Como analisar e comparar adequadamente propostas comerciais de transporte de cargas

Transportadoras – Análise de proposta comercial

Cada transportadora possui um formato padrão de proposta comercial: algumas incluem todos os custos que já são possíveis de prever, apresentando uma proposta mais enxuta, enquanto outras separam o custo em diversos itens: Frete Peso, Pedágios, Seguro de Casco, GRIS, Emissão/Despacho de CT-e, Rastreamento/Monitoramento, Seguro de Carga, dentre outros.

Oras… se sabemos que o pedágio terá que ser pago, que o CT-e terá que ser emitido e que a carga deverá ser assegurada, por que não incluir esses custos logo no valor inicial da proposta, facilitando a vida de quem vai analisar/comparar as diversas propostas recebidas?

Essas diversas taxinhas, que já sabemos que irão incidir na operação, acabam por confundir o importador/exportador, causando um erro muito comum (e assustador, diga-se de passagem), no qual muitos deles comparam o preço “all in” de uma proposta comercial apenas com o Frete Peso de outra. Dessa forma, o cliente está comparando um serviço de transporte completo (que já inclui pedágios, seguro, rastreamento, etc) com um serviço no qual essas taxas ainda irão incidir e terão que ser contabilizadas.

Dado que não estamos falando de custos OPCIONAIS, mas sim de custos OBRIGATÓRIOS, que incidirão COM CERTEZA, é como se uma concessionária de veículos nos desse o preço de um carro que vem com pneus e bancos inclusos, enquanto outra desse o preço do mesmo carro, mas sem pneus e bancos (tais valores constariam numa tabela de custos adicionais). E, acredite se quiser, não é raro o cliente optar por comprar o carro que vem somente com a carroceria e, no momento de pagar o boleto, se dar conta de que os pneus e os bancos não estavam inclusos, e que o valor final do carro ficou mais caro.

Sendo assim, o primeiro passo para entender a proposta comercial é ler TODO o documento, linha por linha.

Custos adicionais no transporte

Infelizmente, antes de realizar uma operação, nem todos os custos podem ser previstos.

No caso do porto de Santos, por exemplo, só saberemos se a retirada do container cheio será em Santos ou no Guarujá, e se a devolução do vazio será em Santos, Guarujá, São Vicente, Cubatão ou Praia Grande, durante a própria operação.

Da mesma forma, dependendo da taxa de cambio no ato da nacionalização da carga, pode ser que seja exigida a utilização de uma escolta armada durante o trajeto, o que geraria um custo adicional que só seria sabido em cima da hora.

Além disso, no ato da descarga no cliente, pode haver um imprevisto e o importador não conseguir descarregar e liberar o caminhão dentro das horas livres acordadas com a transportadora. Nesse caso, haverá incidência do adicional de estadia do caminhão.

Estes são chamados custos ADICIONAIS: eles PODEM (ou não) ocorrer, não dependem da transportadora, e muitas vezes não podem ser previstos com precisão no momento do envio da proposta.

Sendo assim, embora não tenhamos certeza se esses custos incidirão ou não no ato da operação, é importante considerá-los quando analisando uma proposta comercial.

Tempo / Praticidade na coordenação do transporte

Mesmo que uma transportadora apresente todos os custos melhores do que outra, ainda existem outros fatores a serem analisados antes de se decidir por um fornecedor.

De nada adianta você contratar um frete rodoviário R$ 200,00 mais barato, se você tiver que gastar duas horas a mais para enviar a documentação para a transportadora, ligando para saber onde o caminhão se encontra, pedindo para corrigir a emissão do CT-e e implorando pelos dados do container retirado…

Hoje em dia, o TEMPO de uma pessoa vale muito, e essas 2 horas poderiam estar sendo investidas em outras tarefas, gerando uma economia/ganho maior para a sua empresa.

Então, contratar um transporte que tenha um custo direto menor, mas cuja prestação do serviço (coordenação e organização) requeira maior atenção e tempo despendido por parte do contratante, pode não ser a opção mais viável economicamente (e operacionalmente). Sendo assim, esse custo “indireto” deve ser levado em conta no momento de escolher a melhor alternativa.

Por fim, é muito importante conhecer a operação por completo (variáveis da carga e peculiaridades do transporte), entendendo quais são as variáveis que podem ocorrer na operação, e qual o impacto no custo caso cada uma delas ocorra.

O contratante deve ler toda a proposta, avaliando os pontos positivos e negativos de cada uma, e ter em mente que, muitas vezes, o menor frete não reflete o melhor valor ofertado, devendo ser considerados custos adicionais como retirada em outros terminais, horas livres para carregamento, horas extras, prazo de pagamento, frete morto, dentre outros.

Somente quando o cliente consegue colocar as propostas nas mesmas bases é que ele consegue comparar o valor final a ser pago por cada uma, fazendo uma analise justa entre as transportadoras e tomando a melhor decisão para a sua empresa.

Dessa forma, cabe ao comercial da transportadora fazer um trabalho de ensinar o cliente a analisar corretamente as propostas comerciais, de forma a não cair em pegadinhas e poder analisar o custo global da operação.

*Vitor Schäfer Serra é Diretor comercial RodoQuick Transportes.


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Opinião

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