O Brasil na TOC Americas 2016

Em evento internacional, Martin von Simson expõe a situação econômica do país e aponta para saídas por meio do desenvolvimento da atividade logística

"É sempre um desafio fazer previsões sobre a economia brasileira, ou mesmo arriscar qualquer tipo de conselho sobre oportunidades de investimento em países em desenvolvimento – mesmo nas chamadas condições normais de mercado. Tentar fazê-lo em um ambiente como o que vivenciamos no Brasil hoje em dia então, está bem próximo de um jogo de adivinhação.

Há uma noção geral de que o modelo de governo paternalista e tendencioso à esquerda, com investimentos centralizados no governo está chegando ao fim na América do Sul.

Somente nos últimos anos, conseguimos ver exposto o absurdo volume de corrupção que tomou os partidos políticos de uma maneira geral, assim como as companhias ligadas ao poder público. Parte de tamanho atraso em romper com essa situação inaceitável pode ser atribuída à força das instituições, embora elas tenham sempre estado sob uma pressão bastante significativa por parte dos partidos envolvidos.

Em qualquer país, a corrupção gera um custo social bastante profundo, diretamente proporcional aos valores desviados de seu destino original dos fundos públicos, além de tolher a competitividade do país. Em nações em desenvolvimento, mesmo ricas por natureza, o efeito é ainda pior, e pode perdurar por anos com os altos preços de petróleo e commodities de maior valor sendo comercializadas por meio de uma logística altamente cara e ineficiente. E basta caírem os preços para as ineficiências aflorarem mais uma vez.

Considerando que, neste momento, não sobrou dinheiro público que consiga sustentar o modelo existente – que dirá investir em infraestrutura – temos vivenciado uma tendência liberal em níveis que historicamente já foram até proibidos em alguns países.

O Brasil ainda está no olho do furacão que devastou sua economia e ainda não foi controlado. O impacto dos danos ainda não está claro, e ninguém sabe ao certo quanto tempo levaremos para consertar o país.

E, por outro lado, vemos o país com um agronegócio pungente, rico em minerais e outras commodities e uma indústria moderna de processamento de alimentos, certa capacidade ociosa de produção automotiva, química, têxtil e de outros segmentos. Energia e abastecimento de água não são problemas insolúveis, e não podemos nos esquecer de que temos 200 milhões de consumidores potenciais.

Que o comércio exterior e a construção de infraestrutura são o caminho mais rápido para trazer a economia de volta dos -3% previstos para o PIB até um resultado ao menos positivo em 2017, não é discutido nem controverso.

Já passou da hora de o país contar com melhores estradas, ferrovias, portos, e gerar mais empregos. É também necessário desenvolver padrões mundiais de competitividade junto às suas indústrias, o que vai depender muito de uma melhora significativa na logística interna.

Diante desse cenário, há uma pressão crescente para uma abordagem mais liberal do mercado. Os investimentos privados no Brasil certamente serão a nova tendência, não apenas apoiados pelo atual governo provisório como também por todos os partidos envolvidos nas eleições previstas para 2018 – alguns deles adotando a privatização como princípio e outros como necessidade.

Até o fim de agosto, saberemos o resultado do processo de impeachment da atual presidente, o que é bastante provável que aconteça, de acordo com as informações de que dispomos.

Durante a apresentação do Guia Marítimo na TOC Americas, em Cancun, quando teremos um cenário mais definidos, abordaremos e discutiremos algumas informações e estatísticas que podem atrair o interesse de companhias com olhos no mercado brasileiro, seja para atividades comerciais, operacionais ou investimentos.

Posso ser chamado de otimista. Mas não enxergo outro caminho para o Brasil, se o plano for ganhar um espaço na economia mundial, uma vez que não existem fundamentos econômicos que impeçam que esta nação consiga êxito no cenário global. Afinal, ainda constamos entre as 10 maiores economias do mundo – mesmo em um ambiente tão hostil."

Martin von Simson é Diretor e co-fundador do Guia Marítimo 

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.