Executivo do transporte aponta oscilações no cenário econômico

Crise econômica, pandemia de covid-19 e oscilação no preço do diesel são alguns dos fatores apontados pelas transportadoras

Apesar das previsões positivas para o cenário do transporte de cargas neste ano, o setor segue se recuperando das marcas deixadas na economia em decorrência da pandemia do novo coronavírus. A retração da atividade econômica em 2020 foi estimada em 8% pelo Banco Mundial e considerada a maior queda em 120 anos de acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esses fatores também influenciaram o segmento de transporte rodoviário de cargas (TRC), que sofreu um declínio de 45% das demandas em 2020.

No entanto, a crise econômica deixada pela covid-19 não é a única adversidade enfrentada pelas transportadoras. De acordo com Eduardo Ghelere, diretor executivo da Ghelere Transportes, situada no interior do Paraná e há 40 anos no mercado, o cenário do TRC vem passando por uma série de mudanças.

A oscilação do valor do diesel impactou diretamente as operações das transportadoras, principalmente por sua brusca redução seguida de um grande aumento. "A queda do preço do diesel gerou expectativas na baixa de fretes para alguns clientes, porém logo nos deparamos com um aumento que está sendo repassado com muita dificuldade", afirma Eduardo. De acordo com o levantamento feito pela Ticket Log, o acréscimo no valor do combustível foi em média de 16,8% neste ano.

Os primeiros meses de 2021 também foram seguidos por uma série de turbulências, relembra o executivo. O setor de transporte precisou buscar saídas para o aumento de insumos, para a redução no volume de cargas devido à instabilidade econômica e para a maior crise hídrica dos últimos 90 anos, trazendo expectativa de redução no volume da safra também. Porém, em meio a tantas instabilidades, as transportadoras contaram com um auxílio legislativo. "Dentre todos esses desafios enfrentados, os empresários do TRC se viram amparados com a implementação de uma lei, aprovando a flexibilidade na concessão de férias, nos horários e na adaptação ao novo normal", observa Ghelere.

Vale ressaltar também o boom do e-commerce, dado à necessidade de manter o distanciamento social e o comércio fechado temporariamente. Segundo o índice MCC-ENET, desenvolvido pelo Comitê de Métricas da Câmara Brasileira da Economia Digital em parceria com o Neotrust | Movimento Compre & Confie, o comércio digital apresentou um crescimento de 73,88% no Brasil, impactando diretamente o setor de transportes.

"Logo no início da pandemia o setor de agronegócio disparou, impulsionando a logística de cereais. Como consequência, tivemos toda uma cadeia acelerada, com foco no segmento de fretes fracionados, principalmente por conta da alta do e-commerce", aponta o executivo.

O diretor executivo também relembra outras questões que demonstram oscilações no cenário econômico, como o novo ajuste da Petrobrás, que segundo especialistas pode fazer com que o barril de petróleo feche o ano entre US$ 80 e 85, e a Reforma Tributária.

"Não estamos vendo algumas reformas estruturais prometidas saírem do papel. O que ajuda é que o mercado conta com muita liquidez devido às injeções maciças de dinheiro em todos os países", observa Eduardo Ghelere. "Podemos estar otimistas com o mercado financeiro, mas o mercado real, aquele em que trabalhamos no dia a dia, está cada vez mais instável e sem uma perspectiva de futuro clara para todos", acrescenta.

O aumento da inflação tem sido também um entrave para os empresários do TRC, principalmente para os projetos de expansão. "Trabalhamos sempre com o intuito de gerar um aumento de receita, mas ao mesmo tempo temos a inflação dificultando esse processo, de modo que talvez o lucro não seja capaz de acompanhar sempre o aumento das despesas", afirma Ghelere.

*Eduardo Ghelere - Diretor executivo da Ghelere Transportes.

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Opinião

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