Pesquisa aponta impactos da alta dos fretes marítimos internacionais para empresários brasileiros

No primeiro semestre de 2021 pudemos observar que no mundo a vacinação contra o Covid-19 tem avançado e já há volta de diversas atividades em países que já estão mais avançados na imunização (como por exemplo na Coreia do Sul, Nova Zelândia, Finlândia e outros). No entanto, a logística internacional está enfrentando atualmente uma das maiores altas dos fretes marítimos já vistas, causadas pela falta de diversos equipamentos e contêineres para embarques.

O cenário atual que vemos é um aumento nos custos de transporte internacional, sendo que o valor para um embarque China-Brasil de um contêiner de 40 pés era de USD 2 mil antes da pandemia. Hoje, o valor ultrapassou a barreira dos USD 10 mil, além dos atrasos e disputas para que a carga seja embarcada nos espaços cada vez mais escassos dos navios. Há casos em que empresas esperam semanas para que consiga realizar o booking da mercadoria.

Como que isso começou? No início da pandemia causada pelo Covid-19, o comércio internacional desaqueceu no primeiro momento, com isso houve a paralisação de alguns navios de armadores e cancelamento de viagens. Mas com o reaquecimento da economia provocado pelo início das vacinações, os problemas logísticos internacionais começaram a vir à tona e se acumularem. O mais crítico foi o desarranjo e pouca distribuição dos contêineres mundialmente, o que acarretou a falta cada destes em diversos lugares do globo - principalmente o Brasil.

Além disso, congestionamentos em diversos portos marítimos começaram a ocorrer, com mais atrasos para embarques e desembarques gerando uma escassez de equipamentos. Para contribuir com isso, em março de 2021 um dos maiores navios cargueiros do mundo, o Ever Given (com seus 220 mil toneladas e 400 metros de comprimento), encalhou no canal do Suez no Egito.

O caso mais recente que também afetou a crise foi o surto de coronavírus em Yantian (Guangdong) que começou em maio. O porto é um dos mais movimentados do mundo (cerca de 13 milhões de TEUs movimentados por ano). O governo local implementou diversas medidas de contenção e restrição, o que na prática desacelerou as operações do terminal.

Em pesquisa realizada em conjunto com 18 entidades setoriais brasileiras (desde indústria de alimentos e bebidas, decoração, equipamentos e outros) e 90 empresas inseridas no comércio exterior, houve um aumento médio de 93% nos valores de frete marítimo nos últimos 3 meses, sendo que há casos que ultrapassam 300%. Cerca de 32% das empresas já estavam com dificuldades com os fretes desde janeiro, caso que aumenta para 70% a partir de março. O fator mais crítico com relação a isso é que 57,3% dos entrevistados afirmam que já perderam vendas devido ao problema marítimo atual. Dentre as principais razões mencionadas que explicam o prejuízo visto são: alto custo da operação logística (40%), tempo de espera elevado para produto chegar no destino (30,34%) e indisponibilidade de carga para embarque (12,41%).

Marcelo Brandão, diretor da Talura (marketplace de fretes internacionais para empresas), recomenda ter cuidado ao conversar com fornecedores de frete marítimo “Desde janeiro vemos aumentos sucessivos nos preços dos embarques marítimos de até 300% só neste ano. Também várias empresas apontam a demora para que consigam fazer o booking de suas cargas, devido justamente à falta de equipamentos, contêineres e espaço nos navios. É preciso precaução na negociação com fornecedores, pois alguns podem prometer um prazo menor de embarque, sendo que temos visto uma espera de pelo menos 3 semanas no cenário geral.

O professor Luis Carlos Berti, especialista em Economia e Comex na ESPM, que em tal cenário recomenda para que sua empresa tenha um alinhamento maior com seus clientes importadores “Não é uma coisa simples fazer de hoje para amanhã – você precisa entender a necessidade do seu cliente. É uma oportunidade de conversa para restabelecer esses elos antigos e para que as negociações sejam feitas de forma casada. Além de tudo, você precisa ter clareza de como sua empresa está dentro do cenário competitivo, com toda essa situação logística e mais a carga tributária que temos no Brasil, naturalmente você vai ser impactado financeiramente.

Diante de tal situação, alguns especialistas apontam que os valores de frete só se normalizarão em 2023-2024, tempo para que ocorra a movimentação de contêineres para os lugares que estão em falta de tal equipamento, além da construção de mais navios cargueiros para atender a demanda.

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Opinião

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