Recuperar o real é necessário, mas perigoso

Ajuste das contas externas persiste em ritmo mais lento em agosto, enquanto valorização cambial segue como risco.

O balanço de pagamentos de agosto de 2016 voltou a registrar déficit das transações correntes, de US$ 579 milhões, de acordo com a nota de Setor Externo divulgada ontem pelo Banco Central. O resultado apresentou um déficit menor em relação ao mesmo mês do ano anterior, quando havia registrado US$ -2,59 bi e também consideravelmente menor em relação ao mês de jul/16 (déficit de US$ 4,05 bi). Apesar do resultado ruim, este foi o menor déficit para o mês nos últimos 6 anos.


Dentro das Transações Correntes, o saldo da Balança Comercial seguiu superavitário, registrando saldo positivo de US$ 3,9 bi, abaixo do resultado jul/16 (US$ 4,3 bi), devido ao avanço das importações (+9,3%) superior ao avanço das exportações (+4,3%), em relação ao mês anterior. A conta de serviços apresentou despesas líquidas de US$ 2,2 bi em ago/16, -16,1% na comparação interanual. A nota demonstrou reduções nas despesas líquidas de serviços de propriedade intelectual; aluguel de equipamentos; e telecomunicação, computação e informações, respectivamente, 18,7%, 10,7% e 5,3% em ago/16 na variação interanual. Já a conta de viagens internacionais registrou despesas líquidas de US$ 690 mi, cerca de -16,5%, na mesma base de comparação. As receitas com viagens somaram US$ 166 mi, +38,1%, devido aos gastos dos turistas estrangeiros durante os jogos olímpicos do Rio de Janeiro, ao passo que as despesas de turistas brasileiros no exterior cresceram 2,3%.

Nas rendas primárias, que somaram despesas líquidas de US$ 2,5 bi no mês (-2,6% a/a), as remessas líquidas de lucros e dividendos registraram US$ 1,8 bi (-34,1%), ao passo que as despesas líquidas de juros no mercado externo ficaram em US$ 770 mi (-26,8% a/a). No mês, as receitas líquidas da conta de renda secundária totalizaram US$ 214 mi.

Já a Conta Financeira registrou superávit de US$ 116 mi no mês, auxiliado principalmente pelo Investimento Direto no País (IDP), que somou US$ 7,2 bi em agosto. Deste resultado do IDP, US$ 5,5 bi corresponderam a participação no capital, ao passo que houve créditos líquidos de US$ 1,7 bi referentes a empréstimos intercompanhias. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, houve aumento do IDP de 37,3%. Já no acumulado de janeiro a agosto de 2016, contra mesmo período de 2015, o IDP apresenta recuo de 2,5%. Destacamos que o IDP no acumulado em 12 meses ainda segue relevante e financiando o déficit em conta corrente.

Porém, a valorização da moeda brasileira pode pôr em xeque o ajuste das contas externas, ou mesmo abortar o incipiente dinamismo de alguns setores da economia ligados à exportação, que se beneficiaram recentemente.


Em 12 meses, o déficit em transações correntes recuou marginalmente de US$ 27,8 bi para US$ 25,8 (1,46% do PIB), revelando que o ritmo de ajuste nas contas externas aparentemente abrandou. O déficit em conta corrente segue majoritariamente financiado pelo IDP, que, no mesmo período, somou 4,17% do PIB, ou seja, US$ 74 bi, superando o déficit em conta corrente acumulado nesses 12 meses.

O efeito da desvalorização cambial, juntamente com a recessão econômica, seguiu forçando os ajustes nas contas externas ao longo do ano anterior, que seguiu corrigindo-se rapidamente no primeiro semestre de 2016. Contudo, novas rodas de valorização da moeda brasileira podem interromper a melhora das contas externas, bem como cessar o dinamismo criado na economia junto aos setores mais ligados à exportação, que se beneficiaram da desvalorização cambial.


Não podemos incorrer no erro de deixar o câmbio de modo a sobrevalorizá-lo de maneira incompatível com as condições macroeconômicas - que não são as melhores de maneira a justificar esse efeito - apenas para segurar a inflação. Esse instrumento se demonstrou bastante destrutivo nos últimos anos, especialmente para a indústria brasileira.

Escrito por:

Parallaxis

A Parallaxis automatiza a coleta dos dados diretamente na fonte e realiza o tratamento estatístico, a fim de elaborar relatórios estratégicos que possibilitam aos clientes traçar cenários, estratégias de inserção nos mercados, direcionar investimentos e outras decisões. A empresa cria portais com informações e indicadores setoriais atualizadas em tempo real, a partir de algoritmos de data mining que capturam os dados (inputs) e alimentam o sistema que através da programação dos motores de cálculo que geram os indicadores setoriais e econômicos (outputs) apresentados numa plataforma online.
O desafio primordial da Parallaxis é romper com as análises econômicas convencionais, buscando ferramentas de inteligência artificial para “enxergar aquilo que o mercado não vê”. Com as ferramentas personalizadas para cada cliente, as nuances do mercado podem ser acompanhadas em tempo real por meio de algorítimos que possibilitam análises simples e diretas.

O Guia Marítimo News publica somente versões compactas dos relatórios Parallaxis. Os relatórios originais são preparados pela Parallaxis Consultoria e distribuídos apenas para clientes, com a finalidade única de prestar informações sob indicadores econômicos em geral. Não possuindo a Parallaxis Consultoria qualquer vínculo com pessoas que atuem no âmbito das companhias analisadas, assim como a empresa não recebe remuneração por serviços prestados ou apresenta relações comerciais com as companhias analisadas. Apesar de ter sido tomado todo o cuidado necessário de forma a assegurar que as informações no momento em que as mesmas foram colhidas, a precisão e a exatidão de tais informações não são por qualquer forma garantidas e a Parallaxis Consultoria por elas não se responsabiliza. Os preços, as opiniões e as projeções contidas nos relatórios estão sujeitos a mudanças a qualquer momento sem necessidade de aviso ou comunicado prévio. Não podem ser interpretados como sugestão de compra ou de venda de quaisquer ativos e valores imobiliários. Não podem ser reproduzidos, distribuídos ou publicados por qualquer pessoa, para quaisquer fins.



Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.