Roubos de cargas: sintoma ou problema crônico?

País com maior risco e casos de roubos de cargas, Brasil pode estar vivendo resultado de uma série de problemas relacionados a infraestrutura

A maioria dos motoristas que fazem o transporte de cargas e precisam passar por estradas sofrem com um problema: o roubo de cargas. Em 2015, o estado do Rio de Janeiro viveu o pior dos últimos 23 anos no que se refere ao roubo de cargas e, nos primeiros meses de 2016, a situação foi ainda mais grave em relação ao mesmo período do ano passado. Apenas no primeiro trimestre desse ano, o roubo de cargas no estado foi quase 11% maior que no mesmo período do ano passado. Foram registrados 1.790 roubos de carga, contra 1.988 casos nos três primeiros anos de 2016.“Há vários problemas que esses números indicam que poderiam ser evitados: manutenção adequada dos caminhões, pesagem correta da carga para evitar excessos, garantir que a documentação do veículo e da carga estejam corretas, são algumas delas. Mas o principal, e mais preocupante, é a referência de dois motoristas dirigindo sob o efeito de álcool”. 

O cenário já se mostra diferente para o Estado de São Paulo, que teve redução na incidência de roubos em 7,74% no mês de março, passando de 879 ocorrências registradas em 2015 para 811 em 2016. A tendência, porém, se repete no interior, onde o cenário também é caótico: uma alta de 8,33% passando de 156 para 169 durante o mês de março. Porém, o total de ocorrências durante o trimestre apresentou sensível diminuição de 0,79%. Foram 3 ocorrências a menos, passando de 382 para 379. Um exemplo é a região de Ribeirão Preto, na qual os roubos a carga sofreram ligeiro aumento de 41 ocorrências no primeiro trimestre de 2015, para 44, em 2016, o que representa um aumento de cerca de 7,32%.

Na opinião de Adailton Dias, Diretor da área de Seguros de Transportes da Yasuda Marítima, apesar da boa notícia – de redução no Estado de São Paulo – os índices de roubos de carga são bastante altos. “Se considerarmos as estatísticas da própria Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, houve uma queda sensível de 0,33% e passaram de 8.518 casos em 2014 para 8.490 casos em 2015. Ainda assim, os números de 2015 são 22% superiores aos 6.958 casos registrados em 2011. A redução da incidência de roubos de cargas começou em maio de 2015”.

De acordo com ele, as cargas mais visadas são as de alimentos e bebida, cigarros, produtos eletroeletrônicos, remédios e automóveis e peças de carros. Para ele, uma forma eficiente de coibir esses roubos é um trabalho de inteligência e logística, para tornar essa prática mais difícil e não compensatória financeiramente para os criminosos. “Nós já nos valemos de diversas fontes para traçar mapeamentos que nos auxiliam no gerenciamento de riscos, o qual utilizamos para prestar consultoria aos segurados sobre como agir preventivamente para que tanto o transportador quanto a carga não sejam colocados em risco e que a operação de transporte aconteça sem sobressaltos”, disse, destacando ainda que existe um problema crônico vivido pelo País: a falta de investimento em infraestrutura, mas ressalta “ele não é o único”.

“A criminalidade, a falta de investimento em educação e qualificação profissional e a falta de estabelecimento de políticas de longo prazo que visem sanar esses problemas são alguns dos fatores”. Além dos investimentos adequados e de forma eficiente nas áreas citadas, Dias ressalta que os operadores logísticos, de todos os portes, podem também investir em um trabalho de inteligência para que seja estabelecida uma estratégia adequada de gerenciamento de riscos de sua operação. “A utilização dos recursos como estabelecimento de rotas, monitoramento via satélite, iscas nas cargas, entre outros, são bastante interessantes. Mas elas demandam antes a análise de um técnico que conheça a região de trânsito da carga, o histórico de riscos da região e quão visado é cada tipo de carga”.

Gerenciamento de riscos e novas tecnologias

O Brasil é o país com maior índice de roubo de cargas no mundo, e esse problema está diretamente relacionado com a infraestrutura, segurança e legislação. Com as ações sendo cada vez mais comuns, empresas de transportes, fabricantes, seguradoras e alguns varejistas procuram novas tecnologias e soluções inteligentes para monitorar as cargas e diminuir suas perdas. Com o crescente aumento – muito mais que os índices de baixa – nos roubos de cargas, as transportadoras estão cada vez mais procurando adaptar os sistemas de monitoramento e de segurança que eles já têm nas estradas para as áreas urbanas, o que para o executivo é de extrema importância.

“O gerenciamento de risco, inclusive, pode fazer toda a diferença para os resultados dos operadores logísticos. Isso porque o gerenciamento de risco, quando bem realizado, pode ser crucial para que o transporte da carga aconteça de forma segura, eficaz e sem custos excessivos ou não previstos. Isso faz toda a diferença para a eficiência e saúde financeira da operação”.

Custos estes, que segundo ele, sejam monetários ou sociais, são bastante relevantes. “Isso porque todos perdem. O embarcador e o transportador, embora venham a ser ressarcidos pelos seus respectivos seguros depois, têm de arcar com horas dedicadas a um transporte de carga que não aconteceu. Isso gera um custo de hora-homem envolvido. Sem contar que essas empresas podem ter de lidar com a indisposição de seus clientes”.

O executivo ressalta, porém, que esses investimentos têm que ser bem aplicados em ferramentas de gerenciamento de riscos que tragam retorno para operação, não podendo considerar isso um custo, mas sim, um investimento. “Eu costumo exemplificar que, se a empresa dispor de R$ 1 mil reais e forem bem aplicados, então ela terá feito um bom investimento. Agora, caso ela disponha de apenas R$ 1 real, e esse valor seja mal aplicado, então ela terá tido um custo enorme”.

Cuidados

Entre os principais cuidados a serem tomados por embarcadores e transportadoras para evitar que esse índice volte a subir, Dias destaca: prevenção é a palavra de ordem. “Investir em meios que possam garantir a tranquilidade de que os riscos de sua carga ser roubada foram substancialmente minimizados por um trabalho de inteligência pode ser crucial para uma operadora logística. Afinal, fora o prejuízo material (do valor da carga, do veículo de transporte etc) e pessoal (da vida de um motorista abordado, por exemplo); há o inconveniente de que o produto prometido para o cliente do embarcador não chegou dentro do prazo previsto”.

Por isso, explica, “é necessário que embarcadores e transportadores tenham um efetivo gerenciamento de riscos de suas operações”. Para ele, só com um trabalho de inteligência e acompanhamento técnico especializado é que podem ser avaliados os pontos focais em que se concentram os problemas, sejam eles reais ou potenciais.

“Além disso, é imprescindível contar com uma equipe devidamente treinada para desenvolver esse trabalho ou para pôr em prática tudo o que for diagnosticado. Por exemplo, há problemas que podem trazer consequências bastante sérias, mas que são simples de solucionar”, citando como exemplo o fator treinamento. “Com um programa de treinamento simples para motoristas, por exemplo, é possível reduzir ou eliminar uma série de problemas que podem colocar a carga, o caminhão ou até a vida do motorista em risco”.

Um exemplo foi a operação de fiscalização que a Polícia Militar realizou uma operação de fiscalização de caminhões em cinco pontos das marginais Tietê e Pinheiros, na capital paulista. Durante a ação, 105 caminhões foram fiscalizados. Destes, 14 apreendidos por irregularidades, além de 154 autos de infração de trânsito elaborados.

“Há vários problemas que esses números indicam que poderiam ser evitados: manutenção adequada dos caminhões, pesagem correta da carga para evitar excessos, garantir que a documentação do veículo e da carga estejam corretas, são algumas delas. Mas o principal, e mais preocupante, é a referência de dois motoristas dirigindo sob o efeito de álcool”, finalizou, dizendo ainda que um programa simples de treinamento e conscientização da equipe de motorista, faturistas etc; pode fazer toda a diferença.

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