Ociosos em plena temporada

Serviços marítimos desativados quando as rotas comerciais deveriam estar aquecidas preocupam o setor

Por que há porta-containers parados em plena alta temporada de cargas? No mundo ideal, todos os navios, aeronaves, trens e caminhões deveriam ser totalmente utilizados durante a temporada de maior fluxo de mercadorias, porém, definitivamente, não é o que está acontecendo neste ano na indústria da navegação em containers.

As recentes decisões de uma série de alianças entre armadores, que determinaram a suspensão de duas rotas circulares no Transpacífico logo no início da alta estação (em vez de fazê-lo no final) foram consideradas como um dos primeiros sinais de que algo bastante incomum estaria começando a acontecer no mercado.

O relatório mensal da consultoria britânica Drewry confirma – e alerta – que a ociosidade dos navios de containers tem acontecido em escalas cada vez maiores. “Constatamos que mais de 300 navios (com capacidade conjunta de mais de 800.000 Teu) ficaram ociosos no início de julho, supostamente o início da alta estação de exportações a partir da Ásia para mercados no mundo todo”, diz o relatório. Segundo a consultoria, em julho dos dois anos anteriores, o setor não deixou sem uso nem um quarto desse volume.

Frota ociosa em julho de 2016, 2015 e 2014 (em milhares de Teus)


Fonte: Drewry Container Forecaster

A consultoria explica, com base em fontes ouvidas no mercado, que a situação envolve uma série de fatores:

  • A estação de pico comercial no transpacífico está particularmente fraca.
  • Uma combinação de fretes baixos e demanda reprimida influenciou substancialmente na decisão incomum dos armadores em subutilizar seus navios em julho (inclusive há especulações de que a capacidade inativa também seria uma tentativa de subir as tarifas ou resgatar a prática das tarifas spot).
  • A Aliança G6 suspendeu o serviço CC1 do Transpacífico, o que resultou em desativação de 5 de seus navios de cerca de 6.600 Teus (o sexto foi reempregado em outro serviço).
  •  A Aliança Ocean 3 retirou o ‘Manhattan Bridge’ das rotas da segunda semana de julho, deixando ociosos 9 navios de cerca de 4.000 Teus.

A Drewry avalia que, enquanto as entregas de novas embarcações continuam acontecendo, os armadores começam a ficar sem opções de como utilizar até mesmo os seus meganavios, em um mercado de supercapacidade. Tal como já era esperado, um número cada vez maior de embarcações Panamax (com capacidades entre 4.500 e 5.000 Teus) estão hoje inativas, depois da abertura da expansão do Canal do Panamá, que viabiliza a passagem de embarcações maiores.

Em porcentagem, a frota ociosa em plena alta estação representa cerca de 4% de todos os navios porta-containers do mundo, mesmo com o aumento de 1% nas demolições de embarcações, na comparação com o ano anterior. Se uma conclusão é fácil de ser percebida, esta é que as perspectivas não se mostram muito boas para a baixa temporada que virá em seguida.

A visão da Drewry é que a crescente supercapacidade mostra que o aumento da ociosidade está acontecendo com todos os tamanhos de embarcações e, aparentemente, em todas as estações do ano. O cenário os leva a crer, portanto, que alguns dos navios inativos devam em breve ser vendidos para demolição – em especial, os antigos Panamax.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.