O cenário é de preocupação

Presidente da Fiorde lembra que precisamos investir na cabotagem e nas ferrovias como modais para longas distâncias. “Afinal, somos um país com dimensões continentais”.

“O cenário é de preocupação”, apotou o presidente da Fiorde Logística Internacional, Milton Lourenço, em um bate-papo exclusivo com o Guia Marítimo para o Especial Intermodal. O executivo traçou um panorama do País e, em seu diagnóstico, disse que “a competitividade brasileira é diretamente afetada pelo chamado custo Brasil, que engloba alta carga tributária, custos portuários, transportes, encargos trabalhistas, financiamentos, energia e telecomunicações e, finalmente, a regulamentação governamental. Sem contar as deficiências na infraestrutura logística”.

Para ele, planos como o PIL (Plano de Integração Logística), lançado em 2012, surgiram como uma tentativa de modernizar parte da infraestrutura do País, mas, por enquanto, só causaram frustrações. “Basta ver que, em 2012, o governo havia anunciado a construção de 10 mil quilômetros de novas ferrovias, mas nenhum trecho chegou a sair do papel. Para os portos, o governo previa investimentos de R$ 37,4 bilhões, mas, assim como no caso das ferrovias, nenhum projeto saiu da gaveta”, disse.

Sobre o panorama do comércio exterior atualmente, Milton Lourenço avisa que “o Brasil tem regredido, deixando de ser um país exportador de produtos manufaturados para voltar a ser um exportador de matérias-primas”. Segundo ele, é preciso não apenas investir em inovação da indústria, mas agregar valor aos produtos básicos, para que o país volte ao patamar anterior. “É de se registrar, porém, que a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) apoiou 12.212 empresas no processo de promoção das exportações e internacionalização de seus negócios em 2015, número 14,8% maior do que o registrado em 2014. Para que esse número continue a crescer, é fundamental ajudar as pequenas empresas, como no aumento das linhas de financiamento à exportação e na desburocratização dos trâmites aduaneiros”, comentou o executivo.

Lourenço afirma que o País hoje paga pelo amadorismo que marcou as três últimas administrações federais que, “imbuídas de teorias terceiro-mundistas, relegaram o Brasil a uma posição marginal no processo de dinamização do mercado global, apostando apenas no avanço das exportações para os mercados da América Latina e África, a chamada política Sul-Sul, em detrimento das relações com os Estados Unidos, o maior mercado do planeta, e a União Europeia”, lembrando que poderíamos ter avançado naqueles mercados periféricos, sem abandonar os mais importantes. “Afinal, uma política não invalida a outra”, diz o presidente da Fiorde.

Para os portos, Lourenço lamentou os investimentos que não ocorreram, como os R$ 37,4 bilhões prometidos pelo governo, cujos projetos não saíram da gaveta. “A previsão é de arrendamento de 50 áreas para movimentação de carga em portos públicos, administrados pela União. E 63 autorizações para construção de portos privados, os chamados TUPs. Por enquanto, foram arrendados três terminais no Porto de Santos. Espera-se que a modernização dessas instalações propicie índices de produtividade cada vez maiores, atraindo mais cargas de celulose e de granéis sólidos vegetais”.

Milton Lourenço afirma que, além das falhas na infraestrutura, a competitividade brasileira é diretamente afetada pelo chamado custo Brasil, que engloba alta carga tributária, custos portuários, transportes, encargos trabalhistas, financiamentos, energia e telecomunicações e, finalmente, a regulamentação governamental – isso sem contar os custos da corrupção, que ele também acrescenta, “embora não seja usual”.

Quanto à situação do comércio exterior do Brasil de uma maneira geral, Lourenço diz que o ponto fulcral está na existência de uma infraestrutura logística que faz com que o produto nacional não alcance competitividade internacional. “Precisamos investir na cabotagem e nas ferrovias como modais para longas distâncias. Afinal, somos um país com dimensões continentais. Isso não quer dizer que temos de ‘esquecer’ as rodovias. O modelo de parceria público-privada (PPP) é uma ainda alternativa adequada para os casos em que a sua aplicação é viável, pois há locais ainda em que só mesmo com investimento público será possível desbravar sertões”.

Com foco no desenvolvimento da logística brasileira como ferramenta para melhorar a competitividade e promover o desenvolvimento do País, o Guia Marítimo vai realizar, no dia 15 de setembro de 2016, o evento “A Hora da Cabotagem”, no Hotel Meliá em São Paulo - SP. A programação está disponível no site A Hora da Cabotagem, e as inscrições já estão abertas, com descontos especiais para “early birds” até a data de 05 de agosto. 


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