Uber e a automação

Quais poderiam ser as intenções da empresa ao adquirir a Otto, especializada em tecnologia de self-driving de caminhões?

A Uber Technologies tem dirigido investimentos e pesquisas na tecnologia de caminhões automatizados sem motorista. “Ao adquirir a empresa especializada em tecnologia aplicada a caminhões Ottomotto, o Uber deixa claras as suas inteções”, noticiou o Wall Street Journal na semana passada.

Ainda segundo a publicação, o acordo de compra, estimado em US$ 680 milhões, promete acelerar a toada da Uber na direção da tecnologia de automação de caminhões para oferecer ao mercado o serviço de veículos autônomos para cargas e passageiros em Pittsburgh.

A passagem para o segmento de caminhões sem motorista em áreas urbanas, no entanto, não parece ser uma ação de impacto imediato, de acordo com a própria Ottomoto, que acredita que as agências reguladoras darão prioridade aos veículos que operam primordialmente em estradas, em detrimento dos que ocupam ruas urbanas de alta densidade.

O recente interesse da Uber na indústria caminhoneira vem em consonância com outras empresas fabricantes de veículos de carga, que também vêm pesquisando tecnologias de automação de suas unidades.

Segundo a mídia Recode, que discute as tendências de mercado, com foco nas startups, a aquisição chocou diversos segmentos do mercado, que avaliam que a Uber e a Ottomotto não sejam exatamente o casamento mais óbvio.

Ao mesmo tempo em que a Uber investe em tecnologia de automação de veículos, mantém o foco centrado na mobilidade de pessoas, alimentos e pequenas encomendas (serviço disponível em Nova York). Além disso, a empresa jamais havia mencionado intenções de entrar no mercado de cargas rodoviárias e tampouco criar uma plataforma de logística para motoristas de caminhão.

Do outro lado, a “Otto” não teria necessidade atualmente de se associar a uma empresa como a Uber. A startup acabou de despontar de uma operação altamente discreta, e possui 91 funcionários. Ela já vinha trabalhando em tecnologia aplicada de automação e testando a versão de self-driving de caminhões nas estradas de São Francisco, na Califórnia.

A colunista Johana Bhuiyan, especializada em transportes e mídia digital, afirma que a aquisição garante às duas companhias uma forma de acelerar o desenvolvimento do transporte automatizado, trazendo-o para a realidade comercial. “O valor principal da Otto está no desenvolvimento da tecnologia de auto-direção, e em ajudar o consumidor a perceber os benefícios do serviço, especialmente em segurança”, diz Bhuiyan. E a indústria caminhoneira é apenas uma das portas de entrada para que o produto da empresa chegue mais rápido ao mercado.

A Ottomotto foi fundada por veteranos do Google (nenhum dos quais com experiência no setor de transportes rodoviários). Por mais que o Google seja amplamente reconhecido como um dos pioneiros na tecnologia de self-driving e por ser o primeiro a testar a tecnologia autônoma em estradas públicas, a empresa ainda não definiu um caminho muito claro até o mercado de fato.

Há portanto, de um lado, a empresa de tecnologia que nunca embarcou. E, de outro, a empresa bem-sucedida que possui recursos, know-how e uma plataforma reconhecidamente eficaz: um caminho bem mais curto para ambas as empresas na direção do mercado.

O co-fundador da Otto, Lior Ron, disse à Recode que a iniciativa “sempre esteve focada na execução”. Segundo ele, existe um problema real por parte da sociedade em relação à segurança nas rodovias. “E como faremos para ganhar escala em um mercado que é a espinha dorsal da economia dos EUA?”, questionou. Ron explica que as negociações com a Uber, desde o princípio, foram sempre baseadas na plena compreensão da necessidade de acelerar três aspectos: “Tecnologia, conhecimento e recursos”.

Enquanto isso, vamos esperar o que vem por aí, o que é praticamente impossível de se prever. E tentar adivinhar qual parcela dessas inovações do mundo virtual vão conseguir chegar ao Brasil, país cujas regulamentações do “mundo concreto” já apresentam tantas particularidades. Leia no Guia a opinião do especialista da Benner sobre tecnologia aplicada à logística.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.