Por mais que a indústria nacional avance, a perspectiva de ampliar o mercado consumidor por meio das exportações é uma saída clara e lógica para desenvolver a economia nacional e melhorar o PIB do país, com benefícios para a sua população. O Brasil ocupa uma posição bastante desfavorável no comércio global em relação ao tamanho de sua economia, com perda de posições nos últimos anos. Segundo José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) “o nosso comércio exterior está patinando".

Assim como Castro, os pesquisadores do Euromonitor alertam que as exportações brasileiras precisam se desenvolver, e não apenas com foco nos produtos básicos. Com esta finalidade, o instituto transmitiu, na semana passada, um seminário online O Brasil além das commodities: as oportunidades para o produto brasileiro no mercado mundial de consumo, cuja primeira parte foi publicada na semana passada (Leia no Guia).

Como detectar o mercado consumidor

Sabrina Kinkcle, gerente de Desenvolvimento de Negócios Internacionais do Euromonitor, esclareceu durante o seminário que é necessário avaliar quatro pilares quando se pretende iniciar um processo de exportação: mercado, população, acesso e ambiente de negócios.

Mercado - Segundo a especialista do Euromonitor, é preciso verificar a estabilidade macroeconômica, o tamanho do mercado consumidor, e ter atenção à classe média do país, pois ela traduz as condições de absorção dos produtos. É necessário verificar também o tamanho e a estabilidade, bem como o potencial de crescimento, para avaliar se ele compensa os riscos. No que tange às condições econômicas do país comprador, é preciso também estudar condições de operação para negócios internacionais, fator que Sabrina Kinckle considera o mais importante, especialmente quando se vislumbram mercados emergentes.

População - A população do mercado alvo também traz uma série de indicadores: seu tamanho, seu ritmo de crescimento, estrutura etária e estatísticas demográficas são tão importantes quanto a forma como ela se distribui. Saber de que forma vivem as pessoas, quais são os seus projetos futuros e as projeções demográficas ajuda a detectar quais segmentos oferecem melhores oportunidades. As tendências populacionais também são úteis para ajudar a antecipar fatores externos que influenciam diretamente na operação das empresas, como graus de corrupção e níveis de capital humano.

Acesso - Listadas como terceiro pilar para a construção de um mercado estão as suas condições de acessibilidade, que envolvem infraestrutura, internet, cenário do varejo, além de possíveis parceiros que facilitem a aproximação com o público local. De posse dessas informações, o exportador é capaz de detectar o grau de dificuldade de obter produtos para o mercado, a proximidade do consumidor com o produto e sua propensão a ser sensibilizado por ações de marketing e atividades promocionais. Avaliar detalhes também ajuda, como saber se o cenário do varejo é tradicional ou moderno, para traçar estratégias mais eficazes.

Ambiente - O quarto fator levantado por Sabrina Kinckle refere-se ao ambiente de negócios de uma maneira geral, ou seja: a viabilidade de se realizar operações naquele país, no que diz respeito a regulações e concorrência, igualdade de condições entre investidores nacionais e estrangeiros e legislação em vigor. Mais uma vez, é necessário criar procedimentos para superar a corrupção e desenvolver práticas de negócios que permitam o êxito da iniciativa, com consciência de que, mal feita, essa etapa é capaz de quebrar uma empresa. Fatores ligados ao capital humano também são cruciais, como métodos para recrutar e reter talentos, e desenvolver habilidades junto à forca de trabalho disponível, podem favorecer - ou quebrar - um negócio. Kinckle avisa que, mesmo em países onde as condições são adversas, é possível prosperar, porém uma avaliação estratégica é fundamental.

“Para entrar em um novo mercado é importante estar atento às seguintes questões: como as tendências futuras vão afetar a empresa, quem é o público-alvo e como ele toma decisões de compra”, aconselha a especialista. Sabrina Kinckle ressalta também a importância de manter os olhos no mercado, porém jamais perder de vista os princípios éticos, e conclui com uma frase atribuída ao americano Prof. Dr. Phipip Kotler: “Empresas bem-sucedidas são aquelas capazes de reconhecer e responder de forma lucrativa a tendências e necessidades não atendidas do consumidor”.