Rotas marítimas: longo declive à frente

Fretes na rota da Europa para a América do Sul continuam despencando, enquanto a ocupação está cada vez mais fraca

Otimista com o superávit da balança comercial brasileira, o governo brasileiro segue afirmando que o país começa a dar sinais de recuperação e posicionar-se melhor no comércio mundial. A realidade, no entanto, se mostra diferente nos portos, que apresentam a radiografia mais fidedigna do posicionamento comercial do País.

O tráfego de containers com origem no norte da Europa e no Mediterrâneo e destino à costa leste da América do Sul reportou, mais uma vez, números em franco declínio. Desta vez, a queda chegou a 17,4% na comparação anual de abril, de acordo com estatísticas enviadas por Datamar ao instituto de pesquisas Drewry Maritime Research.

Os resultados mais recentes significam que o comércio já atinge 12 meses consecutivos de déficits de crescimento, diante das refreadas economias, especialmente a brasileira e a argentina, que vêm suprimindo suas demandas.

As exportações do Mediterrâneo para a ECSA (Costa Leste da América do Sul) foram as que mais sofreram queda nos volumes de containers, chegando a 17,6%, enquanto as exportações do norte da Europa para o continente americano caíram 12,7%.

Na rota contrária, sentido norte, o movimento em Teus superou o sentido sul em 11 dos últimos 12 meses. De acordo com os números publicados por Datamar, em abril, os embarques de containers da América do Sul para o Norte da Europa e os portos do Mediterrâneo aumentaram 4,4% na comparação com o ano anterior, o que foi devido, em grande parte, à depreciação da moeda dos países exportadores da América do Sul.

Além de se tornar a rota dominante do mercado, a tendência de crescimento do percurso no sentido norte apresenta-se diametralmente oposta ao comportamento das viagens para o sul.

O mercado mediterrâneo – um ponto de distribuição do tráfego da ECSA para o oeste da África e para o Oriente Médio – tem liderado o ressurgimento da movimentação no sentido norte, com volumes chegando a crescer até 24,6% na comparação anual de 2016. Enquanto isso, os volumes da ECSA para o norte da Europa cresceram 5.7% - embora ainda permaneçam como o maior mercado, na soma em Teus.

Como resultado, a média anual mostra claramente as diferentes tendências entre a rota sul e a norte: enquanto as chegadas à costa leste da América do Sul caíram 12%, as saídas foram impulsionadas em até 8%.


Fonte: Datamar

De acordo com a Drewry Maritime Research, a considerar o cenário atual das tarifas de frete nessa rota, é de se surpreender que os armadores não tenham se mobilizado mais ativamente na cadeia de suprimentos, uma vez que a contagem mensal de slots pouco se alterou nos primeiros cinco meses de 2016. A instituição se diz espantada pelo fato de que muito poucas linhas adotaram a navegação vazia, o chamado “void sailing”, exceto três delas até o momento. A consequência, segundo o relatório, é que o aproveitamento médio dos navios na rota para o sul continua abaixo da metade da capacidade (embora deva se ter em mente que parte do espaço é utilizado para reposicionamento de containers, especialmente os refrigerados, de volta à costa leste da América do Sul). Na rota para o norte, o cenário também não merece tamanho otimismo: mesmo os navios com maior utilização chegam a ocupar três quartos de sua capacidade.

Europa para ECSA (em capacidade x ‘000 teu)


Fonte: Drewry Maritime Research 

ECSA para a Europa (em capacidade x ‘000 teu)


Fonte: Drewry Maritime Research 

Os dados divulgados pelo relatório de fretes em containers da Drewry (Leia aqui)  ilustram a queda brusca dos fretes spot de Roterdã e Gênova para Santos. No percurso norte, no qual dominam contratos de longo prazo para o transporte de commodities, as tarifas spot com saída de Santos permaneceram estáveis no ano.

Na visão do Instituto de Pesquisas Drewry, os armadores operando nessas rotas ainda terão de esperar um longo período para retomar os fretes aos patamares anteriores, e, até lá, precisarão considerar fazer alguns ajustes na capacidade dos navios “o quanto antes”, conclui o relatório.

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