hoje em dia, a grande maioria dos projetos morre no departamento de compliance das empresas”, ilustra Paulo Leme.

Ao concluírem o painel que abordou as saídas para retomar a credibilidade brasileira, ambos os executivos disseram acreditar que o momento trará escolhas difíceis, porém é preciso definir responsabilidades, traçar planos e adotá-los para sempre, marcando o comprometimento com o ajuste fiscal, assim como com a continuação das ações para a queda da desigualdade e melhoria dos indicadores sociais e educacionais. “Nossos 40% mais pobres têm 10% do PIB, ou seja: eles não são responsáveis pela recessão, tampouco podem ser penalizados pelo ajuste”, completou Ricardo Paes de Barros.

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