Ambipar mostra o caminho para a sustentabilidade na Intermodal
Na Intermodal 2025, Dennys Spencer detalha a estratégia que transforma resíduos industriais em valor e impulsiona o crescimento sustentável da multinacional brasileira
Como faço anualmente, para manter os históricos laços com os expositores da Intermodal South América, participei pessoalmente da entrevista exclusiva do Guia Marítimo com Dennys Spencer, Head Global de prevenção e resposta a emergências. Ele colabora há 17 anos na companhia e fala com muita desenvoltura em nome da multinacional. Para mim, pessoalmente, a conversa envolvia uma intrigante curiosidade por conta de uma coincidente trajetória com a história da Ambipar.
Na minha passagem pelo mundo da logística da indústria química, ao dar partida às empresas Sistema Transportes, Stolthaven e Tankpool (hoje parte da Mauser Packaging Group), por muitos anos fui coparticipante, junto com os Irmãos Borlenghi e outros transportadores, na criação do Sassmaq que consolidou a evolução, regulamentação e prática responsável do transporte de produtos químicos no Brasil. Partindo de um universo onde os resíduos químicos de produtos químicos eram lançados nos mangues, rios ou em terrenos baldios, chegamos a um ambiente de negócios com práticas obrigatórios de ESG, hoje com forte protagonismo da Ambipar.
Por isso a minha curiosidade na evolução desse grupo, formado em 1995 por Tercio Borlenghi Jr, que, via múltiplas aquisições, hoje opera em mais de 500 bases ,em 40 países.
Nessa conversa, Dennys nos deu um panorama geral da atuação da Ambipar, no Brasil e no exterior: “Nós construímos uma tese de como a Ambipar se posicionaria no mercado e por que ela precisava acessar o mercado de capitais para realizá-la. Quando fomos ao mercado, tínhamos dois pilares principais: ‘Environment’ e ‘Response’. O ‘Environment’ é focado no gerenciamento de resíduos industriais; o ‘Response’, no gerenciamento de crises e atendimento a emergências ambientais. Já tínhamos essa expertise há muitos anos. Mas agora, com a reestruturação em curso, a empresa não será mais dividida nesses dois pilares”, explica Dennys.
Segundo ele, a empresa começou com o transporte de resíduos e, gradualmente, passou a atuar dentro das plantas dos clientes e de grandes geradores. “Começamos a manipular o resíduo na ponta B e, organicamente, essa demanda surgiu dos próprios clientes — não havia ninguém para fazer esse serviço por eles. Foi então que a Ambipar passou a se especializar no gerenciamento interno. Dentro das plantas, percebemos que os resíduos, antes destinados a aterros, tinham grande potencial de valorização. Investimos fortemente em P&D para analisar os resíduos e identificar esse potencial. Foi daí que surgiram grandes projetos”, conta.
Um dos cases destacados por Dennys vem da indústria papeleira, onde alguns clientes chegam a produzir mais de 30 mil toneladas de resíduos por mês. “Essas 30 mil toneladas geravam mais de 1.500 caminhões por mês com destino a aterros. Começamos então a hiper valorizar esse resíduo. A parte orgânica passou a compor um composto utilizado em áreas florestais dos próprios clientes. A parte inorgânica foi estabilizada e transformada em artefatos — utilizados, por exemplo, no calçamento interno das fábricas. Com isso, conseguimos valorizar 100% dos resíduos, gerando benefícios financeiros, de imagem, ESG e estabilidade para os clientes”, afirma.
A especialização levou a Ambipar a enxergar novas oportunidades: “Ampliamos nossa atuação para outros materiais: plásticos, papelão, metais ferrosos e não ferrosos, vidros, etc. Todas as aquisições recentes na área de ‘Environment’ foram feitas para conectar nossa operação de gerenciamento de resíduos com essas novas verticais. Adquirimos empresas que atuam na valorização de diversos materiais, inclusive de eletroeletrônicos, que são desmontados para o reaproveitamento das submatérias.”
Dennys reconhece os desafios da integração dessas aquisições: “Ao comprar essas empresas, é preciso integrá-las. Cada uma tem sua cultura e ecossistema. Nosso desafio é conectar tudo isso a uma plataforma maior, promovendo sinergias.”
Na área de ‘Response’, o movimento foi semelhante: “Já atuávamos em emergências e tínhamos um braço marítimo. A partir disso, buscamos empresas mais verticalizadas em consultoria ambiental, licenciamentos, limpeza de tanques — inclusive em plataformas offshore e onshore. Fizemos aquisições importantes, inclusive de empresas especializadas em reparos e pintura de tanques.”
O momento atual da empresa é de unificação da marca: “Estamos em um processo de reestruturação para operar tudo sob o nome Ambipar. As áreas viraram unidades de negócios internas, o que fortalece nossa comunicação, marketing e estratégias de cross-selling. Internamente, as equipes agora se reconhecem como parte de uma única empresa.”
Além dos aspectos operacionais, a reestruturação tem reflexos financeiros: “Ao integrar os diversos CNPJs adquiridos, ganhamos eficiência tributária. Isso gera economia, otimização e novos benefícios financeiros. E, com o crescimento da demanda dos clientes, vamos iniciar um novo ciclo de expansão na área de logística reversa.”
Sobre a presença internacional da empresa, Dennys conclui: “O que construímos no Brasil, replicamos organicamente no Chile, que criou recentemente sua política nacional de resíduos sólidos. Lá, implantamos o maior centro de recuperação de resíduos recicláveis da região metropolitana de Santiago. Levamos essa tecnologia também ao Peru, onde estamos crescendo muito. É um crescimento orgânico e sustentável.”
Durante a Intermodal 2025, a Ambipar apresentou ainda seu robô de combate a incêndios e a viatura OPG, em um estande interativo que destacou soluções de prevenção, resposta emergencial e descarbonização.

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