Mercado de trabalho no mar

Dois pesos, duas medidas: tecnologia para suplantar as pessoas, ou pessoas para mover a tecnologia?

O relatório Manpower da BIMCO/ICS alertou para uma iminente falta de pessoal no setor de navegação que deve chegar a cerca de 147.000 profissionais em 2025. Hoje em dia, as empresas já sofrem com a falta de mão de obra qualificada: estima-se que o mercado ainda precise preencher 16.500 cargos na navegação. Em outras palavras, num período de nove anos, o contingente de profissionais do mercado cobrirá apenas 80% da demanda de marinheiros necessária para manter as operações proporcionais ao tamanho da frota estimada. Não é de se surpreender, portanto, que o relatório recomende esforços para promover carreiras ligadas à indústria marítima, melhorias na educação ligada ao setor e incentivos à valorização dos profissionais da navegação.

A demanda por marinheiros apontada pela BIMCO baseia-se na estimativa da frota mundial de acordo com as novas encomendas de embarcações. Presume-se que não haverá mudanças na média da necessidade de mão de obra operacional, assim como nos níveis atuais de recrutamento, treinamento e de dispensas.

Coincidentemente, a associação de classe DNV GL publicou um relatório de pesquisa, novamente utilizando como parâmetro a data de 2025, no qual enfatiza que próxima década será marcada pela implementação de tecnologias já conhecidas do ser humano. “A novidade será a combinação de tecnologias avançadas, pertencentes a domínios antes separados”, adianta o CEO da DNV GL, Remi Eriksen. A pesquisa é baseada no viável, e não no futurístico, diz o relatório.

Fala-se, portanto, em digitalização da navegação, sistemas ciber-físicos, combustíveis alternativos e fabricação de itens inovadores. A conectividade terá melhorado imensamente em 2025 e, de acordo com Knut Ørbeck-Nilssen, chefe da divisão marítima da DNV GL, os dados irão permitir aos gerenciadores de frota “fornecer instruções ao capitão e à tripulação sobre detalhes da navegação, como padrões climáticos, consumo de combustível e previsões de chegada”. Presume-se ainda que uma tripulação significativamente menor permitirá reduzir o risco de acidentes causados por erro humano.

São dois relatórios, com foco na mesma data futura, porém com perspectivas bastante diferentes, avalia a IHS Fairplay. “O primeiro, ignorando o papel que a tecnologia deverá exercer sobre a maneira como os marinheiros irão trabalhar, e o outro ignorando a responsabilidade dos marinheiros sobre o uso dessa tecnologia”, avalia a publicação.

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