Precisamos negociar mais?

Reforma estrutural, investimentos, novos acordos e busca por melhores oportunidades são contribuição para potencial retomada do crescimento econômico

“A retomada do crescimento e dos investimentos estrangeiros, necessária para consertar a economia brasileira, passa por reformas estruturais e impopulares no curto prazo. Além do corte nos gastos públicos, o que os empresários esperam são as reformas fiscal, trabalhista, previdenciária, a simplificação da burocracia e o incentivo à produção e ao comércio exterior”.

A opinião é do diretor do Ciesp – Distrital Leste (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Ricardo Martins. Para ele, o caminho correto para a retomada do crescimento, passa não somente por um ajuste emergencial no orçamento, mas também por uma reforma estrutural no gasto, na receita, pela melhoria da gestão e aumento da eficiência do Estado. Porém ações como as citadas dependem da recuperação da confiança e da credibilidade nos gestores.

Tanto que governadores brasileiros já buscam junto a empresários melhores oportunidades de investimentos em outros países, como é o caso das exportações agrícolas, que buscam investimentos externos em Nova York. “O novo momento político-econômico do Brasil exige uma nova postura de empresários e empreendedores. É fundamental ampliarmos os diálogos com potenciais investidores estrangeiros, que poderão - e muito - contribuir com o reequilíbrio de nossa balança comercial”, afirma Luiz Fernando Furlan, chairman of the Board do LIDE e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior.

Para o diretor de Políticas e Estratégia da CNI (Confederação Nacional da Indústria), José Augusto Fernandes, é preciso “mais ativismo" nas negociações internacionais em busca de acordos comerciais no governo do presidente em exercício, Michel Temer (PMDB). "Temos o acordo Mercosul-União Europeia e o acordo com México ainda pendentes. Já um acordo com os Estados Unidos é muito difícil por conta da falta de ambiente político para essa natureza", emendou. 

Terceiro maior exportador agrícola, atrás apenas de Estados Unidos e União Europeia, o Brasil participa, hoje, com apenas 0,6% desse potente mercado comprador, revelando real desequilíbrio na balança de comércio entre os dois países. Surge, agora, um bom momento para corrigir essa distorção.

Para Martins, ao lançar o PNE (Plano Nacional de Exportações), em 2015, o Governo federal estabeleceu metas que consolidam sua disposição de ampliar a participação do País no comércio internacional. “Responsável por mais de 46% das exportações brasileiras, o agronegócio deveria ter espaço de destaque e tratamento prioritário nas negociações que envolvam acesso a mercados com a participação do Brasil e os parceiros do Mercosul”.

Os estados de Mato Grosso e Goiás, por exemplo, são alguns dos que já buscam captação de investimentos, tanto no setor privado quanto no público. “Vivemos em uma estagnação econômica intensa e nossos setores vitais - a educação, saúde e infraestrutura - necessitam de atenção urgentemente”, salienta Marconi Perillo, governador de Goiás, que ainda salienta que o PIB do Estado cresceu dez vezes em apenas 17 anos. “De R$ 17 bilhões em 1998, registramos R$ 170 bilhões em 2016”, comemora.

Apesar do crescimento de 157,3% na corrente de comércio do agronegócio entre Brasil e México, por exemplo, na última década, esse aumento quantificado pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) é ainda inexpressivo tendo em vista que o México representa 0,73% na participação das receitas de exportação do Brasil.

“Esse quadro contradiz os números do setor, mas não revela nenhuma novidade para o segmento mais competitivo e dinâmico da economia nacional. Historicamente, negociadores e representantes do Brasil no exterior não proporcionam a devida e conquistada relevância às exportações agrícolas. Tal fato explica, em parte, a demora no despertar de algumas cadeias agropecuárias para o mercado internacional. Podem ter perdido espaços que, por vocação, deveriam ser preenchidos por alimentos produzidos no Brasil”, ressalta.

Lembrando que o momento agora é de “olhar para o futuro”, ele ainda destaca o envolvimento entre Brasil e Mercosul em importantes processos negociadores, a exemplo do México e a negociação com a União Europeia. (Leia no Guia)

Apesar da disposição de alguns representantes governamentais de avançar nessas negociações “levando o agro junto”, ainda inexiste real entendimento de que é preciso maior veemência na busca por ampliar a inserção das cadeias agropecuárias e agroindustriais no comércio exterior. “O momento é decisivo para a inserção internacional do Brasil no comércio e nas cadeias globais de valor. O setor agropecuário, o mais competitivo da economia brasileira, segue como grande incentivador da abertura de novos e importantes mercados aos produtos brasileiros”, finalizou.

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