O perigo do “mar tenebroso” agora é digital

Seguradoras alertam para necessidade de trabalhar junto com os clientes para mitigar os riscos cibernéticos

A abrangência cada vez maior de ambientes digitais aumenta também as ameaças cibernéticas. Entre uma potencial crise de segurança marítima global e as tentativas desesperadas das seguradoras em encontrar meios de cobrir tais ataques, a IHS Fairplay publicou um artigo explicando os impactos dessas ameaças sobre o setor marítimo.

A indústria marítima sente que deu um passo atrás quando o assunto são as ameaças cibernéticas, de acordo com o presidente da IUMI (International Union of Marine Insurance), Dieter Berg, em entrevista à IHS Fairplay. “Antigamente considerados unidades isoladas no que tange ao controle de segurança, hoje em dia os navios já estão inseridos em uma nova era”, afirma Berg, que também é executivo da companhia de resseguros Munich Re.

Ele alerta ainda que a indústria de Seguros ainda precisa desenvolver os seus produtos com vistas ao crescente uso da tecnologia, tanto a bordo dos navios quanto nos portos do mundo todo, tais como sistemas eletrônicos de navegação que exigem que os navios troquem dados em tempo real com outras bases de dados, ou com outros estabelecimentos em terra.

“A navegação hoje em dia está muito mais conectada em termos de comunicação global, entre embarcações e a costa, e entre uma e outra embarcação. Muito se vem discutindo a respeito da navegação autônoma, que seria semelhante à utilizada na aviação, garantindo mais suporte aos capitães e melhorias na segurança geral da atividade”, acrescentou. E, no entanto, Berg disse não acreditar que a indústria caminhe para o dia em que a presença humana já não seja mais necessária a bordo, “embora talvez cheguemos a um ponto em que o capitão e o engenheiro sejam a única tripulação necessária, dependendo profundamente dos sistemas automatizados e da tecnologia”, prospecta o presidente da instituição de segurança marítima.

Berg sugere ainda que uma ligação cada vez maior entre os navios, satélites e a Internet das Coisas deve garantir aos armadores mais potencial para melhorar os custos da atividade, porém o novo cenário tende a criar também novos riscos para as empresas e seguradoras marítimas.

“As ameaças vão acontecer”, afirmou. E exemplificou: “enfrentaremos o perigo de invasões maléficas aos sistemas, e interferências nos sistemas com potencial para acidentes. Acredito que ainda veremos os riscos cibernéticos se transformarem em ameaças físicas. No passado, os ataques cibernéticos se concentravam em alvos intangíveis, como acesso a informações de cartão de crédito e dados pessoais, porém, como temos acompanhado ultimamente, existe hoje um movimento de engenharia de ataques físicos sobre os sistemas que afetam as funções do alvo, como hospitais, geradores de energia ou plataformas de petróleo. Teremos de estudar quais ameaças físicas os riscos cibernéticos representam para a indústria”, sugeriu o especialista.

Berg acredita também que o uso de containers inteligentes, equipados com rastreamento via GPS, sensores e tecnologias que regulam a temperatura, bem como outros sistemas acoplados, já trarão benefícios reais para as empresas de logística, ajudando inclusive a diminuir as longas esperas nos portos e permitindo que os motoristas rodoviários sejam informados exatamente quando o container será descarregado disponibilizado para coleta – uma vantagem bastante clara para as cargas perecíveis e de alto valor agregado, que permite o monitoramento durante todo o transporte.

“Do ponto de vista do segurador, vamos precisar oferecer produtos novos e inovadores para os nossos clientes”, garante Berg. “Um dos problemas hoje em dia é a falta de dados oficiais de sinistros e, com isso, a dificuldade de modelarmos um padrão de riscos acumulados”.

Como recomendação, Dieter Berg avalia que o setor de seguros precisa se unir para trabalhar em conjunto com os clientes de modo a compreender individualmente os riscos de cada um e oferecer cobertura adequada para as suas ameaças cibernéticas, uma vez que a avaliação de riscos é mais eficaz quando eles são detectados no estágio inicial do processo.

“Ainda há pontos cegos, entre os quais os sinistros já ocorridos, que podem ter sido fruto de um risco cibernético. Se uma carga é roubada por meio de manipulação do sistema de alarme via computador, qual a diferença entre esse crime e a destruição física das máquinas por um martelo, por exemplo? Precisamos definir quais são os critérios que qualificam um crime como cibernético”.

A segurança cibernética ainda será abordada pela IUMI durante a conferência anual de seguros realizada em Gênova em setembro.

Autor: Jon Guy | IHS Fairplay

Tradução: Cleci Leão | Guia Marítimo

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