“IMO 2020 = M&A?”

 


Em relatório divulgado no último dia 01.04 a Drewry alerta que “armadores financeiramente vulneráveis podem ser empurrados para fusões e aquisições pelos custos extras associados à nova lei de combustíveis com baixo teor de enxofre”. E questiona: “Se isso acontecer, como a concorrência nas principais rotas pode ser afetada?”

Basicamente o raciocínio é que a indústria ainda não se recuperou da crise financeira global de 2009 e das enormes perdas ocorridas desde então e, com isso, ao avaliar a estabilidade financeira dos armadores por meio do Altman Z-Score, muitos estariam na chamada “zona de perigo”, a despeito dos resultados positivos do últimos trimestre de 2018.

A consultoria alerta, sem querer ser demasiadamente alarmista, que caso as empresas de navegação não consigam lidar com a miríade de custos extras associados à nova lei (BAFs irrecuperáveis, custos de capex para instalação de scrubbers, maiores custos de manutenção e capital de giro adicional para custeio do combustível Low Sulphur) existe o potencial do IMO 2020 acionar outra grande onda de bancarrota de armadores e/ou desencadear mais fusões e aquisições defensivas.

A questão é que, apesar das fusões e aquisições anteriores terem dado um controle quase total do mercado global a um punhado de linhas, ainda há competição em algumas das principais rotas leste-oeste geradoras de receita e de grande volume, contudo, o relatório aponta que em rotas relativamente pequenas o mercado encontra-se “altamente concentrado”, tais como a Europa > Costa Leste da América do Sul da América do Sul, onde os fretes já estão subindo de forma mais consistente.

Essa análise está bastante alinhada com um levantamento recente do CTS (Container Trades Stratistics) publicado pelo DynaLiners que mostra que no 4T.18 os fretes com origem na Costa Leste da América do Sul subiram entre 15% (Ecna e N.Europe) e 20% (Asia), sendo que na rota mencionada pela Drewry (Europe >ECSA) os fretes teriam subido mais de 10% no mesmo período.

A Drewry concluiu seu relatório com uma série de simulações de M&A (até os mais improváveis) salientando que uma nova e acentuada onda de consolidação do mercado seria suficiente apenas para mover as grandes rotas para uma zona moderadamente concentrada, ou seja, os armadores ganhariam um pouco de poder de fixação de preços, mas certamente não o suficiente para poder dar as cartas.

Escrito por:

Leandro Barreto, Sócio-Consultor SOLVE Shipping

Administrador de empresas, especializado em economia internacional pela Universidade de Grenoble e em Inteligência Competitiva pela FEA/USP. Há mais de dez anos atuando no segmento, foi gerente de Inteligência de Mercado na Hamburg-Süd, professor pelo IBRAMERC e Diretor de Análises da Datamar Consulting. Atualmente, coordena projetos independentes de consultoria com forte atuação junto a armadores, autoridades portuárias, embarcadores e entidades públicas voltadas para o desenvolvimento do setor portuário.



Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.