Impactos dos conflitos no Mar Vermelho podem chegar ao Brasil

Investidas de militantes Houthis a navios na região causam aumento no custo do frete marítimo e no tempo de viagem

Dezenas de navios cargueiros que utilizam o Canal de Suez e arredores diariamente seguem realizando o desvio pela África para chegar aos seus destinos. Isso tem acontecido devido a investidas constantes dos Houthis, grupo do Iêmen que apoia os palestinos do Hamas na guerra contra Israel. Os ataques no Mar Vermelho estão ocorrendo desde final de novembro de 2023, e as maiores empresas do ramo optaram por suspender ou redirecionar o trajeto das frotas, visando a segurança das cargas.

O Canal de Suez, no Egito, facilita a ligação entre o Norte da África e o Oriente Médio, assim como a Ásia, sendo responsável pelo trânsito de 12% do comércio global, e o desvio, contornando a África, pode elevar o tempo do transporte em até 15 dias, podendo levar, consequentemente, a um aumento do custo das viagens, analisa o Diretor Corporativo de FLC (Full Container Load) da Craft, Jorge Freitas.

“Duas semanas a mais de tempo de trânsito significa custo de estoque em trânsito, o que impacta na cadeia de suprimentos global, e pode causar efeitos econômicos parecidos com o que evidenciamos na pandemia, caso esse desvio de rotas se torne estrutural, e de médio / longo prazo", explica Freitas. “É preciso considerar ainda que temos outros fatores acontecendo ao mesmo tempo que também afetam toda a cadeia de abastecimento, como a seca no Canal do Panamá, que reduz a quantidade de navios que transitam por essa importante rota, e o bloqueio da ferrovia que perfaz o cruzamento da fronteira entre México e Estados Unidos, através do estado do Texas", acrescenta.

Cerca de 50 navios atravessam o Canal de Suez diariamente, e dados da empresa de análise Sea-Intelligence calculam que entre 1 e 1,7 milhões de TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), em capacidade de navios, estejam agora contornando a África para chegar ao destino. Para minimizar o impacto dessa situação, os armadores poderão aumentar o número de embarcações na rota para continuar oferecendo serviços semanais (em razão dos percursos mais alongado), o que reflete nos custos de frete.

O valor do frete de um contêiner sofreu um aumento de mais de 121% em janeiro, se comparado a dezembro de 2023, passando de US$ 1.179,20 para US$ 2.613,00, de acordo com dados do Freightos Baltic, índice diário que mede as taxas globais de frete de contêineres.

Estima-se que 20% do que é consumido no Brasil vêm de outros países, e a Ásia representa 50% dessa importação. “O Brasil tem cinco serviços diretos da Ásia para a Costa Leste da América do Sul, e custo do frete poderá dobrar em janeiro, se comparado aos valores anteriores ao início do conflito”, aponta o diretor. E a tendência é que aumente ainda mais, na medida que uma parte do volume da Ásia ao Brasil, que hoje é movimentada conectando em serviços para a Europa (que cruzam o Canal de Suez), pressionem a demanda nos serviços diretos. “Isso pode causar um impacto inflacionário não só no Brasil, mas no mundo todo, devido à redução da oferta e aumento da demanda de produtos e insumos, reduzindo o poder de compra da população”, ressalta.

Apesar de ainda estarem limitados, os impactos nas cadeias de suprimentos podem começar a ser sentidos com mais intensidade a partir das próximas semanas, caso a situação não melhore. Com a aproximação do feriado do Ano Novo Chinês, época em que ocorre a redução da capacidade operacional dos portos chineses, os atrasos nos envios podem se agravar, causando uma nova alta nos custos de transporte, que pode ser refletida na demanda e nos preços dos produtos diretamente ao consumidor.



 

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