Como a disputa entre Rússia e Ucrânia impacta o cenário logístico internacional e brasileiro

O Brasil depende de produtos que vêm de fora para seu ciclo produtivo, principalmente no setor agrícola. Essencial para o agronegócio brasileiro, o fertilizante é responsável por tornar o solo mais nutritivo. Com esse cenário, o Brasil é o quarto país que mais importa fertilizantes ficando atrás de China, Índia e Estados Unidos. Cerca de 85% dos fertilizantes utilizados aqui são importados, aproximadamente 40 toneladas. A soja é a principal semente que utiliza esse produto, seguida pelo milho, cana de açúcar e algodão.

Se por um lado, a demanda por fertilizantes cresce, junto com as safras recorde, por outro, as importações de fertilizantes vindas da Rússia dobraram no último ano, chegando a US$ 3,5 bilhões em 2021. A Rússia é nossa maior fornecedora e por isso dependemos dela, o que nos leva a um olhar mais delicado para o confronto entre Rússia e Ucrânia. "A Rússia atualmente é o maior exportador de NPK mundial", observa Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da consultoria StoneX. NPK é a sigla para nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), os três macronutrientes mais importantes para a nutrição das plantas. No ano passado, o principal produto importado da Rússia foi o cloreto de potássio para uso como fertilizante, somando mais de um bilhão de dólares.

Nos primeiros cinco meses de 2021, os Estados de Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás foram responsáveis por importar 8,8 milhões de toneladas, volume que corresponde a 67% do total. A Bahia dobrou o volume de importação de fertilizantes no primeiro semestre, indicando um maior investimento por parte dos produtores em suas lavouras, resultado também dos preços favoráveis das principais commodities. Infelizmente o Brasil não possui indústria para produzir fertilizantes e é 100% dependente das importações, por isso o cenário incerto entre Rússia e Ucrânia é preocupante.

Se o comércio com a Rússia for interrompido, como já está acontecendo em alguns países, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirma que o Brasil tem opções para importar fertilizantes, citando como exemplos Irã, Canadá e Marrocos, mas especialistas do setor avaliam que a situação não é tão simples e que a gravidade do cenário varia de insumo a insumo. “Estamos vindo de um contexto difícil, com os impactos e a alta demanda gerada pela pandemia, essa guerra pode causar mais entraves e escassez de oferta, assim como alta dos combustíveis e consequentemente do valor do frete, o que encarece o produto final”, comenta Marcelo Brandão, CEO e fundador da Talura.

Desde o início do conflito, diversos armadores suspenderam a operação de seus navios com a Rússia, como a Hapag- Lloyd, que ofereceu a opção gratuita de mudança de rota e também o cancelamento gratuito de bookings confirmados. A MSC interrompeu novos bookings e afirmou que vai manter apenas navios que levem itens necessários, como alimentos e medicação. O comunicado mais extenso foi da Maersk, que evidencia o quanto o cenário já estava comprometido. A ONE também anunciou que irá parar as operações em portos russos.


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