BREXIT – o que é isso?

Focados em nossos próprios problemas políticos e econômicos passamos despercebidos pelos debates "acalorados" da Grã-Bretanha

Estamos tão focados em nossos próprios problemas políticos e econômicos, que tem passado meio despercebidos o plebiscito que se realizará no próximo dia 23 de junho, no qual os súditos de Sua Majestade deverão decidir se a Grã-Bretanha deixa ou não a União Europeia (dai o BREXIT – acrônimo para a expressão Britain Exit).

No Reino Unido o debate está acalorado. De um lado o Primeiro Ministro David Cameron faz campanha pela permanência do país na EU, mostrando o quanto o país perderia e assegurando que vencendo sua tese, negociará termos mais favoráveis com os parceiros. Por outro lado, o ex-prefeito de Londres e historiador Boris Johnson argumenta pela saída com um discurso um tanto quanto xenófobo. É bem verdade que os ingleses nunca se sentiram fortemente parte da Europa, acomodados em suas ilhas e com um relacionamento tumultuado com os parceiros.

O primeiro passo em favor de uma unidade europeia se deu em 1951 com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, num esforço de seis nações procurando cicatrizar as feridas da 2ª. Guerra, facilitando o comércio entre elas. Em 1957 foi assinado o tratado de Roma criando a Comunidade Econômica Europeia, mais conhecida como Mercado Comum. Nesse momento a Grã-Bretanha não fazia parte. Mais tarde os ingleses tentaram ser aceitos, mas tanto em 1963 como em 1967 o então todo poderoso Presidente Charles De Gaulle vetou seu ingresso. Apenas em 1973 que os britânicos foram aceitos como membros. Quando da criação da moeda comum, o euro, em 2002, os ingleses ficaram de fora, mantendo até hoje a Libra Esterlina.

As intenções de votos se alternam, sendo que nesse momento 45% dos britânicos posicionam-se a favor da permanência enquanto 43% estão a favor da saída. Nos demais países do bloco 70% da população não vê com bons olhos a saída dos ingleses. Seja qual for o resultado, mudanças na União Europeia deverão acontecer. Há um sentimento generalizado que Bruxelas concentrou muito poder e criou uma burocracia por vezes sufocante, interferindo demais no dia-a-dia dos europeus. 42% da população do bloco acham que algum poder deveria ser devolvido aos países-membro.

Do ponto de vista dos advogados da permanência, uma eventual saído do bloco teria fortes implicações econômicas. 50,8% da corrente de comercio britânica é realizada no âmbito da União Europeia, graças à livre circulação de mercadorias. As exportações britânicas passariam a pagar direitos alfandegários para entrar na Europa, enquanto as suas importações seriam igualmente taxadas. Eles teriam de negociar com o grupo um acordo de comercio em que os Europeus estariam em posição mais forte, já que a Grã-Bretanha tem uma corrente deficitária (2014: Importações da UE US$ 321,8 bilhões e exportações para a UE US$ 213,2 bilhões). Por outro lado a Grã-Bretanha representa apenas 8% do total da corrente de comercio do bloco europeu. Além disso, a União Europeia tem hoje 53 acordos de comercio com terceiros países e negociam grandes acordos com os Estados Unidos, a China e a Índia, dos quais os britânicos estariam excluídos.

E onde entra o Brasil nisso? A corrente de comercio entre o Brasil e o Reino Unido gira em torno de 7 a 8 bilhões de dólares, enquanto o total das transações comerciais com a União Europeia (ai incluída a Grã-Bretanha) oscila entre 88 e 98 bilhões de dólares, que representa algo em torno de 20% do total do comercio exterior brasileiro. Brexit ou não Brexit eis a questão, parodiando o bardo inglês. E quais consequências para nós?

Se vencer o Brexit significa que a Grã-Bretanha provavelmente perderá mercado para seus produtos na Europa e terá de buscar novos mercados, abrindo possibilidade para o Brasil (junto com o Mercosul ???) negociar um acordo de comercio com eles, visando aumentar a parcela de negócios que hoje situa-se nesse patamar de 7 a 8 bilhões de dólares. Por outro lado, teríamos também de tentar deslanchar o acordo de livre comercio Mercosul x União Europeia, tornado menor com a saída dos ingleses.

Caso vença a opção de permanecer na União Europeia, então, para nós ficaria tudo meio do mesmo jeito, demandando igualmente que se tente destravar o acordo com eles.

De uma forma ou de outra, espera-se que com a disposição anunciada de nosso chanceler José Serra tais acordos comecem a deixar o terreno dos discursos bem intencionados para tornarem-se realidade e ferramentas para o desenvolvimento do comercio exterior brasileiro.

Temos, portanto, de ficar de olho nesses movimentos, pois dai podem advir novas oportunidades para as empresas brasileiras.




Escrito por:

Robert Grantham

Formado pela PUC/RS com licenciatura em ensino da língua inglesa, Robert Grantham desenvolveu sua carreira na área da navegação, atuando como executivo em agencias marítimas, como Wilson Sons, Orion e Lachmann, com passagem pelo Banco de Desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Sul (Badesul), atuando na área internacional. Posteriormente foi o responsável pelo start-up das operações da China Shipping no Brasil e Diretor Comercial e Executivo do Porto de Itajaí. Atualmente dedica-se a consultoria, como sócio da empresa Solve Shipping Specialists, tendo realizado trabalhos para Drewry, TESC, LogZ, Porto de Itajaí, Steamship Mutual - P&I, Norsul entre outros. Como palestrante e moderador participou de eventos como Mare Forum, Port Finance International Brazil, Container Handling Technology Brazil, Itajaí Trade Summit. É colaborador da revista Container Management e Árbitro da Câmara de Mediação e Arbitragem do Brasil (CAMEDIARB) e da Câmara de Arbitragem e Mediação de Santa Catarina (CAMESC).



1 Comentário

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    Mara

    10/06/2016 09:15

    Somente como conhecimento