Descarbonização da Logística

Responsabilidades e oportunidades

Cada vez mais percebemos que estamos próximos do ponto sem retorno para a temida situação de risco climático e, portanto, alimentar devido ao excesso de emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa). O mundo se mobiliza cada vez mais por soluções. Descarbonizar para remediar é questão de sobrevivência e não apenas uma moda passageira.

Nesse contexto, um estudo da KPMG mostra que 60% do problema para as empresas atingirem as metas de ESG está na cadeia de suprimentos, com forte impacto na logística. O protocolo de emissões de carbono assinado em 1997, em Quioto, pelos participantes da COP3 e que começou a vigorar somente a partir de 2005, convencionou o critério de emissões diretas como do Escopo 1, emissões indiretas resultantes da geração de eletricidade, calor ou vapor por terceiros como do Escopo 2 e emissões indiretas de atividades não controladas diretamente pela organização como do Escopo 3. Por essa regra, o operador logístico se enquadra como escopo 3 para o embarcador de cargas que o contrata, ao mesmo tempo que é responsável pelos escopos 1, 2 e 3 de suas próprias atividades.

Nesse cenário, antes mesmo das legislações punitivas em curso, o consumidor final pressiona cada vez mais o produtor industrial e do agronegócio por produtos sustentáveis. Consequentemente, o produtor passa a valorizar o índice de descarbonização de sua cadeia de suprimentos como parâmetro no processo de decisão da contratação de sua logística.

Como sabiamente mencionou Luís Marques, CEO da DB Schenker no Brasil, as principais variáveis Tempo e Custo, que sempre dominaram as decisões nas cotações de fretes, passam a contar com uma terceira coluna referente ao índice de Descarbonização. A DB Schenker já disponibiliza uma calculadora para o cliente poder optar pelo que lhe é mais valioso. Menor custo geralmente significa maior tempo (na escolha do modal, por exemplo) e maior emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa). Uma redução no tempo e/ou no índice de emissões pode afetar o custo.

Para continuar competitivo, portanto, o provedor logístico passa a ter como enorme desafio conseguir meios de reduzir o tempo e as emissões de forma a impactar minimamente o custo.

Uma das ações menos desafiadoras é tornar os armazéns e pátios sustentáveis, principalmente no Brasil, onde a matriz elétrica já é 86% verde e distribuída por um grid integrado nacionalmente. O uso de soluções como geração ou compra de energias renováveis para abastecer a sua iluminação, automação, refrigeração e eletrificar os equipamentos de movimentação, já está disponível, pelo menos para os primeiros. As previsões são de que as atuais instalações de geração de energias renováveis e grids de distribuição no Brasil, que já são significativas, terão que, no mínimo, dobrar ou até triplicar para atender à futura demanda.

A segunda ação que pode colaborar na descarbonização reside em otimizar as operações, contribuindo para menores emissões e custos. Isso depende muito da capacidade de investimento em P&D e nos instrumentos da Inteligência Artificial, que também consomem muita energia e que terão que ser sustentáveis.

O maior desafio para o setor reside no transporte por caminhões, trens, barcaças, navios e aviões, na sua maioria movidos a combustíveis fósseis. A redução e eliminação de emissões diretas de GEE, no caso do transporte de grandes modais, passa por vários programas de transição energética para disponibilizar combustíveis sustentáveis. Isso representa uma enorme oportunidade para a economia brasileira, a depender da habilidade política. O país conta com uma soma inigualável de vantagens competitivas para a produção de eletricidade, etanol, metanol, biocombustíveis, SAF, hidrogênio, amônia e produtos industriais e de insumos agrícolas verdes. Esses mercados, somados à exportação de energias renováveis, propiciam a escala necessária para que os preços finais sejam competitivos internacionalmente.

No Brasil e no mundo, já existem potenciais soluções criativas para novos combustíveis verdes, porém, o fornecimento suficiente para todos será um processo de anos. Esses projetos são como a jabuticabeira que leva 7 anos para começar a produzir mais o tempo que demoramos para plantá-la. A escolha de qualquer uma dessas soluções, também, é um desafio e representa uma aposta para o transportador, levando em conta que os equipamentos de transporte têm alto valor de investimento que precisam ser amortizados ao longo de muitos anos de uso. A aposta errada pode acelerar a sua obsolescência.

A segunda opção para o transportador, enquanto não houver combustíveis sustentáveis para todos, será a compensação de suas emissões, o que deverá impulsionar o inovador mercado de créditos de carbono, que deverá estar regulamentado no Brasil até o final de 2024. Esse mercado, também, não entrega um insumo de baixo investimento e irá impactar no custo. E, para ser um instrumento de troca confiável, há a necessidade de métricas precisas para a certificação das ações de preservação ou reuso de recursos, a serem monitoradas, tokenizadas, validadas e transacionáveis na forma de moeda verde, de fácil comercialização, com transparência, visibilidade e reputação acima de qualquer suspeita de um greenwashing. Também, nesse caso, não haverá suficiente estoque de créditos de carbono confiáveis para todos a curto prazo.

Esses desafios, porém, se apresentam como enormes oportunidades nesse novo cenário no mundo da logística. A terceirização para operadores logísticos deverá crescer à medida do seu sucesso na capacidade de prover uma cadeia de suprimentos comprovadamente verde ao menor custo e maior velocidade possível.

Por outro lado, a localização e dispersão geográfica da geração de energias renováveis e a dificuldade de armazenagem e transporte de seus subprodutos como o hidrogênio, por exemplo, que por sua característica tem reduzida eficiência energética em movimentações de longa distância, cria a oportunidade para a economia brasileira de uma renovada industrialização baseada no Green Powershoring, com grande apelo na atração de indústrias de todo o mundo e significativa inversão no fluxo de mercadorias internacionais.

O desafio da transição energética e da aplicação da IA é tamanho que precisará da cooperação de todos os países, empresas e centros de pesquisa. Precisará de entendimento compreensivo da oportunidade por todos e incentivos para inovação e educação. Para o Brasil, representa uma oportunidade única para melhor distribuição de renda via geração de muitos novos empregos na expansão do agronegócio para energia em áreas degradadas, recuperação, modernização e aumento do parque industrial e consequente crescimento econômico, desde que amparado por políticas direcionadas para esses fins.

Dada a importância desses desafios e oportunidades para o setor, um novo Guia Marítimo associado à Nürnberg Messe oferece uma jornada na transição energética internacional que inclui: Espaço colaborativo em eventos de conhecimento e debate, incluindo exposição de produtos e serviços com imersões internacionais, aliado a um SAAS data-driven com geolocalização para transparência, análise e projeções.

Como um dos meios de discussão e parte da jornada, publicaremos uma série de entrevistas com importantes players do mundo da logística internacional que mostram a percepção e a criatividade das empresas nessa transição para o mundo da IA e da transição energética.

O desafio é para todos. Junte-se a nós: hydrogendialoguelatam.com | greenenergybrazil.com




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