Novo PAC é um alento para os transportes, mas deveria estimular a multimodalidade e a logística mais sustentável

Aposta em revitalização de malha ferroviária é acerto, diz especialista da project44, mas direcionamento de recursos para portos e hidrovias ainda é baixo

O Governo Federal lançou oficialmente no dia 11 agosto o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ao todo, o volume de investimentos deve chegar a R$ 1,7 trilhão, a serem destinados a projetos de nove grandes eixos de atuação. Um deles é o “Transporte Eficiente e Sustentável”, que prevê cerca de 300 empreendimentos com aportes que devem alcançar R$ 349 bilhões, entre recursos públicos e privados.

Além da construção de novas rodovias, os recursos preveem a manutenção da malha rodoviária em todos os estados, e investimento também em hidrovias, portos e aeroportos. No entanto, a distribuição dos recursos chama a atenção. Enquanto as rodovias devem receber investimentos de R$ 185,8 bilhões, ferrovias devem ficar com R$ 94,2 bilhões; portos, com R$ 54,8 bilhões; aeroportos com R$ 10,2 bilhões; e hidrovias com apenas R$ 4,1 bilhões.

“As rodovias representam 53% dos investimentos previstos, ao passo que as hidrovias, somente 1,14%. Os percentuais equivalem mais ou menos às participações de cada um dos modais no transporte de cargas no Brasil, o que, a princípio, poderia fazer sentido. Mas temos de considerar que outros modais não são mais utilizados justamente por falta de infraestrutura adequada”, comenta Pierre Jacquin, vice-presidente para a América Latina na project44.

“O planejamento também é intrigante pelo fato de ‘Desenvolvimento e Sustentabilidade’ ser a bandeira do Novo PAC. Como todos nós sabemos, o transporte rodoviário é mais poluente e tem menor rendimento do que outros modais, como o ferroviário e o hidroviário. Não se trata de desconsiderar a importância das estradas, fundamentais para a malha logística do país, tampouco de ser pessimista quanto à efetividade dos projetos, que devem diminuir o Custo Brasil. Mas esperávamos ações mais voltadas ao fomento das redes multimodais, que têm tudo para promover operações mais eficientes e, ao mesmo tempo, mais ‘verdes’”, avalia o executivo.

Jacquin lembra que diversos países com grandes extensões territoriais investiram, ao longo do tempo, em uma malha ferroviária robusta. “Os Estados Unidos têm cerca de 150 mil quilômetros de ferrovias. A China, mais de 100 mil quilômetros. A Rússia, 85 mil. A Índia, 68 mil. Por sua vez, o Brasil, embora seja a quinta maior nação do mundo em área, possui apenas 28 mil quilômetros de trilhos instalados, com apenas 12 mil utilizados no transporte de cargas”, ilustra.

Em entrevista na segunda-feira (21/08) ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, o ministro dos Transportes Renan Filho (MDB) anunciou que o governo pretende lançar um Plano Ferroviário Nacional, com o objetivo de ampliar a participação das ferrovias no transporte de cargas no Brasil dos atuais 17% para 40% em doze anos.

“O Brasil, com suas dimensões continentais e sua diversidade geomorfológica, abriga uma capacidade imensa para o desenvolvimento da malha logística. Além das ferrovias, a navegação interior, atualmente explorada em apenas um terço do seu potencial, e a cabotagem trazem possibilidades fantásticas para dinamizar os transportes no país, abrindo caminho para uma realidade multimodal capaz de reduzir os custos logísticos no mercado interno. Esperamos que esse potencial seja explorado e que norteie cada vez mais as políticas públicas relacionadas à infraestrutura”, acrescenta Jacquin.


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