Promover a integração nacional minimizar custos: era esse o objetivo da criação da Ferrovia Norte-Sul. Mas, onde estarão os trens? O caso virou praticamente uma lenda; o projeto de ligar a Amazônia ao Rio Grande do Sul por trilhos se arrasta por quase três décadas e, até hoje, nada. Na semana passada, o governo anunciou um novo pacote de concessões e privatizações (Leia no Guia) no qual a Norte-Sul aparece como prioridade do governo entre o trecho que liga Porto Nacional, no Tocantins, a Estrela d’Oeste, em São Paulo.

Com um trecho de 855 quilômetros prontos e outros 600 quilômetros com obras em andamento, a Ferrovia Norte-Sul já fazia parte do programa de concessões. A ferrovia baiana Fiol é velha conhecida do setor e também enfrenta graves dificuldades de execução, sem ter, atualmente, uma data prevista para sua conclusão ou mesmo um traçado definitivo.

Concebida com o propósito de ampliar e integrar o sistema ferroviário brasileiro, mesmo aparecendo como “prioridade” nessa concessão, o que se vê é um completo descaso em relação à ferrovia, que hoje está abandonada. Levando em conta que os primeiros leilões estão marcados para o primeiro trimestre do ano que vem, e que mesmo depois deles o investimento não será imediato, fica claro que o governo também pretende, com o anúncio, simplesmente gerar expectativa positiva.

O resultado: o último trecho concluído está mesmo sem uso. Vale lembrar que a ferrovia foi inaugurada em período eleitoral, porém, na prática, está parada, exatamente porque não andou o projeto de concessão e, como se não bastasse, há denúncias de ilegalidades.

Agora, novamente, estamos em período de eleições federais, e a ferrovia aparece mais uma vez como “prioridade”. Coincidência ou não, a expetativa é de que o projeto realmente saia do papel e a ferrovia possa fazer seu trabalho – transportar seus commodities de forma competitiva – mas, para isso, os trilhos precisam ser pelo menos instalados.