Como em “Quadrilha”, de Drummond de Andrade*

Grandes alianças de serviços marítimos são rearranjadas, em um movimento que os armadores dizem ser natural e constante


O mercado marítimo tinha grandes expectativas para o final da semana passada, com a nova aliança anunciada em Xangai entre China COSCO Shipping, CMA CGM, Evergreen Line e OOCL. Com a formação da nova Ocean Alliance, as empresas vão provocar uma reorganização em três das quatro grandes alianças de armadores, muito mais cedo do que se esperava.

De acordo com a publicação inglesa IHS Fairplay, objetivo da aliança seria contrabalancear o impacto do maior VSA (Vessel Sharing Agreement) mundial entre as duas gigantes Maersk Line e MSC (2M) – sendo esta a única das quatro alianças a permanecer inalterada após a mudança do cenário.

Enquanto a nova aliança espera a aprovação das autoridades dos Estados Unidos, Europa e China, algumas incertezas recairão sobre as negociações de contratos nas rotas do transpacífico. Alguns embarcadores já estão se movimentando para determinar com quais armadores fecharão seus contratos, uma vez que as alianças globais devem mudar drasticamente, uma movimentação que já vem sendo esperada desde a aquisição da NOL (Neptune Orient Lines) pela CMA CGM, em dezembro de 2015, e sua subsidiária APL (Leia no Guia), além da fusão, em fevereiro, entre as duas gigantes chinesas COSCO e China Shipping.

Por sua vez, os armadores pertencentes às alianças CKYHE e G6 terão de mudar seus parceiros, em contraponto à 2M e à nova aliança. De acordo com o Alphaliner, a dupla Maersk e MSC já compõe 27,7% da frota global de containers, enquanto o quarteto combinado da CMA CGM, China COSCO Shipping, Evergreen Line e OOCL chegaria a 23,5%, o que significa que, juntas, as duas grandes alianças serão responsáveis por 51,2% da capacidade mundial de transporte marítimo em containers.

Após a formação do novo grupo, APL e OOCL devem deixar a Aliança G6, o que vai forçar os membros remanescentes Hapag-Lloyd, Hyundai Merchant Marine, MOL e NYK Line a encontrar novos parceiros ou unir-se a novas alianças. O mesmo vai acontecer com os membros que permanecerem na Aliança CKYHE: “K” Line, Yang Ming e Hanjin Shipping perderão os atuais parceiros COSCO e Evergreen, “de mudança para uma nova casa”, diz o IHS Fairplay.

Em entrevista à publicação inglesa, um porta-voz da Evergreen disse que a empresa costuma “revisar constantemente seus programas e serviços realizados em cooperação, sempre negociando com parceiros estratégicos de modo a melhorar a sua rede de serviços”. Disse também que, assim que o novo acordo for concluído, fariam um anúncio formal.

Após as conjecturas, a CMA CGM finalmente divulgou a assinatura de uma Carta de Intenções incluindo COSCO Container Lines, Evergreen Line e Orient Overseas Container Line, declarando que a ação vai “permitir às companhias oferecer produtos competitivos e redes abrangentes de serviço, com cobertura para a Ásia-Europa, Ásia-Mediterrâneo, Ásia-Mar Vermelho, Ásia-Oriente Médio, Transpacífico, Ásia-Costa Leste da América do Norte, e os mercados transatlânticos. A nova parceria vai viabilizar a cada um de seus membros oferecer melhorias significativas a seus respectivos clientes”, declarou a companhia francesa, que garante que o embarcador terá uma seleção atrativa de saídas frequentes e escalas diretas para atender às suas necessidades, incluindo o acesso a uma vasta rede de serviços com o maior número de rotas e rotatividade portuária, conectando os mercados da Ásia, Europa e Estados Unidos.

A Hapag-Lloyd também já anunciou alterações em suas rotas, com inserção de novos serviços e descontinuidade de outros, não apenas em decorrência das novas alianças, mas também com vistas à iminente abertura da expansão do Canal do Panamá e às alterações sazonais de mercado. A empresa alemã garante que a Aliança G6 continua a oferecer uma gama variada de serviços, porém está sempre disposta a realizar os ajustes quando necessários. Em seguida anunciou também que vem discutindo um modelo de operação combinada com a UASC (United Arab Shipping Company), especificamente no segmento de containers. As negociações ainda não estão concluídas, porém já se fala em porcentagem de participação de cada uma das empresas, sendo 72% administrados pela Hapag-Lloyd e 28% pela UASC.  

Ainda sujeita a aprovações regulamentares diante das autoridades competentes, a nova aliança deve estar efetiva a partir de abril de 2017, com um período inicial de operação estipulado em cinco anos.


*QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade, "Nova reunião". Rio de Janeiro: J. Olympio, 1985.

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