Como romper com antigos padrões

Setor de transportes passa por mudanças e pode estar no caminho inverso ao da globalização

O segmento de transportes está prestes a passar por uma mudança estrutural levada pelo redesenho das cadeias produtivas e de suprimentos. As novas tecnologias de análise de dados, que hoje permitem às empresas não apenas controlar as suas próprias atividades, mas também acompanhar e prever o comportamento de seus clientes, estão mudando a forma de atuação de todas as corporações.

“O uso do Big Data, adotado por empresas como o Aeroporto de Heathrow, em Londres, passa a prever o comportamento do cliente e permite às indústrias traçar estratégias com maior visibilidade e menor margem de erro”, afirmou Mark Millar, autor do livro Global Supply Chain Ecossystems, durante uma convenção promovida em Londres pelo grupo TI de estudos e pesquisas para o desenvolvimento do setor de transportes. No caso do aeroporto britânico, Millar explicou que os sistemas têm sido usados para controle do tráfego aéreo, e já surtiu resultados imediatos, com redução de erros, atrasos e desperdícios.

No que diz respeito à logística, o ponto central da discussão é que os conceitos de produção, armazenagem e distribuição passarão a se basear em comportamentos previsíveis e calculáveis por meio de análise de dados, o que vai levar a indústria a pulverizar os seus estoques na busca pela eficiência das entregas – aumentando, portanto, a importância da capilaridade dos serviços de logística B2C, o fluxo que vai da empresa até o consumidor final.

Ampla e mundialmente debatida, a urgência das empresas em promover a “disruption”, que nada mais é do que a ruptura com padrões anteriores, foi tema central do evento, que reuniu embarcadores e prestadores de serviços ligados à logística para discutir e compreender o papel da indústria de transportes no novo cenário, irreversível, segundo os especialistas. “O gênio foi posto para fora da lâmpada; não há como fazê-lo voltar”, ilustrou o fundador e diretor da empresa francesa de pesquisa em tecnologia Lunatech, Nicolas Leroux. Nicolas começou sua carreira na computação, e desenvolveu a Lunatech Research enquanto ainda completava seus estudos na NEWI University do País de Gales. Além de autor de livros específicos sobre o tema, sua experiência inclui implantação de TI (Tecnologia da Informação) em projetos de grande escala que oferecem análise de dados em tempo real, e soluções de rastreamento.

Segundo John Manners-Bell, CEO da TI, podemos estar diante de um caminho inverso ao traçado pela globalização comercial, há três décadas, com a retomada da regionalização da produção, que pode estar mais próxima do seu cliente.

Nicholas Leroux esclarece que, embora altamente necessários, os sistemas inteligentes de análise de dados não são implantados tão facilmente: “a transição requer investimento, pessoal qualificado e uma abundância de informações”. Resta saber com que condições o Brasil irá se inserir no mercado mundial, cada vez mais carente de mão de obra qualificada e sem capacidade de investimento.

A conferência TI reuniu profissionais do mundo todo para discutir o futuro do segmento de transportes do ponto de vista da tecnologia, sustentabilidade, infraestrutura e planejamento. O evento gerou a série especial “Inteligência nos Transportes”, publicado às quartas e sextas-feiras no Guia Marítimo News. Leia no Guia a série completa.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.