“Decência e decoro”

Considerações sobre as atitudes após os ataques ao aeroporto de Bruxelas

Em artigo publicado no portal de transportes aéreos ATW (Air Transportation World), a editora Karen Walker discorreu sobre as lições a serem extraídas dos ataques terroristas ao aeroporto de Bruxelas em 22 de março (Leia no Guia). Assim como os ataques ao sistema de metrô, o episódio foi de difícil digestão para o mundo todo. Há razões para se crer, entretanto, que dois eventos subsequentes resultaram dos ataques.

O primeiro foi a greve de um único dia, e sem anúncio prévio, organizada pelos controladores de tráfego aéreo da Bélgica, que causaram interrupção de serviços no aeroporto de Bruxelas menos de dez dias depois que o aeroporto havia reiniciado os serviços após os ataques fatais.

Os controladores de tráfego aéreo manifestavam-se em protesto contra a Belgocontrol, que fazia mudanças nos benefícios de aposentadoria dos funcionários.

A companhia mais afetada, obviamente, foi a Brussels Airlines, sediada no local, a primeira a ter limitações nos serviços com saídas a partir de Bruxelas depois do ataque, e que já havia perdido milhões de dólares em sua receita desde o bombardeio. Os funcionários vinham executando suas funções com extrema dificuldade Operacional, além de abalados emocionalmente.

Em declaração oficial, o o CEO da Brussels Airlines, Bernard Gustin, desabafou: “fizemos tudo o que podíamos para garantir o fluxo de milhares de passageiros até os seus destinos… Mantivemos isso sempre como prioridade, assim como oferecer o suporte necessário à nossa equipe. Só tenho a agradecer aos nossos clientes, por sua compreensão”.

“Tal postura e tal desprendimento contrastam drasticamente com a atitude dos controladores, que ficaram em casa enquanto os outros trabalhavam pesadamente para reconstruir o aeroporto e reconectar Bruxelas ao mundo” – diz a publicação do mercado aéreo.

Em um discurso excepcionalmente seco, o CEO Tony Tyler condenou a greve. “É o cúmulo da falta de responsabilidade interromper um serviço tão vital, e além disso fazê-lo sem aviso prévio, o que só pode ser visto como uma atitude maliciosa. Se não pudermos contar com a simples decência humana por parte desses profissionais tão bem recompensados, seria a hora de os governos encontrarem meios de garantir a retomada dos serviços de controle de tráfego aéreo”, disse ele.

Igualmente inapropriada foi a declaração da Comissão Europeia de Transporte e Mobilidade, que emitiu um documento apenas um dia após os ataques, listando aos passageiros uma série de direitos que poderiam reivindicar, enquanto a equipe das companhias, igualmente afetadas, ainda estava em choque e sofrimento.

“Decência e decoro”, clamou a jornalista da Karen Walker.

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