Foco na eficiência e nas operações marca A Hora da Cabotagem

Em um mercado global que muda a cada 18 meses, o Brasil luta pela competitividade, porém esforços e participação ainda são imprescindíveis

*por Martin von Simson 

Para os que não me conhecem do mercado, eu vim originalmente do setor rodoviário, que, no passado, tinha certas vantagens sobre outros modais, como incentivos fiscais para renovação de frota, abaixo das taxas de mercado, melhores negociações de preço e maior cobertura de infraestrutura. Competiam com modais cuja estrutura e equipamentos pertenciam ao governo, ou que usavam bens públicos, nos quais não havia interesse no desenvolvimento da eficiência e competitividade por conta da economia fechada. Durante muitos anos o Brasil não vi u oportunidades – e nem incentivos – para crescer, o que virou um problema muito sério assim que testemunhamos a abertura dos mercados globais.

Há duas décadas, acompanhamos de perto o início da privatização dos portos, com discussões férteis em todas as esferas, a criação do Operador de Transporte Multimodal, a descoberta da necessidade de se mudar os paradigmas do transporte brasileiro. Foi nessa época que teve origem a Feira Intermodal South America, em 1995, fruto de uma percepção do Guia Marítimo de que o mercado necessitava de uma plataforma de encontro entre embarcadores e operadores de transporte, infraestrutura e agentes reguladores.

Hoje a Intermodal pertence e é administrada pela empresa internacional de eventos UBM, porém o Guia Marítimo segue no seu propósito inicial, que não é favorecer um ou outro modal, mas sim trabalhar pelo desenvolvimento e competitividade do país por meio da eficiência logística. Na Alemanha, por exemplo, uma a empresa concessionária de transportes é obrigada a dar cifras significativas lucro, ou seja: não se trata apenas de regulação, mas é necessário manter as empresas saudáveis.

A situação que vemos no Brasil hoje é bastante séria: apesar dos esforços da iniciativa privada, e da sinalização do novo governo na direção da competitividade, com o sucateamento das frotas, a centralização das regulamentações e a extrema burocracia, temos custos bastante desequilibrados em relação às economias mais fortes mundo afora. Números impressionantes ilustram a falta de competitividade do produto brasileiro: enquanto a nossa soja custa US$ 195 por tonelada para chegar da porteira da fazenda até o porto. A partir de então, os custos internacionais são iguais. Porém, essa mesma soja vai competir com o produto americano, que custa US$ 25 até o porto. E isso não é privilégio do país desenvolvido: na Argentina, esse custo é de US$ 65. Temos mercado para isso porque o mundo precisa da soja, porém é bastante claro que vamos perdendo o impulso, gradativamente.

Enxergamos nas novas iniciativas do governo algum esforço na direção da competitividade, com o discurso de um trabalho liberal – algo de que, há muito pouco tempo, não se podia nem falar. Essa é a hora de tentarmos fazer as coisas de uma forma que os indivíduos sejam mais responsáveis e não tão controlados, mais conscientes e conscientizados.

Tivemos ontem o anúncio de um grande pacote econômico para o qual vamos torcer – e sobretudo torcer que tenhamos fôlego e dinheiro para investir. Por otimismo, talvez, acredito que vá haver uma mudança rápida, tanto na regulação quanto nos tributos (o que ainda atrapalha bastante a cabotagem). E a rapidez não é uma escolha: com a agilidade trazida pela revolução 4.0, hoje não se podem fazer previsões com mais do que 18 meses, sob o risco de o mercado mudar: com o comercio eletrônico, just in time passou a ser agora baseado no consumidor final; com as compra via celular, entregas no dia seguinte ou no mesmo dia, as empresas e os profissionais se reinventam em questão de dias.

Com essa mesma agilidade, a cabotagem começa a transferir para a cadeia end to end as mudanças que estão surgindo no mundo, nos volumes e nas tendências da cadeia de suprimentos. Sim, testemunhamos grandes mudanças na organização das companhias marítimas, com a saída da Hanjin e as potenciais fusões e alianças, que envolvem inclusive grandes embarcadores.

Porém, desta vez, A Hora da Cabotagem propositadamente manteve o foco no mercado usuário – e não mais nos players, e na disponibilização dos serviços. Nesta edição, o evento trouxe terminais, armadores, portos e embarcadores para discutir pontualmente quais os benefícios do serviço para as empresas. Mesmo porque, as empresas se renovam, reorganizam com fusões, aquisições e alianças. Porém é na sua operação que as coisas de fato acontecem.

O Guia Marítimo agradece profundamente a todos os que prestigiaram o evento, inclusive àqueles que não puderam participar, mas enviaram seu apoio e incentivo. Estamos sempre de portas abertas.

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