Safra de frutas e uma ameaça chamada Seca

Iniciada no último domingo, 14, a safra desse ano deve ser bem menor e o Porto do Pecém já sente isso

No último domingo (14), o Porto do Pecém deu a largada para a exportação de frutas da safra desse ano. Foram mais de 300 containers enviados à Europa, somando cerca de 6 mil toneladas de melão, banana e manga. Realizado pelo navio da dinamarquesa Maersk para Holanda, Bélgica, França e Espanha. Hoje já sai a segunda carga, com destino aos Estados Unidos. O transporte de cerca de 160 containers de manga será feito pela Hamburg Süd.

Apesar da expectativa da Cearáportos (Companhia de Integração Portuária do Ceará) de manter a movimentação registrada em igual período do ano passado (de 235 mil toneladas) o resultado é bem inferior ao salto de 56% constatado entre 2014 e 2015. O motivo? A forte seca prevista para essa safra.

De acordo com Rodrigo Gomes, Reefer Sales Manager, da Aliança e Hamburg Süd, os clientes já vinham sinalizando a algum tempo, especialmente os maiores, que a safra deste ano podia ser menor por causa da seca. “Alguns investiram até na armazenagem de água e na canalização da água do Rio São Francisco para minimizar esse impacto esse ano”, sinalizando ainda que os menores acabaram sendo prejudicados por esse fator. “Inclusive eles já estão sinalizando menos exportação em 2016”.

Segundo a diretora comercial da Cearáportos, Rebeca Oliveira, graças a esse fator a quantidade movimentada pelo complexo não aumentará muito. "A gente conversa com os produtores, e eles dizem que a seca está trazendo mais pragas e frutas de menor qualidade", disse.

Gomes salienta ainda que ao diminuir o volume das exportações de frutas do Brasil um dos principais beneficiados nesse cenário é o Caribe, que segundo ele, supre o que falta da safra, porém produz um pouco mais tarde. “Ele tem uma entressafra em que os compradores vão ficar com poucas frutas e é possível ainda que o preço dessa mercadoria fique mais alto”, salienta.

No que se refere a mudanças, ele explica que o frete pouco será afetado, já que é negociado antes da safra. Mas comenta que a sobra de produção – negociada com o armador – pode trazer ao exportador benefícios na hora de oferecer melhores preços no final da safra, já que a “sobra” é uma transação realizada além do contrato pré- negociado. “É importante dizer que essas frutas estão indo especialmente para Roterdã e London Gateway”, salienta, destacando que Dublin, por exemplo, reduziu muito a compra de frutas do Brasil. “Outro fator que contribuiu bastante com essa diminuição foi o fato de países começarem a produzir mais essas frutas. Com destaque para a Uva, que teve suas vendas recuadas por conta dessa produção, a exemplo dos EUA que já produz a fruta”, finalizou.

Estudando novas rotas comerciais, o Porto do Pecém já trabalha com novidades na estrutura de exportação para este ano, mais ainda não revela quais. "Estamos com dois guindastes do tipo STS (Ship-to-Shore) ultramodernos, que agilizam o processo, e temos um berço novo para navios de containers. Com novos serviços, você tem novas rotas", disse a diretora da Cearáportos.

Vale ressaltar que o melão corresponde à metade das exportações que saem do Porto do Pecém. Na outra parte, estão inclusas melancia, banana, uva e manga. As cargas de melão, melancia e banana são provenientes do Ceará e do Rio Grande do Norte. Já as uvas e mangas exportadas através do terminal portuário são produzidas na Bahia e em Pernambuco.

Segundo Roberto Aschenberger, cuja empresa oferece ao mercado um sistema de estatísticas que centraliza as informações sobre exportação e importação, a questão de seca não é assunto novo, porém teve alguns desdobramentos interessantes: "O melão, por exemplo, tem um ciclo de produção extremamente rápido. Isso possibilita que o produtor busque regiões novas para o plantio baseado em áreas geográficas que possam ter maiores disponibilidades de água. Já a manga, na região de Petrolina, tem sua fonte de água da represa de Sobradinho. Quando a situação se tornou crítica, muitas empresas buscaram soluções instalando tubulações para buscar água do leito do rio, o que fez com que utilizassem água de difícil captação. Durante o ano, houve novo acúmulo, o qual se acredita ser suficiente para essa nova safra", explicou o especialista, que prevê também que a safra de manga brasileira deva se manter estável em relação ao ano passado. Já o melão - diz Aschenberger - poderá ter um pequeno incremento no volume.

 

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