África ainda não é alvo das exportações brasileiras

Em plena ascensão econômica, continente africano conta com sete dos dez países com maior crescimento de PIB no mundo

Evento realizado pela Thomson Reuters em parceria com a AfroChamber (Câmara de Comércio Afro-Brasileira) discutiu as vantagens e oportunidades de se fazer negócios com a África frente a outros mercados. Entre as principais conclusões do encontro está o fato de que, apesar de estar em plena ascensão econômica, a África ainda não é alvo das exportações brasileiras.

De acordo com os especialistas presentes do evento, a imagem que as empresas brasileiras têm do continente é a mesma de 30 anos atrás. Essa imagem distorcida, na opinião do especialista em Tratados de Livre Comércio da Área de Negócios de Comércio Exterior da Thomson Reuters, Marcos Piacitelli, é o principal problema. “Por anos, a imagem que chegava para nós dos países africanos era de que se tratava de um lugar de pobreza e assistencialismo”, explica. “No entanto, os países que formam o continente passaram por uma transformação que começou há pelo menos 30 anos e hoje se tornaram potências econômicas sólidas, que contemplam a formação de uma classe média com elevado nível de consumo e que contam com uma juventude empreendedora”, analisa.

A estimativa para a economia africana é de um crescimento de 7,7% ao ano entre 2014 e 2019, cerca do dobro da taxa de economias avançadas. O aumento do consumo pela classe média emergente, aliado a uma média de 8% de crescimento anual do PIB do continente, poderá ainda, segundo o especialista adicionar US$ 1,1 biliões ao PIB africano até 2019. “O Brasil é um país que tem forte influência da cultura africana e detém a produção dos principais produtos consumidos pela sua população. Porém, mesmo estando em ascensão econômica, a África ainda não é alvo das exportações brasileiras. Temos uma participação inexpressiva no comércio exterior para esse continente, representando apenas 1,85% das exportações para aquela região”, completa.

Piacitelli explica também que alguns países como Tunísia, Quênia e Nigéria, por exemplo, têm apresentado crescimentos exponenciais. “A Tunísia tem hoje uma economia moderna e uma jovem população altamente educada, que busca cada vez mais mudanças para elevar a economia daquele país. Já o Quênia se tornou o centro econômico do leste africano, assim como a Nigéria que hoje tem o maior PIB do continente”, explica.

Os produtos que lideram as importações no continente africano são os de bens de consumo, seguido por bens de capital, combustível, máquina e eletrônica, além de bens intermediários. Isso só reforça o fato de que as empresas estão perdendo a oportunidade de abastecer um mercado promissor. “Há uma forte demanda para setores de vestuário, alimentos, construção civil e oportunidade de investimentos em segmentos como infraestrutura e saúde na África. O Brasil tem absolutas condições de ser protagonista no continente africano, assim como já acontece com a Europa, a China e os EUA”, declarou Rui Mucaje, Presidente da Afrochamber.

Piacitelli ressalta ainda que o crescimento médio do PIB das seis maiores economias da África entre 2014 e 2017 varia de 7,12% (Ruanda) a 9,70% (Etiópia) e a importância relativa da África no fornecimento de crescimento global tende a aumentar com a desaceleração no crescimento da China, Rússia e Brasil. “Portanto, apesar de ainda enfrentar desafios com baixos níveis de produto per capita interno bruto, desigualdade de renda e instabilidade política em alguns países, o continente africano demonstra um grande potencial de aumento do consumo e, sem dúvida, é uma região que oferece muitas oportunidades ao setor de comércio exterior”, conclui o especialista.


Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.