Nossos portos estão preparados?

Constante crescimento das embarcações traz cada vez mais necessidade de adequação maior dos complexos portuários

“Infelizmente nossa realidade ainda não está preparada totalmente para as mudanças que irão ocorrer neste sentido. Ainda enfrentamos custos operacionais bem elevados na maioria dos portos brasileiros, o tempo de liberação das cargas não é o ideal, pois muitas vezes os órgãos intervenientes não possuem servidores o suficiente para conseguir atender a toda demanda de carga, impactando diretamente no aumento do custo final do cliente para ter sua carga liberada seja para importação, seja para exportação e também para a cabotagem”.

A afirmação é do Coordenador de Desenvolvimento Comercial da Cearáportos (Companhia de Integração Portuária do Ceará), Raul Neris Viana. Para ele, grandes embarcações como os navios Post-Panamax necessitam de portos com grandes profundidades e um calado profundo o suficiente para que seja possível a atracação de tais navios, um grande entrave para a maioria dos portos brasileiros. “Porém, o Porto do Pecém figura em uma posição privilegiada pois temos um calado natural de 17 metros, ou seja, não é necessária dragagem, sendo assim, não há repasse do ônus desse custo que outros portos precisam fazer aos seus clientes”, ressalta.

Como um porto off-shore, explica, suas operações ocorrem a aproximadamente 3km da costa, o que também possibilita que isso ocorra. “Neste sentido, temos a vantagem de sermos um dos poucos portos no Brasil com calado necessário para receber essas embarcações, não sendo esse um gargalo para a nossa realidade”.

O complexo que passou por diversas ampliações e melhorias desde a sua inauguração em 2002, como conta o executivo, atualmente trabalha no avanço da segunda fase das obras para a expansão do TMUT (Terminal de Múltiplo Uso) com a execução dos serviços de alargamento do quebra-mar e a implantação de três novos berços com 300 metros cada um. “Será feita em seguida uma nova ponte, com 1.560 metros de extensão total e 32,10m de largura, paralela à que já temos atualmente. A expansão também conta com a construção de mais uma correia transportadora de granel sólido, que será exclusiva para movimentação de minério de ferro, trabalhando ao lado da que já existe, que opera carvão mineral”, explica.

Com investimento de R$ 85,7 milhões, um quebra-mar será ampliado em cerca de mil metros com o objetivo, segundo Viana, de permitir o melhor trânsito de veículos sobre a sua estrutura, bem como receber cargas super pesadas (heavy-weight cargo) como, por exemplo, placas da Siderúrgica, guindastes, cargas de projeto.

Além disso, o complexo recebeu esse mês dois portainers, também chamados de STS (ship-to-shore) que a empresa APM Terminals importou da Ásia. “Com esses dois guindates, a movimentação de carga e descarga no TMUT mais do que triplicará”, explica.

De acordo com o executivo, quando finalizados os novos berços, o Porto do Pecém passará a contar com nove berços de atracação, se adequando à crescente expansão da sua movimentação de cargas. “Quando concluída a segunda fase de ampliação, teremos benefícios como: aumento capacidade de atracação para nove navios; atendimento da demanda da CSP que irá exportar 3 milhões de toneladas de placas de aço em sua primeira fase e 6 milhões na segunda fase de operação; operação de navios da transnordestina; recepção dos maiores navios porta-containers em operação na costa leste da América do Sul, dentre outros”.

Hub Portuário

Com previsão de inauguração para 2018, o Porto do Pecém trabalha junto a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) na criação de um terminal concentrador, com capacidade para receber grandes navios e redistribuir a carga para embarcações menores. O terminal que a princípio servirá às commodities agrícolas e minerais e cargas gerais, incluindo containers, ainda não possui detalhes de etapas posteriores.

De acordo com Viana, o presidente do complexo já se reuniu com investidores estrangeiros, um dos quais do Panamá, com interesse em investir no terminal com o objetivo de tornar Pecém em um hub port. “Empresas multinacionais (uma alemã, uma dinamarquesa e uma francesa) que já operam no Pecém também estão interessadas em participar do esforço estratégico, técnico e financeiro de tornar o porto em um centro de distribuição de cargas para todo o Brasil”, disse.

2016: Para 2016 ele ressalta que a expectativa é a finalização das obras de expansão, com exceção da nova ponte de acesso, que tem previsão de conclusão apenas em junho de 2017. “O trabalho em modernização dos sistemas para atendimento das cargas da Siderúrgica e o início da exportação de suas placas de aço, a prospecção de mais linhas de navegação com atracações regulares no Porto, bem como se tornar um porto concentrador de cargas (hub port)”, finalizou.

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