IMO 2020: MENOS DE 5 MESES PARA A ENTRADA EM VIGOR, E AS DÚVIDAS PERSISTEM!!!

Solve Shipping e o Destaque do Mês.

                                                             


A data de entrada em vigor do limite de enxofre em 0,5% em 1º de janeiro de 2020 estava decidida desde 1º de julho de 2010. Decorridos quase 10 anos, parece que muitos “players” ainda demonstram um relevante grau de surpresa e desconhecimento quanto aos substanciais reflexos das mudanças nos parâmetros de emissão dos navios.

Com menos de 5 meses para sua entrada em vigor muitas dúvidas ainda persistem, sendo as maiores referentes ao valor desse novo combustível com baixo teor de enxofre e sua disponibilidade nos portos do mundo. Mas também há outras questões:

Essa semana uma grande polemica se abriu com uma declaração da Indonésia, signatária da convenção MARPOL e, portanto obrigada a implementar o "sulphur cap” dizendo que não pretende obrigar sua grande frota de cabotagem a utilizar o novo combustível sob alegação que suas refinarias estão muito estocadas de óleo com teor de 3,5% de enxofre.

Por outro lado, há um grupo de países membros da Organização Marítima Mundial que não homologaram a convenção MARPOL, dentre os quais a Argentina. Assim, navios de qualquer bandeira navegando em águas platinas não estariam obrigados a usar o novo combustível, mas tão logo entrem em águas brasileiras, estariam sujeitos a fiscalização e penalização pelo “Port State Control” brasileiro.

Alguns fornecedores tem afirmado que estarão em condições de ofertar o produto a tempo e hora. Luca Volta, da ExxonMobil, assegurou que estarão produzindo o novo óleo e disponibilizando nos pontos de venda a partir do 4º trimestre do ano. Da mesma forma a BP assegura que disponibilizará o combustível em diversos portos do mundo. A Petrobras também, aparentemente, está apta a atender a nova demanda. Apesar dessas afirmativas, o mercado ainda mostra-se receoso se encontrará o novo combustível ao longo de todas as rotas marítimas.

Para cumprir com a nova regra os navios já tem de estar com o novo “bunker” a bordo no dia 1º de janeiro, de forma que tem de abastecer ao longo do 4º trimestre desse ano. Mas para isso, tem de esgotar e limpar seus tanques de quaisquer resíduos do óleo antigo. Isso pode levar até duas semanas. Ou seja, a partir do 3º para o 4º trimestres veremos muitos navios parados, além da frota que está entrando nos estaleiros para a instalação de “scrubbers”. De acordo com a publicação Alphaliner em julho haviam cerca de 31 navios docados para instalação do equipamento, retirando do mercado 350.000teu de capacidade.

O Alphaliner também estima que esse número de navios a serem paralisados possa chegar a 550 até o fim do ano, o que implica em uma inevitável pressão de alta nos fretes, resultante de uma menor oferta de capacidade. Além disso, permanece em aberto o valor que efetivamente os armadores tentarão repassar aos embarcadores, a título de “bunker surcharge” para ressarcirem-se dos novos custos, sejam de capital pela instalação dos “scrubbers”, seja pelos novos valores do combustível mais ecologicamente correto.

Some-se a tudo isso a crise EUA x China e a consequente desaceleração da economia global, de sorte que aos embarcadores cabe acompanhar muito de perto esses acontecimentos e preparar-se para “fortes emoções” nos próximos meses.

Escrito por:

Robert Grantham

Formado pela PUC/RS com licenciatura em ensino da língua inglesa, Robert Grantham desenvolveu sua carreira na área da navegação, atuando como executivo em agencias marítimas, como Wilson Sons, Orion e Lachmann, com passagem pelo Banco de Desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Sul (Badesul), atuando na área internacional. Posteriormente foi o responsável pelo start-up das operações da China Shipping no Brasil e Diretor Comercial e Executivo do Porto de Itajaí. Atualmente dedica-se a consultoria, como sócio da empresa Solve Shipping Specialists, tendo realizado trabalhos para Drewry, TESC, LogZ, Porto de Itajaí, Steamship Mutual - P&I, Norsul entre outros. Como palestrante e moderador participou de eventos como Mare Forum, Port Finance International Brazil, Container Handling Technology Brazil, Itajaí Trade Summit. É colaborador da revista Container Management e Árbitro da Câmara de Mediação e Arbitragem do Brasil (CAMEDIARB) e da Câmara de Arbitragem e Mediação de Santa Catarina (CAMESC).



Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.