O que esperar para a indústria alimentícia

Tradicionalmente forte para o Brasil, o segmento tem passado por mudanças conceituais e precisa ser reavaliado

É sempre bom sabermos o que vamos encontrar ao virar a esquina, antes mesmo de chegar à esquina, disse Marcel Motta, Diretor Geral da Euromonitor, empresa internacional especializada em análise de consumo, ao abrir a palestra sobre tendências do mercado alimentício na Feira APAS 2016.

Dirigido ao segmento supermercadista, o evento teve como tema central as perspectivas e oportunidades do mercado em meio à crise econômica e, para isso, apresentou panoramas do mercado atual. Com uma taxa de câmbio que vem fazendo das exportações de alimentos o grande pilar da sensível balança comercial brasileira, o setor de alimentos desponta como uma indústria que merece atenção e estudos, tanto no comércio exterior quanto na retomada do mercado interno.

O especialista em embalagens do Ital, Luis Fernando Madi, também palestrante na APAS, lembra que o foodservice vem crescendo ainda mais do que o varejo, e reforça que os alimentos ainda têm um potencial a ser explorado nas exportações brasileiras. “Se hoje o Brasil exporta cerca de 50 milhões de toneladas de produtos semi-elaborados, a US$ 800 dólares por tonelada, somente a alternativa de transformar essas exportações em alimentos processado, cujo valor dobra para US$ 1.600 dólares, já representaria um incremento de US$ 40 bilhões sobre a receita brasileira", diz Madi.

Marcel Motta enfatiza três tendências primordiais quando se consideram os caminhos que deve tomar o setor alimentício. A primeira delas é o que ele chama de “afastamento dos big foods”, ou seja: o consumidor vem abandonando os alimentos embalados, para fazer opção por alimentos mais saudáveis (mesmo aqueles que são “falsos” saudáveis, ou que aproveitam o apelo de marketing para se fazer passar por naturais). O segundo movimento forte é a conscientização para os malefícios do açúcar, que Motta chama de “o novo tabaco”. E a terceira tendência, bastante oportuna para o segmento supermercadista, revela que o consumidor tem optado por comer em casa, muito mais do que nos restaurantes.

Em pesquisa divulgada em entrevista coletiva concedida pelo diretor da APAS, Pedro Celso (Leia no Guia), os números são quantificados, mostrando que a queda do consumo em restaurantes já caiu 8%. Grande parte desse valor se atribui à imensa parcela da população que perdeu o emprego, e vem trabalhando de casa, ou ainda está em busca de novas oportunidades: 1,5 a 1,7 milhão de pessoas se enquadram nesse contingente “uma Campinas e meia”, compara o especialista, mencionando o município paulista.


"As regras do jogo vêm mudando, e o mercado precisa compreender; há muitas perguntas e poucas respostas, e não há o certo ou o errado, porém temos que perceber os novos players do mercado"Massimo Volpe / Popai - Itália 

Da Itália, o especialista em varejo Massimo Volpe, da Popai International, traz também contribuições sobre as perspectivas que já ganharam o mundo e devem logo se apresentar ao consumidor brasileiro, como as compras digitais, nichos de alimentos perecíveis mais saudáveis, que ele chama de “Fresh (Re)volution” e uma grande diferenciação por produtos de maior valor agregado, geralmente ligado à saúde do consumidor.

Volpe também aponta para a necessidade de se conhecer o público alvo, a ser trabalhado de maneira vertical, ou seja: levando-se em conta as suas necessidades, anseios, valores.

“As regras do jogo vêm mudando, e o mercado precisa compreender; há muitas perguntas e poucas respostas, e não há o certo ou o errado, porém temos que perceber os novos players do mercado”, reforça o executivo italiano.

A exemplo dessas iniciativas, a APAS traz diversos lançamentos, como o cream cheese vegano da Superbom, empresa originalmente focada em sucos, mel e produtos naturais, as paçocas e cremes de amendoim sem açúcar da Santa Helena, entre outros lançamentos inovadores da feira que primam pela saúde.

Massimo Volpe menciona novas oportunidades já compreendidas, como as recentes implantações de supermercados nos aeroportos, ou os sistemas de entrega de alimentos saudáveis, tanto de empresas independentes como Instacart, que realiza entregas da cadeia WholeFoods, como as inicativas da gigante do varejo Amazon, com seu produto AmazonFresh de entregas de perecíveis.

Como conselho à plateia brasileira, o especialista italiano arrisca: “olhe à sua volta; seus concorrentes de hoje podem não ser seus concorrentes no futuro. E não perca de vista os ambientes digitais”.

Mais pragmático, Marcel Motta aproveita para realçar o conselho passado pelo economista Luiz Carlos Mendonça de Barros na palestra de abertura (Leia no Guia): “o importante é não entrarmos em pânico”.


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