O Brasil e o futuro do mundo

A participação do porto de Santos na corrente comercial brasileira atingiu 28,3% neste começo de 2022, superando a marca dos 27% que por anos serviu como parâmetro para os analistas de comércio exterior. Esse número foi o resultado de um crescimento de 16% na movimentação de cargas, que atingiu a marca de 10,6 milhões de toneladas.

Isso indica que, se não fosse a imprevista guerra declarada pela Rússia à Ucrânia, a participação do porto santista na corrente de comércio do País talvez viesse a chegar perto de 30% neste ano. Aquela movimentação deu-se especialmente em função dos embarques de celulose, milho e soja, sendo a China o nosso principal parceiro comercial, respondendo por 26,8% das transações comerciais que passaram pelo porto de Santos. Já São Paulo foi o Estado brasileiro que registrou a maior participação nessa movimentação de cargas pelo porto, alcançando a marca de 53%.

Os números mostram que a vocação do Brasil como fornecedor de alimentos para o mundo permanece firme, mas, em contrapartida, apesar de todos os esforços da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e das federações estaduais, o País continua a perder espaço entre os exportadores de produtos manufaturados, ainda que, em janeiro, as operações de cargas conteinerizadas no porto de Santos tenham registrado um aumento de 2,54% em comparação com o mesmo período de 2021.

Movimentação de cargas cresce 17,7% no Porto de Santos

Esse número constituiu a melhor marca para aquele mês, o que permite concluir que houve continuidade na tendência de crescimento verificada no ano passado em comparação com os números de 2020, no auge da crise provocada pela pandemia de coronavírus (covid-19). Agora, o que se teme é que essa tendência seja interrompida pelos desdobramentos da guerra no Leste Europeu.

Afinal, o movimento de contêineres em direção à China, hoje a maior potência comercial do planeta, tem sido menor, bem como menos cargas foram embarcadas a partir do mercado chinês, conforme levantamento do Instituto de Economia Mundial de Kiel, na Alemanha, que monitora o movimento de navios em cem regiões do mundo.

O Instituto previu uma queda de 2,5% para o mês de março nas exportações chinesas. E estimou queda para os países da União Europeia e dos demais integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) tanto nas exportações como importações, em função do aumento dos controles alfandegários que começam a verificar o cumprimento das sanções contra a Rússia. Ou seja, com as rupturas na cadeia de fornecimento de insumos e outros produtos, a recuperação econômica pós-pandemia, fatalmente, sofrerá uma interrupção.

É de se assinalar que, antes da pandemia, setores como o automobilístico, eletroeletrônico, energético, têxtil e agroindustrial estavam em franco crescimento, mas, depois da crise provocada pela pandemia, pelo menos 70% das indústrias brasileiras tiveram impacto negativo em seus negócios, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao final de 2021, a indústria ainda se encontrava 0,9% abaixo do nível pré-pandemia, enquanto o varejo estava 2,3% abaixo do nível de fevereiro de 2020, o que mostra uma evidente perda de fôlego da economia, principalmente no segundo semestre do ano passado.

Mesmo assim, o Ministério da Economia anunciou que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 irá crescer 1,6%, o que contraria a estimativa do mercado financeiro que, segundo o Boletim Focus, prevê um crescimento três vezes menor, ou seja, de apenas 0,49%, em função da guerra entre Rússia e Ucrânia. Em quem acreditar? Como se vê, no mundo de hoje, tudo é possível, até a hecatombe nuclear, dependendo da estultice de alguns líderes mundiais. Mas, superada essa crise, o que se espera é que os possíveis vencedores tratem de organizar um mundo mais justo. Já seria um bom recomeço.

*Liana Lourenço Martinelli

Escrito por:

Opinião

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