Recorde de movimentação portuária expõe riscos de fadiga em cabos, afirma especialista

Portos brasileiros movimentaram 1,32 bilhão de toneladas em 2024; aumento das operações exige atenção extra com inspeções de segurança

O volume histórico de cargas movimentadas pelos portos brasileiros em 2024 – 1,32 bilhão de toneladas – e os novos picos mensais registrados no primeiro quadrimestre de 2025, elevam os riscos de fadiga em cabos de aço utilizados nas operações portuárias. Na visão de Fernando Fuertes, Engenheiro e Desenvolvedor de Novos Negócios da Acro Cabos de Aço, empresa especializada em equipamentos para elevação, amarração e movimentação de cargas, cenários como este pedem reforço no plano de inspeções de segurança dos equipamentos, que podem ter sua vida útil reduzida pelo aumento dos ciclos de utilização.

Segundo o especialista, uma eventual negligência em reforçar as rotinas de inspeção pode resultar em falhas graves, interrompendo operações e colocando em risco a segurança dos trabalhadores. “O aumento do fluxo operacional demanda atenção redobrada aos procedimentos de inspeção e manutenção dos cabos utilizados nos guindastes portuários”, explica Fuertes. “Mais movimentação de cargas gera ciclos mais frequentes de içamento, intensificando a fadiga por flexão”.

Quando se trata de cabos de aço, os principais riscos de acidentes na elevação e movimentação de carga são consequência de rupturas causadas por desgaste, fadiga de material, falta de manutenção, sobrecarga e uso fora do padrão. O especialista da Acro Cabos reforça que a adequação às exigências normativas é essencial e deve ser o norteador de todo o planejamento e execução de inspeções. "Normas como a NR-29, NBR ISO 4309 e ABNT NBR 16073 já estabelecem procedimentos claros para inspeção, registro de manutenções e descarte seguro dos cabos. Cumpri-las é um passo essencial para prevenir acidentes e manter a operação eficiente", explica. “O que muda no caso de aumento substancial na operação é adequar a frequência das inspeções e o controle do registro de ciclos de cada equipamento para que se respeite sua vida útil dentro dos padrões de segurança.”

Fuertes também lista as principais ações a serem colocadas em prática: “Seguir as normas começa com a inspeção visual diária antes do uso, buscando desgastes visíveis, corrosão ou arames partidos. Além disso, é essencial registrar cada manutenção em planilhas digitais, manter a lubrificação periódica com produtos adequados e instalar sensores de carga ou de ciclos nos equipamentos para garantir o respeito à vida útil dos cabos. Outro ponto é treinar continuamente a equipe para identificar sinais de desgaste e seguir os critérios de descarte definidos pela norma, como a quantidade máxima de arames rompidos em um trecho crítico”.

Atualmente, a norma técnica ABNT NBR 16073 regulamenta a inspeção eletromagnética em cabos de aço de equipamentos e estabelece os requisitos mínimos para a detecção de corrosão externa e interna, assim como arames rompidos e variações na área da seção metálica dos cabos de aço. Fuertes reforça que essa técnica é imprescindível para detectar falhas, com verificação de 100% dos arames, inclusive em áreas onde normalmente a inspeção visual e dimensional não alcança: “Essa tecnologia tem sido cada vez mais utilizada no acompanhamento da vida útil dos cabos de aço instalados nos descarregadores de contêineres, RTG´s, guindastes móveis portuários, carregadores e descarregadores de navios entre outros”.

IoT e IA já são utilizadas na segurança de cabos de aço

A aplicação de sensores IoT (Internet das Coisas) e Inteligência Artificial (IA) na segurança dos cabos de aço tem ganhado espaço em diferentes tipos de operações pelo mundo. Já existem equipamentos inteligentes que incorporam sensores de vibração, acelerômetros e extensômetros que monitoram em tempo real fatores críticos como redução de diâmetro, oxidação, arames rompidos, pernas fora de posição e quantidade de ciclos de trabalho. “Ao captarem alterações mínimas, os sensores conseguem detectar com antecedência sinais de fadiga ou desgaste que poderiam resultar em falhas graves, permitindo uma intervenção preventiva mais eficaz”, explica Fuertes.

Além disso, o uso da IA potencializa essa capacidade preditiva. Com a coleta contínua de dados pelos sensores, sistemas inteligentes realizam uma análise detalhada dos padrões de comportamento do cabo, identificando anomalias e gerando alertas antecipados sobre possíveis falhas. Isso reduz significativamente o risco de acidentes e interrupções inesperadas, algo essencial em operações portuárias.

Essas tecnologias já demonstram sucesso em diversos países e começam a ganhar relevância no Brasil, à medida que as empresas reconhecem os benefícios da manutenção preditiva baseada em dados. “Investir em cabos de aço de alta performance com a instalação destes sensores com IoT e IA representa uma evolução necessária para todos os setores que realizam operações complexas de movimentação de cargas, como é o caso do portuário, especialmente em contextos de demanda operacional crescente, onde segurança e eficiência são fundamentais para a competitividade”, finaliza Fuertes.


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