E-Commerce exige flexibilidade, porém aumenta riscos logísticos

Como fazer para equacionar a necessidade de serviços ágeis, sem abrir mão da solidez do operador logístico?

Crescente nas economias mundiais, a atividade de e-commerce vem desenhando novas teorias e parâmetros para o transporte, distribuição e logística. Muito mais dependentes de serviços urgentes, os players desse mercado precisam buscar parceiros flexíveis e abertos a negociações que às vezes envolvem risco, justamente na contramão das grandes organizações.

Em evento realizado pela Fundação Getúlio Vargas para apresentação de uma pesquisa sobre os níveis de confiança que permeiam a relação entre o embarcador e o operador logístico, o Coordenador de Transportes da Livraria Cultura, Fabio Wink, levantou a necessidade que tem enxergado de buscar parceiros menores, especialmente para a região de São Paulo, onde concentra entregas com maior demanda por agilidade.

“Muitas vezes, preciso de urgência e, para isso, um parceiro flexível. As grandes empresas desse mercado estão se tornando cada vez mais inflexíveis, com procedimentos de cadastro, pré-aprovações e outras formalidades, de modo que hoje vimos trabalhando com empresas pequenas e locais que não exigem tanta complexidade”, explicou Wink.

Em pesquisa realizada pelo E-bit/Buscapé, os dados do E-commerce mostraram faturamento de R$ 9,75 bilhões no primeiro trimestre de 2016 no Brasil, um crescimento nominal de 1%, considerado bastante expressivo em um cenário de crise. “O comércio eletrônico tem se mostrado como um setor muito atrativo aos consumidores e, apesar da crise econômica, o setor apresentou uma leve elevação se comparado com o varejo off-line”, comentou André Ricardo Dias, diretor executivo da E-bit/Buscapé, que vislumbra ainda um crescimento de 8% até o fim de 2016, “motivado também pelo aumento das vendas via dispositivos móveis”.

Com experiência na prestação de serviços logísticos, o atual Gerente Nacional de Logística da Danone, Fábio Vivas, reconhece também que, mesmo dentro das grandes corporações, há serviços que exigem particularidades, como agilidade, preço ou flexibilidade, e que nem sempre os grandes operadores conseguem oferecer, por seguirem políticas mais amplas de compliance. Ele afirma que, quando se discutem contratos com as grandes empresas, há parâmetros que garantem muito mais segurança à operação, o que é bastante vantajoso para determinadas áreas da logística. No entanto, apesar de os operadores locais não dominarem todas as especificidades, “muitas vezes com esse parceiro menor, há uma reciprocidade, o cliente também ajuda o fornecedor a se desenvolver como operador e ele, por sua vez, pode ser mais rápido para ajudá-lo em situações de crise, porque os grandes, na crise, vão primeiro consultar o contrato”.

De acordo com Fábio Vivas, o relacionamento com o fornecedor menor fica muito baseado na importância que o cliente representa para ele. “Às vezes, o pequeno fornecedor lhe passa a confiança que você precisa, mas não consegue passar a capacidade robustez que você vai precisar”. Vivas ressalta, portanto, que “tudo depende de quem está comprando o serviço, em que tipo de projeto do cliente o preço exerce influência direta no produto entregue, e qual a dimensão de risco que a empresa está disposta a correr”.

A opinião é compartilhada por Priscila Miguel, a professora da FGV e pesquisadora do GVcelog, que explica que a assimetria de poder entre cliente e fornecedor afeta a relação de confiança: “a parte mais fraca investe muito para mostrar atratividade, se tornar mais atraente e ganhar a confiança”.

Nesse aspecto, o conselheiro da Abralog, Luiz Ricardo Marques Pedro, concorda que há dois mundos, entre os quais os clientes e fornecedores circulam: um seria formado pelas grandes empresas, com políticas restritivas de compliance, e outro, dos operadores logísticos que vão nascendo das necessidades atuais – e o e-commerce seria uma delas –, muitas vezes derivados de antigas transportadoras. Para driblar a situação, é necessário buscar um pouco de especialização, como enfatiza: “não dá para pensar em grandes operadores que fazem com a mesma eficiência o varejo, o automotivo, o refrigerado e o e-commerce, por exemplo, uma vez que são logísticas totalmente diferentes”.

Outra questão levantada por Fábio Wink, da Livraria Cultura dizia respeito à parceria com o operador pequeno: é saudável ajudar o fornecedor a crescer? Na opinião de Rodrigo Bacelar, da Penske Logística, a matriz de decisão passa pelo questionamento sobre o nível de serviço desejado: “para aumentar a quantidade de serviços delegados ao fornecedor pequeno, é necessário estudar a sua capacidade financeira, pois há o risco de sobrecarregar o fornecedor e, quando você mais precisa, ele pode ‘se enrolar’ e parar toda a operação”, conta Bacelar, citando um caso que ele próprio vivenciou. “Aumentamos os serviços passados a uma transportadora e ele quebrou, deixando mais de 50 caminhões parados no Brasil todo, sem que percebêssemos que essa era uma possibilidade”.

Rodrigo Bacelar reconhece, no entanto que a atividade de e-commerce é muito competitiva, especialmente pela logística capilar com multicanais, um mercado em que muitas grandes empresas de logística ainda não estão dispostas se aventurar justamente por fatores de risco, como os caminhões, motoristas, roubo de cargas, riscos e necessidade de contratação de pequenos prestadores, como ciclistas e motoboys. “É necessário medir esse risco, mas não se pode deixar de ter a preocupação, tanto com o serviço quanto com o nome da empresa, que está em jogo”, alerta o Gerente Comercial de Consumo e Varejo da Penske Logística.

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