Impacto do Brexit no Brasil e no mundo

Enquanto divórcio freia economia mundial, no Brasil impactos são neutros

O assunto “Brexit” vem mexendo com o cenário mundial como um todo. A vitória da “saída” do Reino Unido da União Europeia (UE) poderá influenciar negativamente a já “moderada” retoma econômica da Europa, além de frear a economia mundial, como apontou a recente projeção do FMI (Fundo Monetário Nacional) para os próximos dois anos.

Um estudo publicado pela Comissão Europeia revela que, “na sequência do referendo, o crescimento (econômico) na zona euro deve abrandar para os 1,5% a 1,6% em 2016 e 1,3% a 1,5% em 2017". Sublinhando que este primeiro estudo, levado a cabo pela Direção-Geral de Assuntos Econômicos e Financeiros, na sequência do referendo britânico “não é uma previsão económica”, a Comissão Europeia - que só voltará a atualizar as suas previsões em novembro explica que, para ilustrar os potenciais efeitos do ‘Brexit’, analisou dois cenários, um mais “moderado” e outro mais “grave”, e ambos apontam para um recuo do crescimento econômico na Europa.

De acordo com o documento, a vitória da “saída” já levou a um aumento da incerteza, da volatilidade dos mercados financeiros e movimentos abruptos das taxas de juro, podendo um “período prolongado de incerteza influenciar a retoma modesta da economia europeia” ao fazer recuar o investimento e o consumo. Já de acordo com as projeções do FMI, a expectativa de crescimento global é de 3,1% em 2016 e de 3,4% em 2017, um recuo de 0,1 ponto percentual, para cada ano, em relação às projeções anteriores, segundo o relatório World Economic Outlook.

Segundo o Fundo, apesar de melhoras no Japão e na Europa no início de 2016, "o resultado do referendo no Reino Unido, que surpreendeu os mercados financeiros globais, implica a materialização de um risco descendente importante para a economia mundial"

A nova primeira-ministra britânica, Theresa May, chega a Berlim em sua primeira visita oficial para criar boas relações com a chanceler alemã, Angela Merkel. O objetivo é traçar as linhas de batalha do "Brexit". São elas que vão definir os termos da saída do Reino Unido da UE.

Segundo o Tratado de Lisboa, a negociação da saída do Reino Unido é da responsabilidade do Conselho Europeu, que agrega os líderes dos outros 27 Estados-membros. Porém, o papel de Merkel é crucial. E ambas concordam com uma coisa: “‘Brexit’ significa ‘Brexit’". A chanceler quer manter os laços com o Reino Unido, o quinto maior parceiro de negócios da Alemanha, mas a sua maior prioridade é manter unidos os restantes países da UE.

Brasil

O embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, assegurou que a saída do país do bloco da União Europeia abre perspectivas de ampliação de acordos comerciais com o Brasil, inclusive na área agrícola.  De acordo com ele, o Brasil é um dos países com grande interesse em reforçar os laços comerciais. Mas afirma: "Esse terá de ser passo a passo. Há vários países pedindo para fechar acordos conosco, mas temos de priorizar, pensar. É claro que o Brasil é muito importante para nós. Espero que nos próximos dez anos possamos até aumentar nossas relações”.

Uma pesquisa realizada pela Amcham (Câmara Americana de Comércio), que ouviu diversos empresários brasileiros apontou ainda que o Impacto do Brexit será pontual/neutra ou indiferente na visão de 64% dos empresários. Para 43% deles, o divórcio na Europa causará uma instabilidade apenas a curto prazo, seguida de manutenção do cenário atual. Outros 21% informaram acreditar que o processo terá baixo efeitos e impactos significativos nas operações brasileiras das empresas ou na economia.

Sobre possíveis efeitos negativos, mesmo que pontuais, os executivos avaliam com mais força três cenários: cambial, com incertezas e maior volatilidade das moedas (31%); imigratórios ou alfandegários, com novas regras para entradas de pessoas ou produtos no Reino Unido (29%); e político, trazendo dificuldades nas relações com os países europeus (20%).

Analisando amplamente, a maioria (54%) dos consultados pela Amcham enxergam efeitos positivos, especialmente, quando se fala na possibilidade de um maior relacionamento comercial Brasil-Reino Unido, em virtude, de possíveis acordos individuais e abertura de novas frentes de negociação, especialmente, para a cadeia agrícola.

Uma parcela de 21% dos entrevistados enxerga também vantagens na atração de capital, com fuga do risco da Europa e investidores buscando novamente mercados emergentes como o Brasil. Sobre possíveis setores que podem/devem ser beneficiados no Brasil foram listados: agrícola (61%); financeiro (35%); indústria (31%); e serviços (30%).

Sobre o Mercosul a perspectiva é mais negativa. Para 43%, o Brexit trará maior burocratização e novos empecilhos as negociações do bloco brasileiro com os países europeus restantes. Outros 29% acreditam que serão mantidos as dificuldades e rodadas de negociações já existentes.

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