Congelamento da produção de petróleo pode afetar o Brasil

Segundo executivo da KPMG, enquanto os sauditas mantiverem a produção no pico, o preço não vai equalizar, os estoques aumentam e, em níveis extremos, players da cadeia começam a sofrer, iniciando o efeito reverso na economia

2016_02_23_opepOs governos de Arábia Saudita, Rússia, Venezuela e Catar decidiram congelar a produção de petróleo em seus níveis de janeiro. O objetivo foi estabilizar o mercado do petróleo, que está em forte queda, tendo atingido o seu nível mais baixo nos últimos 12 anos, devido ao excesso de oferta do produto no mercado.


Para Anderson Dutra, sócio da área de óleo e gás da KPMG, rede global de firmas independentes que prestam serviços profissionais de auditoria e consultoria, a medida não só beneficiará os países produtores e exportadores de petróleo, mas a economia global.


“Teremos o efeito positivo do setor em geral, mas ainda continuaremos com uma tensão, até que a estabilidade seja real. Ou seja, está todo mundo com estoque elevado de óleo. O ponto será quando os estoques acabarem e a Opep abrir a válvula novamente. No Brasil, o efeito será ainda maior já que esse incremento nos preços ajudará no processo de retomada dos investimentos”, analisa o sócio.


Hoje em dia, há mais produção do que demanda efetiva, segundo Anderson Dutra, que acredita que, enquanto os sauditas mantiverem suas válvulas abertas, com grandes volumes de produção, o preço não vai equalizar, e os estoques tendem a aumentar. “Até certo patamar, a economia como um todo responde bem a preços baixos, pois o preço alto nunca é favorável, já que muitos produtos têm como insumo os derivados do petróleo. Abaixo desse patamar, a própria economia começa a sofrer, pois diversas empresas que suportam a cadeia começam a quebrar, iniciando o efeito reverso na economia”, afirma Anderson Dutra.


Petróleo iraniano

O executivo afirma ainda que, embora a suspensão das sanções ao Irã pelos EUA, e a subsequente entrada de mais oferta de petróleo no mercado, reforce ainda mais a tendência de se baixarem os valores estipulados para o petróleo, o grande balizador continua sendo a Opep “uma vez que é o lugar onde o custo de produção é o mais baixo”. Ele explica que a produção do petróleo iraniano não é tão barata, e além disso, há chances de que a sua entrada efetiva seja até mesmo postergada, de modo a não comprometer as margens.

As vantagens do preço baixo do petróleo podem ser aproveitadas por diversos países, por motivos diferentes: “Os países exportadores membros da OPEP se beneficiam pelo controle da produção, e do risco de novos entrantes. Já os países não-membros, que, claramente têm custo de produção mais alto, continuam sofrendo e não tendo benefício com isso”.

Oportunidades

Anderson Dutra afirma que o investidor no Brasil poderá aproveitar algumas oportunidades deste cenário, “especialmente pela certeza de que temos reservatórios comprovados por organismos internacionais, uma capacidade industrial instalada (precisando, claro, amadurecer, mas já instalada), além de estabilidade jurídica com respeito aos contratos e estamos em um processo de transformação na estrutura de governança e de confiança que irá favorecer bastante a forma de fazer negócios no país”.

Disparidade

Enquanto o preço do petróleo cai vertiginosamente, as bombas dos postos de combustível continuam a praticar preços exorbitantes determinados pelo governo federal. Embora o assunto ainda venha sendo discutido, o executivo da KPMG diz desconhecer medidas em andamento que possibilitem qualquer repasse substancial para reduzir o valor do combustível ao consumidor final no Brasil. Ainda assim, embora com o mercado em retração, o consumo geral brasileiro continua subindo, porém em patamares inferiores ao histórico dos últimos anos.

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