“Comércio exterior não pode ser uma válvula de escape”

Embaixadores e representantes de associações discutem no Enaex os problemas enfrentados pelo Brasil no mercado mundial

Ao abrir o Enaex 2016 (Encontro Nacional de Comércio Exterior), o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior), José Augusto de Castro, afirmou que o fato de o câmbio não ser uma variável “controlável” faz com que seja primordial para o crescimento do comércio exterior no País ater-se aos custos. Segundo Castro, o Brasil ainda precisa “rezar” para que a China continue comprando as nossas commodities, agora que o Brexit e a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos devem reduzir o avanço do comércio mundial.

O evento começou nesta quarta-feira (23) no Rio de Janeiro, e tem duração de dois dias. Também participaram da abertura o ministro interino do MDIC, Marcos Jorge de Lima; os embaixadores do Brasil nos Estados Unidos, Sergio Amaral, e na China, Marcos Caramuru, bem como o vice-presidente da Firjan, Carlos Mariani Bittencourt; o presidente da CNA, Antônio Mello Alvarenga; e os ex-ministros Ernane Galvêas e João Paulo dos Reis Velloso.

José Augusto de Castro ressaltou que custo Brasil ainda é muito elevado e encarece as exportações brasileiras entre 30 e 35%. Citou como necessidades para melhorar a competitividade do País as reformas tributária, trabalhista, previdenciária, além da necessidade de mais investimentos em infraestrutura, principalmente na área portuária. Porém, alertou para a necessidade de integração: "Qualquer mudança depende de nós mesmos, sendo necessário um melhor entrosamento entre os setores privado e governamental para que tenhamos um mundo melhor, sem depender da taxa de câmbio para exportar, sobretudo manufaturados, e crescer".

Carlos Mariani Bittencourt disse lamentar que os ganhos obtidos pelas exportações do Brasil estejam sendo anulados por dificuldades no desembaraço aduaneiro, o que faz do País a nona economia mundial, mas apenas o 27º exportador. "O comércio exterior não pode ser uma válvula de escape para a queda da demanda no mercado interno. Precisa ser uma política de Estado", afirmou o presidente da Firjan.

Globalização - No segundo painel do dia, "Estados Unidos e China: Mercados Especiais, Atenção Prioritária", o embaixador Sergio Amaral disse que a globalização chegou a um “ponto de fadiga”, tendo deixado de promover as compensações esperadas em termos de renda e emprego para as populações, o que explicaria, em parte, movimentos de isolamento e protecionismo, com o Brexit e a eleição de Donald Trump.

Amaral afirmou que ainda não é possível prever o que acontecerá no Governo Trump, e tampouco se as relações entre EUA e China serão conflituosas. "Ainda há uma incógnita sobre como será o Governo Trump. Os analistas políticos no momento viraram meros adivinhos. Trump terá de acender uma vela a Deus e outra ao Diabo”, disse o embaixador.

Já para Thomaz Zanotto, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Direx/Fiesp) e também da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o Brasil está longe de ser a principal preocupação de Trump. “A retórica protecionista americana poderá limitar o crescimento do comércio global, mas não deverá haver nenhuma ação específica contra o Brasil ou mesmo contra a Argentina, ao contrário do México. Para os EUA, o Brasil é ‘non issue’. Além disso, os EUA têm superávit com o Brasil, e, em termos de manufaturas, o comércio entre os dois países se dá ‘intracompany’ (entre filiais e matrizes de uma empresa)”, destacou.

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