País que tem fome de futuro, vive dieta magra

Mesmo vendo o Brasil como o país da oportunidade, especialistas ressalta que ele só crescerá aquilo que agentes econômicos conseguirem investir

O presidente Michel Temer deixou claro que para sermos “um país decente” é necessário passar por reformas econômicas, mesmo que incômodas. Mas como fazer o País voltar a crescer? A PEC de gastos públicos e a reforma da previdência são duas prioridades urgentes nesse quadro. Junto a elas a doses generosas de financiamento externo, redução do endividamento das empresas e aumento da produtividade também são soluções bem-vindas e necessárias.

A visão otimista de Mansueto Almeida, secretário de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda, sobre o futuro da economia brasileira no curto prazo é de que o governo deve conseguir aprovar as medidas do ajuste fiscal no Congresso Nacional e, assim, retomar o crescimento. “As propostas de reforma do atual governo são ‘audaciosas’ e cortar despesas gradualmente é a única forma de fazer os ajustes sem aumentar impostos. Para isso, a aprovação de um teto para gastos públicos e a reforma da previdência são essenciais”, disse, lembrando que o Brasil voltando a crescer todos os anos, as despesas devem caie 0,5% do PIB. “No final dos anos teremos um superávit primário sem ter que aumentar os ajustes fiscais”.

Para Paulo Leme, presidente do banco Goldman Sachs, nesse quesito o setor privado terá uma responsabilidade grande de contribuir com a retomada do crescimento da economia. De acordo com ele, o financiamento externo é fundamental para permitir um ajuste fiscal gradual e dar tempo para as empresas reorganizarem seus balanços. “Compete a nós, empresários, continuar dando sinais crescentes de que estamos avançando”, incentivou.

Um dos principais especialistas em produtividade do Brasil, Regis Bonelli, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, ressaltou que crescimento do PIB e aumento da produtividade caminham juntos no longo prazo e, para isso, precisam que os investimentos aumentem. “Vamos crescer no curto prazo, mas pensando em um horizonte de 10 a 15 anos, o crescimento do PIB e da produtividade dependem da taxa de investimento”, explicou.

Segundo o pesquisador, a produtividade brasileira caiu porque o crescimento da economia antes da recessão foi baseado no setor de serviços, e não na agropecuária e na indústria, segmentos com produtividade mais alta. Além disso, a infraestrutura do país ficou congestionada. Nessa frente o país investe apenas 2% do PIB. De acordo com cálculos do Banco Mundial, ter menos de 3% do PIB alocado no setor significa depreciação da – no caso do Brasil – infraestrutura já existente.

Futuro

Apesar de ser um país com riscos de investimento, os especialistas Paulo Guedes, sócio da gestora Bozano Investimentos, e Daniel Goldberg, sócio da gestora Farallon Latin America, apontam não ser bem assim. Apesar de Guedes ser mais otimista e Goldberg mais cauteloso, os dois concordam que o Brasil está no radar dos investidores pelas oportunidades de crescimento. “É tão mais fácil fazer tratamento de canal com anestesia do que sem e é como faremos”, disse Guedes, em uma alusão a reforma fiscal que está prevista para ser feita no país, hoje com um cenário econômico bem mais estável do que antes do plano real.

Goldberg concorda que há oportunidade, mas há também um risco maior do que o custo de se investir no país. “A despeito do que se pensa, a bolsa brasileira não está barata”, afirmou ele. Quando se calcula o retorno de se investir no Brasil comparado a investir em negócios, aportar recursos em companhias de infraestrutura mostra-se uma boa escolha. “Isso em um primeiro momento. Depois, com a queda do risco Brasil, ativos de empresa de setores relacionados, como o de cimento, tendem a ser tão atrativos quanto”, finaliza.

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