Mil e uma oportunidades

Câmara Árabe reúne líderes e especialistas para discutir aproximação com o mercado brasileiro

Apresentando as projeções do FMI para o Brasil e o mundo, o embaixador Osmar Chohfi, vice-presidente de relações internacionais da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, trouxe certo otimismo ao mercado: "existem sinais de que a recessão está chegando ao fim, e o crescimento deverá ser retomado em 2017". O Fórum Econômico Brasil - Países Árabes aconteceu nesta quarta-feira (6) e teve como tema central a aproximação da economia brasileira aos mercados do Oriente Médio e norte da África, com a presença de autoridades expoentes de diversas nações.

Durante a abertura, o Secretário de Estado de Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim, representando o Governo de São Paulo, disse ter ficado bastante impressionado com as perspectivas apresentadas no dia anterior ao Governador Geraldo Alckmin, e colocou a administração do Estado à disposição para o desenvolvimento de parcerias.

A vice-ministra de investimentos do Governo do Egito, Mona Ahmed Zbaa, aproveitou a aproximação para convidar as autoridades e empresas brasileiras em reforçar a parceria. Dono de histórias de superação econômica, o Egito retomou o crescimento após uma série de impactos negativos sobre a economia nos últimos anos, e vem investindo em infraestrutura, portos e extração de gás.

Representando a XP Investimentos, a extremamente credenciada doutora, docente e comentarista de economia Zeina Latif reiterou o otimismo do embaixador, dizendo que já podemos contar com certa estabilidade. Ainda assim, alertou para a seriedade das circunstâncias: “o paciente está estável, mas ainda está na UTI, e não há lugar para erro médico neste momento”. Segundo Zeina, não temos espaço político e nem tempo para agendas muito ambiciosas; o Brasil deve se ater ao equilíbrio das contas públicas, ao ajuste fiscal e da previdência. “Só depois podemos pensar em outros problemas”.

Ela avisou, no entanto, que é preciso que o Governo mantenha e incentive o diálogo, explique à população o que vão significar as reformas tão necessárias, especialmente na previdência – algo que, segundo Zeina, não é a especialidade do partido de Michel Temer. “O PMDB é melhor em política do que em diálogo”, comentou.

Reiterando as intenções do Fórum, de aproximação entre os países, Zeina Latif reforçou a importância de se fortalecerem laços comerciais entre os países, até mesmo em prol da paz mundial, uma vez que é muito menos provável que parceiros comerciais tenham desavenças que levem à guerra.

Questionada sobre os rumos do câmbio, Zeina preferiu não fazer previsões, diante do cenário tão peculiar da enfraquecida economia mundial e a situação de emergência do Brasil.

A logística e os custos 

No painel de infraestrutura, conduzido por Michel Alaby, Secretário Geral da Câmara de Comércio, o papel dos portos para o aprofundamento das relações comerciais ficou bastante evidente. Retomando as previsões do câmbio que Zeina Latif preferiu não arriscar, Alaby sugeriu: “enquanto não podemos prever ou esperar nada do câmbio, vamos tentar trabalhar nos custos, no transporte e na logística”.

Embora com transit times bastante longos (19 a 72 dias, dependendo do destino), os portos brasileiros – com destaque para os da região sul – já possuem rotas fixas que atendem ao mediterrâneo, Oriente Médio e norte da África, porém ainda há muito a se trabalhar. Mercados peculiares, que exigem produções certificadas seguindo os padrões culturais e religiosos do país comprador, melhores acordos de facilitação de comércio e otimização da logística foram mencionados por Alaby como questões com as quais a Câmara Árabe tem ajudado os exportadores a lidar. O serviço de intermediação ainda deve ser aprimorado em breve, quando a CCAB lançar sua ferramenta eletrônica para facilitar os trâmites envolvidos nas transações comerciais e promover a interface entre agências reguladoras brasileiras e árabes.

Para representar o armador, João Momesso, gerente de cargas da Maersk Line, apontou os desafios da navegação, alguns já vencidos e outros por vencer. E, para um público bastante variado, expôs a situação do transporte marítimo de cargas. “Não sei o quão de perto vocês acompanham a navegação hoje em dia, mas, dos 20 maiores armadores mundiais, 20 reportaram prejuízo no último trimestre”.

Momesso ressaltou que a questão crucial hoje em dia é trabalhar os custos. Apresentando volumes transportados e rotas adotadas pelos armadores, sugeriu que ainda há um longo e possível caminho no sentido de trabalhar a containerização de cargas que são tradicionalmente transportadas em granel, gerar mais volume de exportações para que o fluxo permita melhores fretes e tarifas.

E os volumes têm, de fato, aumentado. Dener de Souza, gerente de cargas da companhia aérea Emirates SkyCargo, ilustrou com estatísticas que o crescimento no transporte aéreo de cargas entre o Brasil e os países árabes ficou bastante acima do esperado, especialmente no segmento de perecíveis.

Trata-se, porém, de um mercado cheio de particularidades: após a exposição, Alexandre Rocha, jornalista da CCAB, explicou as etapas da chamada Certificação Halal, que adequa os produtos para venda em determinadas regiões, além de outras exigências, como financiamentos adequados à jurisprudência árabe e outras características que facilitariam os trâmites. Os esforços, no entanto, são profícuos: o mercado árabe continua crescendo e seu interesse nos produtos brasileiros promete uma parceria sólida, longínqua – e em boa hora.

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