COP30 acende alerta sobre emissões na logística e pressiona portos a acelerar descarbonização

Comércio global depende de rotas marítimas e infraestrutura eficiente; governo reconhece empresas que avançam em práticas ESG no setor

A COP30, realizada em Belém, tem ampliado o foco sobre setores considerados cruciais para a transição climática, entre eles o de logística e infraestrutura portuária, tradicionalmente associados a operações de alta intensidade de carbono. Em um cenário em que entidades internacionais estimam que países emergentes precisarão mobilizar até 2,5 trilhões de dólares por ano até 2030 para cumprir metas climáticas, o papel de portos, cadeias de suprimentos e sistemas de transporte ganhou nova relevância.

O debate global apontou que a transformação do setor logístico é essencial para manter o compromisso de limitar o aquecimento a 1,5°C. Com o transporte marítimo responsável por cerca de 3% das emissões mundiais de gases de efeito estufa e por 80% do comércio internacional, especialistas destacaram que a descarbonização dessa cadeia tende a ser acelerada por regulações, novas tecnologias e pressões de mercado. Para o Brasil, país que depende de corredores de exportação e movimentação portuária estratégica, essa agenda representa tanto uma exigência quanto uma oportunidade de competitividade.

Foi nesse ambiente que o Ministério de Portos e Aeroportos anunciou, durante a conferência, os resultados do Pacto pela Sustentabilidade, criado no início do ano para avaliar práticas ESG em organizações do setor. Das 63 empresas inscritas, 36 foram classificadas, incluindo armadores, autoridades portuárias, operadores e terminais. O Selo Diamante, categoria mais alta da iniciativa, reconheceu empresas com comprovação de metas obrigatórias e adicionais, adesão ao GHG Protocol e atendimento às normas de transparência salarial.

Entre as operações reconhecidas está o Grupo Maersk, que apresentou iniciativas conduzidas pela Aliança Navegação e Logística e pela APM Terminals no País. Ricardo Rocha, presidente da Maersk para a Costa Leste da América do Sul, afirmou que o reconhecimento reforça a convergência entre metas climáticas corporativas e exigências globais. “Em nome da Maersk, agradeço ao MPor por mais esse reconhecimento aos esforços do grupo em liderar a descarbonização no setor logístico. Também gostaria de agradecer o empenho dos times envolvidos nessa frente e ressalto que receber o Selo Diamante é um endosso à nossa meta de ser NetZero até 2040. Seja em terra, mar ou ar, cada uma das iniciativas socioambientais contribui de forma concreta para a nossa jornada global de descarbonização”, disse.

A Aliança Navegação e Logística, braço de cabotagem do grupo, destacou a integração entre eficiência operacional, diversidade e sustentabilidade. “Para a Aliança é um orgulho representar a cabotagem nessa agenda que une eficiência, sustentabilidade e inclusão”, afirmou a presidente Luiza Bublitz.

No setor portuário, a APM Terminals destacou projetos de eletrificação e renovação tecnológica no País. “A construção da APM Terminals Suape como o primeiro terminal totalmente eletrificado da América Latina é um marco concreto na nossa jornada de descarbonização. Em paralelo, a substituição gradual de equipamentos a diesel por modelos elétricos na APM Terminals Pecém já está reduzindo emissões nas operações do dia a dia”, afirmou Daniel Rose, diretor-presidente da APM Terminals Suape e Pecém.

Segundo análises apresentadas durante a conferência, a próxima década deve ser marcada por três movimentos simultâneos: o aumento de exigências regulatórias internacionais, o crescimento de investimentos em infraestrutura verde e a digitalização profunda de operações logísticas. Relatórios de organismos multilaterais apontam que eletrificação de terminais, combustíveis de baixo carbono, sistemas de refrigeração limpos e corredores multimodais integrados tendem a concentrar parte relevante dos financiamentos futuros.

Para o Brasil, o debate realizado na COP30 indica que a infraestrutura logística precisará se adaptar rapidamente para atrair investimentos, reduzir emissões e manter competitividade em mercados onde a pegada de carbono já influencia decisões comerciais. Programas de certificação, como o Pacto pela Sustentabilidade, aparecem como instrumentos de estímulo e padronização em um setor que começa a absorver as demandas da transição energética global.



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