Brasil precisa incrementar relações comerciais, diz ex-embaixador

Atrelado ao Mercosul, o País se isola dos novos modelos de parcerias mundiais que negociam fora da OMC e por meio de acordos regionais, segundo Rubens Barbosa

Com regras que avançam sobre o modelo de democracia dos países-membros e falta de consenso entre os seus integrantes, o Mercosul vem sendo abordado como um problema não apenas no âmbito econômico e comercial, como também político.

“Paralisado e esclerosado” foram alguns dos termos utilizados pelo ex-embaixador do Brasil em Washington (1999-2004) e Londres (1994-1999), Rubens Barbosa, em palestra realizada na terça-feira na ACSP (Associação Comercial de São Paulo). Segundo o diplomata, o Brasil precisa se libertar do Mercosul e, para não ficar para trás, incrementar a relação com Estados Unidos e Europa, que são os grandes mercados mundiais. Rubens Barbosa atualmente preside do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP e o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior.

Coordenada pelo o economista Roberto Macedo e da São Paulo Chamber of Commerce, órgão de comércio exterior da Associação, a palestra teve por objetivo discutir o papel dos tratados e acordos internacionais na ampliação do comércio exterior brasileiro.

Para Barbosa, o Mercosul tornou-se um fórum de discussão política e comercial, que deixa de lado o caráter prático do bloco. Mais do que isso, avaliou que a organização tem sido bastante e erroneamente influenciada por um viés partidário e ideológico que prejudica seu avanço.

"Os acordos comerciais que acontecem hoje no mundo não são mais aqueles que fazemos aqui na América Latina, de preferências tarifárias, de listas de exceção. A preocupação principal desses novos tratados é a forma de negociar: fora da Organização Mundial do Comércio (OMC) e por meio de acordos regionais", disse ele, que foi um dos mais proeminentes embaixadores do Brasil nos governos FHC e Lula.

Entre os acordos comerciais, Rubens Barbosa destacou a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) como o "primeiro acordo dessa nova geração". Segundo ele, a TPP e o tratado que começa a ser negociado entre Estados Unidos e União Europeia vão representar 75% de todo o comércio global.

A TPP é um acordo de livre-comércio implantado em 2015, estabelecido entre 12 países banhados pelo Oceano Pacífico, relativo a várias questões políticas e econômicas. Integram o bloco: Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Estados Unidos, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura e Vietnã.

"Como é que podemos ignorar isso no Brasil?", provocou o palestrante, afirmando que o País está ficando para trás no cenário internacional e que precisa incrementar relações com as comunidades europeia e norte-americana.

"O Brasil está paralisado, isolado dessas grandes correntes”, alertou Barbosa, justificando que o bloco nunca conseguiu atingir o objetivo de abertura de mercado, "perdendo o seu sentido" por causa do perfil ideológico dos governos que comandam os países do grupo.

Para abrir o mercado, no entanto, o bloco teria de abandonar a influência partidária e ideológica que interfere na negociação internacional, o que, na sua opinião, envolveria a necessidade de "decisão política" do País em ajustar suas posições tradicionais à nova forma de negociar. "Se mudar o governo agora, vamos ter que enfrentar esse problema", avaliou Barbosa.

O ex-embaixador avalia que, para melhorar sua participação no comércio global, o Brasil precisaria resolver questões internas, como política tributária, preço da energia, regras trabalhistas e burocracia, e concluiu: "temos que reformar o processo decisório de comércio exterior".

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