Cadeia global de suprimentos posta à prova

Índice revela que os riscos ligados à cadeia global de suprimentos aumentaram pelo segundo trimestre consecutivo, e mostra a capacidade de cada região em se prevenir contra a interrupção dos serviços

O índice internacional de riscos sobre a cadeia global de suprimentos cresceu, de 79,3 no último trimestre de 2015, para 79,8 no primeiro trimestre de 2016, o patamar historicamente mais alto para um primeiro trimestre desde o início da série histórica, em 1995, quando se avaliavam as regiões do Norte da África, Europa Ocidental, Ásia e América Latina, todos eles apresentando aumentos iminentes no índice de risco sobre a cadeia de suprimentos. Elaborado pelo CIPS (Chartered Institute of Procurement & Supply), o índice foi analisado pelos especialistas econômicos da Dun & Bradstreet, com foco no impacto da situação política e econômica de cada região sobre a estabilidade das cadeias globais de suprimento.

Apesar do terremoto de magnitude 6,4 ocorrido em Taiwan, e de 5,8 no Japão, não foram os desastres naturais os maiores impactos sobre a cadeia de suprimento. Por ter estabelecido regulamentações planejadas para prevenir danos generalizados depois do terremoto catastrófico de 1999, os asiáticos parecem ter tornado a estrutura de suprimentos na região muito mais resiliente, embora a destruição do complexo residencial Weiguan Golden Dragon tenha lembrado aos países que as regulamentações não vêm sendo exatamente cumpridas.

A indústria de eletrônicos de Taiwan conseguiu restabelecer a produção com certa agilidade, utilizando as reservas de estoque para cobrir as falhas inevitáveis. A TSMC, um dos principais fornecedores da Apple para o iPhone, declarou que somente 1% dos embarques seriam afetados pelos danos causados às suas instalações industriais, enquanto outros fabricantes, incluindo os de painéis LCD e chips, relataram que suas plantas conseguiram fechar a tempo, e iniciar operações sem sofrer qualquer dano.

Enquanto isso, no Japão, os fabricantes também se declararam bem preparados, tendo expandido seus estoques e adotado um sistema de fornecimento múltiplo, de modo a prevenir que se repetisse a ruptura dramática que o país sofreu nas operações no terremoto de 2011.

Na realidade, o pequeno aumento de risco registrado na região asiática neste trimestre (de 26,68 para 26,79) não veio de causas naturais, mas sim de problemas com os baixos preços das commodities na Nova Zelândia e Austrália, assim como da retração econômica da China, que passa também por alguns problemas trabalhistas.

No entanto, enquanto a Ásia conseguiu de fato conter os impactos dos desastres naturais, o mesmo não se pode dizer das outras regiões, como a África, por exemplo, que sofre com a seca causada pelo El Niño – muito embora a proporção de embarques da região seja tão pequena que somente tenha contribuído com 2,47 dos 79,8 pontos que caracterizaram o índice de riscos no trimestre.

Na Europa Ocidental, o ligeiro crescimento no índice de risco (23,77 para 23,98) esteve ligado aos ataques ao aeroporto de Bruxelas (Leia no Guia), que influenciou na intensificação das ações de extremistas de direita na França e Polônia, com os clamores para se abandonarem as zonas livres e a potencial diminuição do fluxo de mercadorias na Europa toda.

Em palestra na Escola de Administração Cranfield, o economista da CIPS, John Glen, afirmou: "O atual Índice de Riscos mostra que a falta generalizada de confiança entre as empresas pode ser tão prejudicial para as cadeias globais de suprimento quanto um desastre natural”, completando ainda que o enfraquecimento da cadeia também pode resultar de uma “falta de compreensão cultural entre os representantes de cada instituição”.

A instituição acredita que pensar na cadeia de suprimentos com previsão pode identificar os riscos e evitar rupturas, e que as experiências do Japão e Taiwan nos mostram que “mesmo os mais traumáticos acontecimentos podem ser contornados com segurança".

Em tempo: o terremoto ocorrido no Equador, de magnitude 7,8, não foi avaliado nessas mesmas estatísticas por ter acontecido no segundo trimestre do ano, em 16 de abril de 2016.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.