Descarbonização dos ativos do setor ferroviário é pauta na NT Expo Xperience

Concessionária Vale apresenta a primeira locomotiva 100% elétrica

A excessiva dependência dos combustíveis fósseis é uma página que está sendo virada pelo setor ferroviário que busca soluções para a eletrificação do sistema de transporte. A descarbonização da operação ferroviária foi uma das temáticas de destaque na programação da manhã da NT Expo Xperience, evento 100% digital voltado para o setor ferroviário, que chega ao último dia nesta quinta-feira, 26.

O painel ao vivo sobre o tema contou com a moderação do presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate, que salientou a ativa participação da indústria ferroviária brasileira em oferecer às concessionárias novos equipamentos, serviços e tecnologias fabricados com o viés sustentável como prioridade.

Gerente do Programa Powershift da Vale - mineradora e uma das maiores operadoras de logística do país -, Alexandre Salomão Andrade apresentou no painel a agenda de sustentabilidade da companhia que pretende atingir a meta de ser carbono neutra até 2050. "As ferrovias da Vale são responsáveis por 10% do total das emissões de carbono da companhia. Temos como objetivo fazer a transição de uma matriz fóssil para outra baseada em fontes renováveis, por isso, em 2018, lançamos o programa Powershift para estudar tecnologias que reduzam as emissões de carbono", explicou.

Outra ação do programa da Vale foi o projeto de desenvolvimento da primeira locomotiva 100% elétrica da mineração brasileira e que está em fase de testes desde setembro no pátio da empresa na unidade de Tubarão, em Vitória (ES). O projeto é uma parceria com a Progress Rail, subsidiária da fabricante norte-americana Caterpillar, que fabricou a locomotiva na unidade fabril localizada em Sete Lagoas, Minas Gerais. O diretor de Engenharia da empresa, Sidarta Beltramim também participou do painel.

O novo modelo é movido a bateria e, além de reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa, diminuirá também a emissão de ruídos. Beltramim ressaltou o papel da Progress Rail em buscar alternativas para a fabricação de locomotivas movidas a gás natural e a bateria. "Atuamos ativamente na renovação da frota ferroviária brasileira com a reconstrução e revisão de locomotivas mais antigas - mais poluidoras do meio ambiente - , o que contribui diretamente para redução das emissões de carbono", afirmou.

Ainda no painel, o engineering leader da Wabtec Corporation LatAm - fabricante de locomotivas e fornecedora de soluções digitais -, Rodrigo Venditti, destacou as características da locomotiva FLX Drive, solução a bateria da empresa. Para ele, o setor ferroviário sofreu uma revolução nos últimos 20 anos no aspecto de eficiência e as tecnologias de baterias foram um salto tecnológico em direção à redução das emissões de carbono. "No futuro próximo vamos alcançar o objetivo de descarbonização total do setor".

Papel do VLT como projeto integral para a mobilidade urbana nas cidades

Apesar de não enfrentarem essas mesmas dificuldades de mobilidade urbana que afetam as grandes metrópoles, as cidades médias (entre 100 e 300 mil habitantes) também têm o desafio de solucionar os gargalos no acesso ao transporte público coletivo. Neste sentido, a NT Expo Xperience apresentou um painel ao vivo com especialistas que debateram o papel do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) como modo de transporte estruturante no planejamento urbano das médias cidades.

Como moderador do painel, o diretor de Planejamento de Transportes da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aeamesp), Ayrton Camargo e Silva, abriu a conversa ressaltando a importância da implantação de sistemas VLT como ferramenta para uma melhor qualidade de vida dos cidadãos e o case de sucesso do sistema que está operando na Baixada Santista, que passou recentemente para a construção de um novo trecho.

Já o especialista em sistemas de VLTs, Alfonso Arroyo, destacou que falta uma visão clara do potencial de urbanização do VLT, que é um elemento indispensável de mobilidade urbana no futuro das cidades inteligentes (smart cities). Ele elencou os recursos característicos dos sistemas de VLT’s que promovem os benefícios para a população e a tecnologia de ponta embarcada, como câmeras internas e externas, contagem de passageiros, uso de energia renovável e conceitos rigorosos de acessibilidade e segurança para passageiros e pedestres que circulam em torno do equipamento.

Por sua vez, o diretor de Ferrovias e Transporte Urbano da Egis Engenharia e Consultoria, Philippe Grisez complementou os pontos levantados por Arroyo com imagens que evidenciam o impacto positivo da implantação de VLT’s nas cidades de Estrasburgo, Reims, Amiens e Marselha, na França, e em Sidi Bel Abbès, na Argélia. Grisez pontuou os benefícios sustentáveis como diminuição da poluição sonora, a reorganização do acesso e o fluxo na circulação de carros e os aspectos amigáveis para o deslocamento segura de pedestres e usuários de ciclovias.

Ainda na conversa online, o CEO das operações ferroviárias do Grupo Itapemirim e ex-secretário Nacional de Mobilidade e Serviços Urbanos na Governo do Brasil, Jean Pejo, fez coro com os palestrantes sobre as vantagens do VLT já exploradas pelo painel e destacou os dois desafios principais enfrentados atualmente para a implantação do sistema. O primeiro é que o tema não entrou na pauta das autoridades do poder público que atuam nas milhares de cidades do país. E o outro desafio é a falta de atores interessados em projetos desta natureza. "Precisamos incentivar a participação de fundos de investimentos, por exemplo, que estão cada vez mais atuantes em projetos de infraestrutura no Brasil".

Pejo completou dizendo que é importante discutir o sistema de VLT dentro de uma visão holística, com foco principal na mobilidade e na qualidade de vida das pessoas.

Operadores de carga falam sobre os desafios da manutenção na via permanente

A NT Expo Xperience, neste último dia de evento, contou também com um painel ao vivo que reuniu profissionais ligados à operadoras ferroviárias de carga do país. A conversa online girou em torno dos desafios e as inovações na manutenção da via permanente.

O gerente executivo da Estrada de Ferro Vitória a Minas da Vale, Fernando Lopes Alcântara, iniciou o painel falando sobre o dilema em manter o equilíbrio entre o alto nível de segurança oferecido sem aumentar os custos de manutenção da via. Ele comentou que na operação de manutenção da Estrada de Ferro Vitória a Minas - que possui 2.141 km de extensão e atua com o transporte de carga e também com um trem de passageiros - dois são focos de atenção: o monitoramento de ativos e a potencialização da mecanização.

"Temos como previsão para os próximos cinco anos a atuação de 33 equipamentos diferentes para o processo de inspeção/monitoramento. Também estamos aumentando o nível de produtividade na troca de dormentes da ferrovia com uma máquina Tie Gang, que substitui a troca manual do material", disse Alcântara. Para ele, a capacitação de mão de obra, a transição para a indústria 4.0 e a atualização dos aspectos regulatórios serão os tópicos que dominaram o debate sobre o futuro da manutenção da via permanente.

Participaram da conversa online também os profissionais da MRS Logística, Luciano Gaudêncio, gerente geral de Manutenção da Malha Ferroviária e Sofia Pimenta, gerente de Engenharia Industrial da empresa. Os dois apresentaram o Comitê de Inovação, criado em novembro do ano passado pela MRS, com o objetivo de engajar a participação dos colaboradores para a sugestão de iniciativas voltada para a inovação com foco em uma manutenção de via mais otimizada e preditiva.

Sofia comentou que nos dois primeiros Pitch Day’s realizados foram cadastradas 141 ideias que posteriormente foram avaliadas pelos critério estabelecidos do Comitê. "Já temos algumas iniciativas para a execução de projetos pilotos", disse.

Já o gerente executivo de Via e Projetos da Rumo Logística (Operação Sul), Thiago Fiori falou sobre as três vertentes que guiam a manutenção da via permanente da operação sul da Rumo, que tem um alto nível de complexidade pela diversidade operacional da linha e pelo fato da ferrovia cruzar cinco estados. Ele falou sobre a importância do controle rigoroso sobre o desperdício para uma manutenção mais eficaz, com a redução de custos, e sobre a governança que busca padronizar os processos e a sustentabilidade do negócio.

Fiori disse que há dois programas da empresa que potencializam essas três vertentes: o programa de certificação individual que oferece capacitação para os colaboradores e o de melhoria contínua que otimiza aspectos de segurança e assertividade. "Apenas com seis meses de ativação do projeto já registramos uma economia estimada de R$ 13 milhões com a otimização dos processos na manutenção da via e a queda de 75% em ocorrência e acidentes", afirmou.

Para finalizar o painel, o presidente da Ferrovia Tereza Cristina (FTC), Benony Schmitz Filho, chamou a atenção para um dos desafios que são enfrentados pela concessionária na manutenção da via da malha no estado de Santa Catarina. "A situação mais desafiadora é a contratação de mão de obra qualificada. Temos uma rotatividade de colaboradores que chega a 30% ao ano", disse.

Para atenuar o problema, o presidente da FTC ressaltou os esforços para aumentar a eficiência na gestão de pessoas com o auxílio de ferramentas tecnológicas. A companhia implementou um aplicativo que monitora, em tempo real, os serviços executados na via e os materiais aplicados em cada atividade (dormentes, trilhos, parafusos e etc). Com a ferramenta é possível que o supervisor de cada equipe receba de forma atualizada a programação montada mensal para a equipe, o que otimiza o processo de manutenção da via.

Palestra técnica: Revisão de engates para trens de passageiros

Explorando as temáticas mais técnicas, a NT Expo Xperience, apresentou um painel com o Business Unit Manager da Dellner, Luis Augusto Ribeiro, que falou sobre como prolongar a vida útil do sistema de engates para trens de passageiros de forma segura até o próximo período de revisão. De origem sueca, a Dellner, é líder global na produção de sistemas de conexões para trens, com soluções personalizadas para fabricantes de trens, operadores e empresas de manutenção.

Ribeiro pontuou os passos para a revisão dos engates que incluem: desmontagem, inspeção, teste não destrutivo e funcional e relatório final. No Brasil, a Dellner tem uma unidade em Cajamar, interior de São Paulo.

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